Um novo conceito no trabalho de base ou “ground work”

Como fazer do “ground work”, ou “trabalho de base” uma oportunidade para seu cavalo se divertir enquanto trabalha
* por José Luiz Jorge

Durante muito tempo aqui no Brasil o trabalho de base, aquele que fazemos desmontados, foi subestimado. Depois, foi introduzido pelos que passaram a adotar aquilo que na época se chamou de “Doma racional”, na fase de preparação e iniciação, cabresteamento. Uma vez terminada essa fase e iniciada a doma de cima, pouco se voltava a fazer em termos de trabalho de base.
Com a evolução do conhecimento sobre a natureza dos cavalos, seus padrões de resposta e com a introdução da filosofia de trabalho dos notáveis “horsemens” norte-americanos, aumentou também a nossa percepção da importância do trabalho de base.
A doma racional, que ainda é a mais usada no país, deu boas contribuições à melhoria da qualidade dos cavalos, seja para uso nos esportes ou no lazer e no trabalho. Mas, a filosofia de trabalho que adotamos, o HORSEMANSHIP, estabelece novos marcos nesta relação milenar:
a) o reconhecimento da sua natureza como animal de fuga e de manada, cuja emoção dominante é o medo;
b) ligado a isso, o reconhecimento do seu direito de usar seus instintos de auto- preservação;
c) o estabelecimento de uma relação entre homem e cavalo, do ponto de vista dele;
d) o aumento da nossa sensibilização, a necessidade de aprenderemos a LER o nosso cavalo a cada segundo, de observar os sinais claros que ele emite em sua própria linguagem, a usarmos o que o Borba chama de FEEL- intuição;
e) aprendemos a respeitar o TEMPO de resposta de cada cavalo que é único e diferenciado como eles são. Seja no redondel, seja no trabalho montado o tempo é dele e não nosso, o que nos obriga a trabalhar o esvaziamento de nossa visão caprichosa e autoritária, nos leva à necessidade de merecer liderá-los;
f) a refinar nossa maneira de solicitar ações e respostas, a sermos mais precisos na hora da AÇÃO, reconhecendo que se um cavalo não faz o que lhe foi pedido, isso pode ser também por problemas mais nossos do que dele. Ele pode não ter entendido o que foi pedido, podemos ter adotado uma atitude contraditória, pedindo duas coisas diferentes ao mesmo tempo por erro de postura ou expressão corporal descuidada ou ele não teve tempo de responder.
Nesse cenário de evolução, é claro que o trabalho de base teve sua importância revalorizada.
Nós, no Rancho São Miguel o adotamos diariamente, não apenas no trabalho de iniciação dos potros marchadores que começaram a nascer por aqui. O adotamos dentro de uma escala diária para as éguas de cria, de marcha, e para cavalos de passeio e trilha.
Esse trabalho, aliado ao manejo natural, às rotinas diárias os torna a cada mais compassivos, generosos e cooperadores. O trabalho de base, seja à guia, rédea longa ou em liberdade ajuda desde o aquecimento, nas transições, na associação de comandos de voz aos expressivos comandos do horsemanship no redondel. São repetidos em sessões de 30 a 40 minutos que culminam com a conjunção e acompanhamento.
Mas, com o tempo isso que era simplesmente maravilhoso, como se viu nos livros, acaba ficando enfadonho e rotineiro demais.
Foi então que tive contato com as clínicas de Clinton Anderson e seus programas de treinamento para trilhas.
E fiquei certo de que ele sentia o mesmo e inovou. Criou um chamado “creative ground work” e introduziu com método e segurança uma série de obstáculos divertidos que quebraram o que se tornava o entendiante trabalho de base no redondel.
Entre os ganhos que essa abordagem trazem estão:
1. Melhoria da sintonia fina no trabalho para torná-los mais responsivos, modela a sua atitude e obediência voluntária e desenvolve seus músculos , atleticamente.
2. Termina o tédio e a chateação de rodar para direita e esquerda, a passo, trote e galope. Principalmente os cavalos jovens, naturalmente curiosos passam a gostar das sessões de trabalho de arena que ficaram bem mais interessantes e estimulantes.
3. Reforça sua capacidade de liderança sobre ele, conseqüentemente reforça a confiança dele em você.
4. Fortalece o ele entre ele e você e ele sente que está mais capaz de superar desafios viáveis, com dificuldades crescentes, sem castigo, sem a pressão do trabalho hípico numa fase da vida em que ele precisa consolidar o aprendizado e não se rebelar contra os exercícios. E o melhor de tudo é que com o trabalho de base mais criativo e divertido tanto o horseman quanto o cavalo nem sentem o tempo passar.

Como utilizar o trabalho de base criativo segundo Clinton Anderson

Prepare um percurso avançado para eles fazerem diariamente usando obstáculos naturais, obstáculos que favoreçam situações para o cavalo negociar com você a sua ultrapassagem. Ele tem que investigar, sentir, te seguir e experimentar. São obstáculos que amanhã ou depois, quando ele estiver trabalhando de verdade, ou fazendo um enduro ou uma prova de resistência ou mesmo uma trilha ele poderá encontrar pela frente.
Troncos de diferentes calibres colocados no percursos a distâncias irregulares, tambores deitados, caixas cavadas no solo com ou sem água em pisos não escorregadios, morros artificialmente colocados como os de uma pista de motocross, de curta distância, todos eles colocados dentro ou fora do redondel ou do piquete de trabalho.
Comece sempre conduzindo ele à guia para passar a passo, depois dele poder cheirar, observar, sentir a novidade. Depois e sempre à guia longa, conduza-o no trote, quando então ele já poderá saltar os mesmo ao invés de apenas passar por eles.
Aqui a questão não é para ser confundida com as provas caninas de agility, mas a de construir um espaço de convívio divertido, que introduz o potro no cenário do seu futuro, de um modo leve, como de fato seria se ele tivesse um jardim da infância. Com certeza, em alguns dois ou três anos, você e seu cavalo farão qualquer pista juntos enquanto se divertem e aí os resultados serão duradouros.

* José Luiz Jorge é Horseman e proprietário do Rancho São Miguel e membro do C.H.A. – Certified Horsemanship Association – Autor do Livro Conversando sobre Cavalos.

Algumas chaves para seu Cavalo se manter sempre saudável

Égua de sangue Herdade, mãe aos 21 anos* por José Luiz Jorge

A questão da qualidade de vida e da adoção de um estilo de vida menos sedentário, mais integrado, valorizando a nossa espiritualidade, praticar um hobbie que nos re-programe para sair do estresse e das pressões dos diferentes papéis que exercemos no cotidiano, assim como a busca da nossa evolução profissional e pessoal já tem sido tratada em mídias especializadas.
Isso não se aplica apenas ao ser Humano. O(s) Cavalo(s) que está (ão) sob sua responsabilidade também merecem um manejo que lhes garanta por longos anos, equilibrio fisico e mental e uma vida saudável de acordo com sua Natureza.
A médica veterinária norte americana Karen Hayes sistematizou alguns pontos que acho que devemos observar.
Alguns procedimentos aqui sugeridos valem para cavalos dos 3 aos 25 anos. Isto é, ao longo de toda sua vida útil.
Temos em casa uma égua marchadora registrada no Livro MM-7 (livro de Elite da raça), condição conquistada pelos produtos campeões que gerou ao longo da vida, que está com 22 anos. É a Irai do Itabiju. Ela estava com uma certa claudicação na mão direita, um problema que não estava associado à casco, boleto, tendão, mas ao que parece a um problema muscular mais acima. Fora isso, esbajava vontade e saúde.
Veio para cá para gerar pelo menos um filho e gozar merecidamente de uma aposentadoria justa e alegre.
Outra égua que tive durante uns 7 anos, da raça Mangalarga (paulista), quando eu os criava, era a Cabocla de G, 94 pontos de registro, era das linhas da raiz da raça. Aos 18 esbanjava uma disposição e vontade nas cavalgadas que deixava muito animnal de pista para trás e ninguém dizia ter essa idade.
Entre os criadores de Mangalarga Marchador, éguas das linhas de base da formação da raça tem a tradição de gerar filhos até idades consideradas avançadas por criadores de outras raças.
Os cavalos quando envelhecem podem desenvolver artrites, isso varia de acordo com o uso, o trato, a alimentação que receberam ao longo de sua vida. O uso indiscriminado quando jovens de estimulantes químicos pode se manifestar na vida mais madura. Podem acelerar os processos inflamatórios crônicos e aumentar a dificuldade do organismo de reagir a tratamentos. Isso acontece com atletas humanos também e muitos ídolos tiveram suas carreiras interrompidas por problemas graves em joelhos, tendões.
A medicina veterinária evoluiu para enfrentar essas limitações, há modernos medicamentos que atuam exlcusivamente na área inflamada da articulação, mas em muitos casos o custo de alguns desses medicamentos limita a capacidade de acessarmos essas novidades. Isso também ocorre entre nós.
Então, com consciência de proprietário ou criador responsável, podem ser adotados métodos confirmados cientificamente e que, comprovadamente, irão aumentar a vida saudável e útil dos nossos cavalos. Vamos lá:

1.Rédea curta na luta pela saúde- cuidar de perto dos detalhes, da qualidade do trato oferecido, do tempo de exercício diário, da higiene, do ferrageamento no tempo certo de até 40 dias para casquear, para evitar esforço desnecessário dos tendões
2.Cuidar de oferecer água limpa e fresca à vontade- O ideal é adotar um mecanismo simples nos bebedouros, a instalação de uma bóia pequena, dessas de caixa d’água, sempre que o animal beber entrará água fresca, além de limpar diariamente esses bebedouros. Para melhorar o metabolismo é fundamental oferecer diariamente o sal mineralizado, concentrado adequado ao uso e ao esforço dele, e volumoso fresco, com a quantidade certa de umidade e proteína
3.Pensar em deixar mais tempo fora das baias – Se você é criador isso já deve acontecer porque principalmente no período de um ano e meio depois do desmame, eles correm nos piquetes (potreiros) nos horários de menos sol e após a doma de baixo, fazem exercícios aeróbicos e de musculação diariamente, mas se você é proprietário, mora na cidade grande e vai de vez em quando à cocheira alugada, pense no que pode ser feito para ele passar pelos duas horas do dia solto em algum pasto limpo, ou ser trabalhado e exercitado levemente todos os dias. Além do condicionamento físico, isso melhora demais sua circulação e ajuda a prevenir as artrites na velhice
4.Corte calorias desnecessárias – O cavalo, ao contrário do que alguns pensam não é um pet, é um animal de manada e com características que não se perdem com nossa intervenção. A visão de que cavalo gordo é bonito não procede. O cavalo tem que estar bem nutrido, musculado, bem condicionado, com carne suficiente para tampar as pontas de osso, mas essa carne deve ser músculo e não gordura, não deve estar barrigudo, lento, pesado, que transpira a ponto de espumar ao menor esforço e sim, ágil, interessado, dinâmico.
Ele pode sofrer de doenças decorrentes de alimentação mal balanceada, com mais vitaminas e proteínas do que ele necessita e isso sobrecarrega fígado, rins e outras glândulas. Podem ter inchaço nas bolsas e no boleto, por problemas circulatórios e voc~e está jogando dinheiro fora , junto com o esterco que ele gera porque não apropria os elementos da dieta. Hoje as modernas fábricas preparam diferentes tipos de ração para diferentes graus de utilização.
5.Menos é mais, mas esse mais deve ser o suficiente- Às vezes, você dar menos ração, melhorar a qualidade do volumoso, oferecer uma pasta de alfafa diariamente e cuidar de melhorar o programa de trabalho diário pode render muito mais, em saúde, em beleza e resultados. Siga as recomendações médicas e técnicas de quantidade de concentrado e volumoso de acordo com o peso dele. Não dê mais, nem menos do que o necessário.
6.Faça as verificações regulares de saúde – Se você é criador, ou está pensando em se tornar um, tenha um Veterinário da sua confiança, de preferência especializado em cavalos, não um que se mostre simpático mas que usa seu cavalo para suas apostas pessoais em jogos do tipo certo ou errado na hora do diagnóstico. Procure um que seja indicado por outros criadores, provado nas diferentes situações, ou que, mesmo jovem na profissão ame o que faz e estude muito. Essas consultas regulares podem mostrar aquilo que passou despercebido por Você e pelo tratador. Se você é proprietário e aluga baia, reúna os outros proprietários e pense em contratar um veterinário rachando a conta entre todos para uma consulta bimestral no mínimo, faça os programas de vacina e vermifugação em dia. É mais barato prevenir que curar. Só o ser humano esqueceu isso e por isso sofremos com a medicina curativa dos convênios.
7.Procure ler mais e conhecer melhor o funcionamento do organismo do cavalo
8.Enfim, água à vontade, exercícios regulares e dieta balanceada, cuidados regulares com cascos e ferrageamento e um programa de higiene e prevenção- Essas são as chaves para uma longa vida saudável.

José Luiz Jorge é horseman – proprietário do Rancho São Miguel -membro do CHA – Certified Horsemanship Association -Kentucky -EUA e autor do livro Conversando sobre Cavalos

Como comprar e vender cavalos

Quantas pessoas, por exemplo, compram cavalos com mais de dezoito anos, com problemas crônicos de articulação, não podendo mais ser usados sequer para passeios mais longos, ou então aquele que quer iniciar uma criação e “seu amigo” abusa da sua confiança e lhe vende um garanhão ou até mais de um, criando problemas, ao invés de soluções.
Certa ocasião recebemos uma visita no Rancho de um apaixonado por cavalos, com alguns recursos para investir no inicio de uma criação de Mangalarga, que relatou que seu amigo da Associação lhe havia vendido 5 potros machos inteiros e eles estavam crescendo e ele começava a ter problemas, mas acredita seriamente que estava iniciando sua criação. O pior é que em vez de comprar fêmeas em idade de procriar, ainda pagou um valor acima do mercado nos machos.
Isso para não falarmos de cavalos mal iniciados, cheios de maus hábitos, do tipo “roda e não deixa montar”, “só trabalha por medo se submetido a severas chicotadas”, o que as pessoas de bem não fazem aí adultos e crianças colocam sua segurança em risco, podendo sofrer acidentes e traumas, “cavalos que saem andando assim que você coloca a ponta do pé no estribo”… e por aí vai.
Aqui, vamos tentar apresentar um resumo de cuidados que tem que ser tomados, na avaliação do animal, e que precisam ser seguidos. Muitos já escreveram sobre isso e ainda assim não param de acontecer casos como citamos acima.
Talvez porque um componente que não é racional, não tenha sido considerado: a emoção do comprador. Aquele brilho nos olhos, aquele coração acelerado diante da possibilidade de ter aquele cavalo da cor que você sempre sonhou. É essa emoção que leva, inclusive pessoas experientes a cometer erros.

Quais os fatores iniciais que tem que ser considerados antes de ir ver o animal?

a)Para qual o uso se destina o cavalo. Disso depende a opção pela raça. Exemplo: se você pretende fazer enduro opte pelo árabe, se for para os esportes como tambor, baliza, apartação, as raças são – quarto de milha-appalloosa-paint horse, se for para cavalgadas, passeios- deve-se procurar cavalos como Mangalarga Marchador, ou Mangalarga, para o hipismo clássico, Dressage ou CCE opte pelos Puro Sangue Lusitano, Brasileiro de Hipismo, Anglo-árabe, se for para a lida no campo, provas de rédeas, temos o Crioulo, além dos Mangalargas e do próprio Campolina.
b)Macho ou fêmea – se você não é um criador que já tenha um plantel numeroso de éguas opte por um macho castrado, ou uma égua experiente. Cavalos inteiros ou Garanhões tem uma função biológica: reproduzir. E se você está apenas começando e tem suas 5 a 10 éguas ainda pode comprar doses de semen dos cavalos comprovados com o raçadores. Para passeio, machos castrados experientes e confiáveis é a melhor opção.
c)A idade é importante também. Se o cavaleiro for novo e inexperiente, ou criança, compre um cavalo mais maduro, mais pronto, acima de 8 anos, que tenha sido bem iniciado, goste de pessoas- lembre-se do ditado: cavalo novo para cavaleiro velho; cavalo velho para cavaleiro novo. Evite um potro até 4 anos, ainda emocionalmente instável, recém domado, para uma criança ou um jovem. É o mesmo que mandar duas crianças saírem sozinhas para atravessar São Paulo. Há boas chances de acontecerem imprevistos.
d)Por fim, qual o seu orçamento para a compra e também para uma hospedagem e manutenção adequadas.

Observação Cuidadosa

Na Baia- observar o comportamento do animal, se ele é dócil ao contato, deixa-se encabrestar sem negar a cabeça, se ele se apóia sobre as quatro patas, ou se sempre está com uma poupada, se os boletos (tornozelos) estão secos e sem ovas, sem inchaços, se as orelhas permanecem tranqüilas sem se abaixar para trás, diante da aproximação do visitante, o mesmo com a cauda se ela não se coloca entre as nádegas ou se ele não se abaixa, nem treme, se não ronca ou dá mostras de querer morder, se não tem hábito de morder a porta, ou de engolir ar.

Fora da Baia, sempre de dia

– cavalo colocado em terreno plano, horizontal, sem capa e sem arreios e selas, verificação da identidade, se tiver registro, se a marca alfabética coincide com a do papel, verificação da idade pelos dentes, tocar e pressionar os tendões perto dos boletos, para ver se ele sente dor, se tira a pata protegendo-a, a saúde dos cascos se estão limpos sem mau cheiro nem carcomidos nas beiradas, se sente dor (ver isso apertando a pinça do casco com a turquesa), como ele se equilibra, se as patas não estão desalinhadas, se ele pisa de modo alinhado, ou se pára como as patas na posição “dez para as duas” (as duas viradas para fora) ou viradas para dentro (cambaio), se a sua linha de dorso é reta e não “selada” o que indicaria uma escoliose na coluna.

Fora da Baia, em movimento

– primeiro de tudo, se não manca, e aí deve ser avaliado em terreno duro, não em terreno mais macio como areia… se não bate uma pata na outra, as de trás nas da frente ou uma na outra de lado, em ritmos diferentes, a passo, no trote ou marcha, desmontado e puxado ou montado em linha reta ou em círculos. Se depois de dez a quinze minutos de trabalho ele transpira muito ou espuma demais, (isso indica que ele está fora de forma), se suas passadas são amplas e roladas.

Montado por Você ou pessoa da sua confiança

Prova quase final, se você se sentir confortável, confiante, se ele tiver reações boas aos comandos a um simples toque de rédeas, se aceitar ser montado parado, se sai na mão certa ao seu comando, se pára tranqüilo, sem exigir força, se não “briga” com as embocaduras. Nesse ponto, você pode estar perto de tomar a decisão certa.

Exame Sanitário

No Brasil, um exame é obrigatório para a emissão da GTA (Guia de Transporte de Animais). É o exame sorológico de A.I.E. (Anemia Infecciosa Eqüina) contagiosa e sem cura, de notificação obrigatória com validade de três meses. Mas além desse exame, você deve pedir um hemograma (ver contagem de células – se não há sinais de infecções ou anemia). É essencial a opinião de veterinário especializado em cavalos, da sua confiança. Se for um comprador experiente, a opinião dele é fundamental para validar ou não a compra e se for iniciante, mais ainda, e deve ser feito um exame nos dentes – se não tem pontas – e no palato (céu da boca). Você deve, com apoio do veterinário fazer um conjunto de perguntas sobre saúde do animal, ocorrência ou não de cólicas, recentes, se teve aguamento-laminite, se já foi operado, se engole ar e tudo isso documentado por escrito, anotando na frente dele as declarações do vendedor que podem ser anexadas ao contrato de compra e venda.

Pequenas espertezas e falsificações

– evite olhar cavalo pré-aquecido – há manqüeiras que somem quando ele está “quente”, há problemas reumáticos que podem ser ‘escondidos” com um anti inflamatório, portanto olhe o animal mais de uma vez em horários diferentes na mesma semana. Outra esperteza pode ser a injeção de calmantes leves, para esconder cavalos irritadiços. Cuidado com pastas ou massas (inclusive tipo de funileiro) para camuflar rachaduras nos cascos. Se não há muco grosso e amarelado na cavidade nasal – é normal haver alguma umidade no local, se estiver totalmente seco pode ter sido passada uma esponja para “secar o muco”. Verificar se há cicatrizes (tinturas da cor da pelagem podem escondê-las). Ver o tipo de ferraduras que usa, se elas são mais grossas de um lado do que de outro isso esconde andamento “cambaio”. Conflito entre marcas registradas no documento (se houver registro) e as existentes no cavalo – para não haver troca de documento.

A compra do cavalo é um investimento importante. Pode ser o animal do seu lazer de final de semana, ou mais um cavalo para o sitio ou chácara para quando as crianças vem visitar, mas acima de tudo é uma escolha que o tornará responsável pelo cavalo nas horas boas e ruins. Se não tiver hospedagem própria visita várias opções antes de comprar e levar para lá. Caso voce se arrependa do local, lembre-se que cavalos são animais estáveis e sistemáticos, são animais de manada e de grupo e cada mudança representa um estresse similar ao que os humanos tem numa mudança, ainda mais porque você sabe por que e para onde está se mudando e ele não. As mudanças abaixam a resistencia imunológica e podem surgir crises de babesiose (doença parasitária sanguinea causada pelo carrapato, comum em todo Brasil) isso fará ele perder peso rapidamente e muitos gastos para tratamento quimioterápico).
A compra de cavalos em Leilões deve ser deixada para criadores mais experientes. Há leilões de criadores, que ofertam matrizes ou cavalos que estão sendo descartados e há leilões de cavalos de sela.
Os leilões de criadores demandam contatos antes do leilão com o criador, na fazenda, pesquisas sobre a genética, que sangue você busca, porque ele está vendendo, que produtos o animal vendido deixa na fazenda, o que ele transmite aos filhos em termos de caracteristicas.
O exame do cavalo leiloado deve ser feito seguindo-se as orientações deste artigo, normalmente durante a tarde antes das ofertas quando abrem para o chamado “test-drive”.

Um dos serviços que o Rancho São Miguel oferece é a consultoria para Compra e venda, ou seja, quando você decidir comprar um animal, podemos acompanhá-lo e ajudar nesse roteiro de avaliação.

* José Luiz Jorge é horseman, instrutor filiado ao CHA, proprietário do Rancho São Miguel e autor do Livro Conversando sobre Cavalos da Editora Rígel.

Como os Cavalos aprendem

Os instrutores bem sucedidos sabem como treinar cavalos, partindo do ponto de que cada Cavalo é único, com histórias irrepetíveis e com tempo de resposta particular.
Adquirem este conhecimento pela experimentação e pelo erro, ligados a uma boa percepção, ou tendo bom tempo de treinamento e capacidade de observar.
Possivelmente muitos não sabem a sistematica da aprendizagem equina, mas tem uma aproximação intuitiva. Sabendo a teoria sobre como os cavalos aprendem assegura-se de que o sistema pode ser aplicado a todas as situações do treinamento e isso dá a aqueles que não têm sentido intuitivo de como treinar o cavalo, uma oportunidade de maximizar o seu desenvolvimento.
Além disto, verte uma luz útil contra maus hábitos de instrução que não respeitam o comportamento e a natureza do cavalo.
Os princípios da aprendizagem aplicam-se exatamente a todas as situações de aprendizagem – desde as que se vivem sobre a sela, até na iniciação de potros nunca antes trabalhados.
Descrevo as formas do cavalo aprender e não aprender, e como a aprendizagem pode ser apressada ou dificultada.
Na psicologia comportamental, aprendizagem é definida como uma mudança mais ou menos permanente no comportamento seguida de reforço. Reforço, quer dizer algo semelhante a uma pena ou recompensa, depende se positivo ou negativo e no caso da linguagem do Cavalo, o que reforça nele que ele fez ou está começando a fazer a escolha certa é justamente o alívio da pressão.
O cérebro dos equídeos é maravilhoso e evoluiu para aprender os diferentes tipos de informações de diferentes maneiras. Como já foi descrito anteriormente, o cavalo tem uma fantástica memória ‘fotográfica’ do mundo físico e também das suas respostas para ele, que se manifestam como hábitos intensos, ou respostas automáticas, baseadas em seu instinto de preservação.
Esta memória é mantida por meio de acesso rápido para o armazenamento de longo prazo e está desobstruída pelos efeitos de raciocínio e imaginação, mantendo reações precisas e sempre prontas. É nesse ponto que ele ajuda o Cavaleiro a tomar decisões igualmente claras e precisas no instante exato que devem ser tomadas.
A expressão destas reações é efetuada pelo comportamento instintivo como a resposta de fuga (medo), a unidade de agrupamento social (os cavalos são naturalmente gregários, isto é, vivem em grupo), a unidade hierárquica (ordem de liderança no grupo), a unidade de sexo, fome, sede e a muitos aspectos internos, como saúde, robustez, hormonios e assim por diante.
Quando se trata de ensinar os movimentos do cavalo em cima da sela há um obstáculo importante que muitos cavaleiros são inclinados a ignorar, e que é seu próprio equilíbrio. Nada mais que muitas das práticas na posição correta, irão ensinar a você os pontos mais finos do equilíbrio exato. Um cavalo jovem, como um jovem cavaleiro também, irá aprender maus hábitos, como quebrar ou confundir seu centro de gravidade ou equilíbrio e desembocar em problemas de apoio, além de uma boca rígida após um pescoço rígido fruto das suas tentativas para manter o equilíbrio com as rédeas.
Para evitar isto deve ser constantemente monitorado por alguém qualificado para fazer o trabalho, e os atalhos residem apenas na eficácia do professor. Somente quando o condutor está em equilíbrio pode ele perceber quando o cavalo está em equilíbrio e reforçar correctamente o cavalo quando ele também está em equilíbrio.
O resultado da aprendizagem está no estabelecimento de hábitos, ou respostas instantâneas. Os hábitos existem no cérebro como percursos nervosos e substâncias químicas específicas. Nos primeiros estágios de formação de hábito, estas estruturas são frágeis em se tornam mais sólidos e permanentes com repetição ao longo do tempo. Em geral, parece ter cerca de três a sete repetições consecutivas para começar o processo e mais tempo para começar a se tornar confiável, desde que o cavalo seja adequada e imediatamente reforçado, o que pode se dar prioritariamente na linguagem dele, na forma de alívio da pressão (suavização da mão e da perna), mas há quem reforce com alimentos ou outro reforço primário, como o afago na base do pescoço.
Tanto mais forte o reforço, mais rápida a configuração do hábito. É importante evitar a resposta de medo em todos os momentos de medo é esse um forte reforçamento que habitual e claramente associado à escolha correta dele ajudará a ele se definir rapidamente. Na formação do cavalo, a criação de hábitos pode ser apressada adotando-se programações de formação de três a sete repetições de uma tarefa, em seguida, talvez um passeio por alguns minutos em uma longa rédea, depois de volta para as séries de sete repetições anteriores e assim por diante até que conseguiram, pelo menos, três conjuntos de intervalos de sete para cada tarefa. Por exemplo, se o cavalo se recusa a ceder à perna, (em um ex-cavalo de corrida pode ser um problema comum), em seguida, a idéia é ensinar-lhe para ter a levada correta através de comunicar-se com ele tocando com rédea invertida ao longo de um pólo em um círculo para a direita, (mantendo o pescoço reto e manutenção de ajudas externas de apoio), em seguida, repeti-lo na programação repetitivas acima mencionada, para um e outro sentido de rotação. Tal problema idealmente deve ser resolvido com a ajuda de um treinador qualificado para o problema que geralmente é agravado pela condução desequilíbrada. Em geral, quanto mais frio e menos reativo for o temperamento do cavalo, ligeiramente maior será o número de repetições que são necessárias para qualquer tarefa determinada.
Outro aspecto importante da repetição é o tempo que deve decorrer entre uma repetição para a próxima quase imediatamente.
Quanto mais tempo demorar depois do relaxamento para repetir a série, menos provável será a resposta correta ocorrer de novo. Para dar outro exemplo, no Clássico, um cavalo que se recuse a determinado salto, desde que não atrapalhado pelo Cavaleiro ou Amazona, deve ser chamado para refazer o salto, logo que possível, seguindo-se pelo menos três repetições imediatamente compensadas, para aprender a ser acelerado, para que a tendência a refugar ali naquele ponto seja esquecida e não reforçada.
Quanto mais tempo demorar entre as repetições menos o cavalo aprende com a correção, e quanto mais isso ocorrer, mais o cavalo aprenderá que parar é uma opção que está disponível para ele.
Creio que o ensino do cavalo colocado desta forma é um atributo importante para um cavalo de evento. Para erradicar hábitos, a abordagem correta é evitar a sua expressão. Estas medidas devem ser tomadas para as próximas três vezes, pelo menos, para garantir que a tendência não sobreviva e que o hábito não comece a ser formado. Não serve de nada a tentar resolver o problema após o ponto onde o hábito foi manifestado.
Reforço é uma palavra usada extensivamente na teoria de aprendizagem, e tal como explicado anteriormente, isso significa basicamente, o que aumenta ou diminui a probabilidade do comportamento associado a ele ocorrer novamente.
Reforço é dividido em primário e secundário e positivo e negativo. Um reforço primário é um que age diretamente no instinto do cavalo, tais como alívio, alimentos, de toque, dor. Considerando que reforços secundários são aqueles que são associados com os principais através da aprendizagem, por exemplo. Inflexão de voz, elogios, como ‘bom rapaz’ ou ‘Não’ mais grave. Reforços secundários não tem qualquer poder em si mesmos a menos que o cavalo aprendeu associá-las com o reforço primário. É por isso que mimar cavalos é uma forma humanista e inadequada de recompensar o comportamento em relação a tocar a base do pescoço, o que foi revelado num estudo recente para produzir relaxamento no cavalo mais do que em qualquer outra área.
Tal arranhão na frente da sela é o painel de recompensa certo na ponta dos dedos. Dando ao cavalo algo gosta durante ou apenas após o comportamento desejado é chamado um reforço positivo. Ele se distingue de recompensa pela exatidão do seu calendário. ‘Recompensa’ é um termo impreciso, porque não implica qualquer necessidade de temporização (pessoas recompensam seus milissegundos de cavalos ou número de minutos após o acto!)
Recompensa atrasada não é eficaz em comparação com reforço positivo devido à diferença de tempo, como o cavalo não pode simplesmente fazer a conexão. O resultado útil da recompensa atrasada é no efeito de reforçar as suas obrigações com o cavalo – o que, em si, é perfeitamente desejável. Mas cuidado para não cair na armadilha de pensar que o cavalo vai aprender por meio de uma recompensa atrasada: as guloseimas após um “good workout” (fim de um trabalho bem feito), pode até reforçar os laços entre vocês, mas não servem como uma recompensa para o aprendizado e ele não liga isso ao final do bom trabalho.
As melhores recompensas para o bom trabalho são aquelas dadas durante o trabalho, precisamente no exato instante após a resposta desejada. Uma rédea solta, um alivio da pressão e um bom início dentro de um segundo ou dois da resposta correta são as recompensas mais poderosas disponíveis para o treinador.
A maior parte da formação do cavalo vem sendo realizada através de “reforço do que é negativo”, mas não confunda isso com o castigo; ele não tem nada a ver com o castigo ou violência. “Reforço negativo” é definido como a remoção de algo que o cavalo não gosta (por exemplo, sua pressão de perna) para produzir a resposta desejada (por exemplo rendimento de perna), neste momento que o cavalo está em conformidade.
“Reforço negativo” ocorre durante o comportamento indesejável e não depois dele, deixando de usar exatamente no momento a resposta incorreta termina e começa a resposta correta.
Isso é muito diferente de punição. Na verdade, uma pena-castigo só seria eficaz, se ela ocorrer imediatamente após a resposta incorreta e se ela é usado criteriosamente e uma vez só. Ela não deve ser usado para algo diferente de resistências perigosas. Nunca vamos para o impasse com o cavalo. Lembre-se que ele aprende no alivio da pressão e deve ser sempre convidado a fazer a escolha correta. Para uma escolha errada, desconforto da repetição, mas antes o treinador humilde deve se auto analisar, para saber se não está fazendo pedidos contraditórios.
O resultado da punição retardada é que a resposta correta não será incorporada na memória, e a resposta de medo será sobre o alerta vermelho, dependendo do grau de dor ou insegurança infligida e o medo vão ser seqüenciados em resposta particular.
Castigo serve-se em grande medida para fazer que o carrasco se se sinta melhor, diante da sua incompetência em comandar correta e claramente o cavalo, como estudos mostram que para alguns seres humanos, violência pode reforçar resposta igual e contrária e se isso ocorrer com seu cavalo, você vai perder o embate e comprometer o cavalo.
Você deve criar um padrão comum e repeti-lo da mesma forma e estar certo que a recompensa a cada tentativa de comportamento desejável pelo poder do toque juntamente com as palavras ‘bom rapaz’ para o cavalo etc..são uma poderosa ferramenta. Apesar de sua memória brilhante, seus poderes limitados de conexão significam que você não deve responsabilizar-lhe pelo seu comportamento. As decisões de agir de certa forma pelo cavalo não são feitas por uma abordagem reflexiva como se eles fossem seres humanos, mas em vez disso, são uma representação direta dos percursos neurais mais reforçados no cérebro do cavalo, em sintonia com suas unidades naturais e instintos, como medo, dominância, unidade de curiosidade e assim por diante.
Por esta visão, o cavalo não é responsável por seu comportamento por meio de livre escolha, mas em vez disso, é muito mais uma vítima de suas respostas aprendidas.

Devemos respeitar a Natureza do Cavalo sempre

Dois conceitos básicos dirigem toda a ação de hospedagem e manejo do Cavalo:
“RESPEITAR A NATUREZA DO CAVALO”
“BUSCAR SEMPRE O EQUILÍBRIO FÍSICO E MENTAL DO CAVALO”

Quando se trabalha com cavalos, para se obter o melhor resultado por um longo prazo, devemos seguir os dois conselhos destacados acima.
Para respeitar a natureza do cavalo, buscando sempre o equilíbrio físico e mental, para obtermos algum tipo de resultado seja na criação, no esporte ou no lazer, devemos oferecer condições de vida, alimentares e manejo adequados.
Por sua natureza, o cavalo gosta de liberdade, e a melhor forma de criar ou mantê-lo, é em piquetes ou pastagens; mas isto nem sempre é possível, principalmente nos grandes centros, onde o mantemos em baias, que devem ser adequadas, como veremos mais adiante.

BAIAS
Como queremos ter o cavalo sempre próximo de nós, muitas vezes se torna impossível mantê-lo em piquetes e pastagens, então utilizamo-nos de baias para abrigar o animal.
Aqui, mais ainda, alguns cuidados são importantes de se tomar para tornar a vida do cavalo o mais confortável possível.
Devemos ter cuidados com o tamanho da baia, que deve ter no mínimo 3 x 4 m, sendo ideal 4 x 4. Baias com tamanhos inferiores a 3 x 4, trarão um desconforto muito grande para o animal, o que o levará a um estado de stress que pode comprometer a qualidade de vida e a performance esportiva.
Esta baia deve ser bem ventilada, não exposta a calores excessivos nem a frios intensos ou correntes de ar desagradáveis.
Devemos evitar utilizar telhas de fibro-amianto, exceto se a ventilação for excepcional e o calor não for problema.
O cavalo é um animal muito sociável; ele não gosta de ficar isolado. Para amenizar este problema quando o confinamos a uma baia, devemos fazer com que tenha contato visual com outros cavalos, através de janelas com grades entre as baias e deixando a parte superior das portas das baias sempre abertas (ao menos durante o dia).
No Rancho São Miguel optamos por baias com meias paredes, nas quais eles se veem, se tocam, se cheiram, sentem a paisagem e o ar externo, porque considero uma violência contra o Cavalo as baias “chiques” da maioria dos Haras que conheço, porém fechadas até o teto o que fere a natureza social do Cavalo que, mantido isolado, no escuro, na umidade, sente desconforto, medo e a partir daí passa a ter comportamentos indesejáveis, fruto do estresse do confinamento. Mas, esse regime de baia semi-aberta deve ser acompanhado de um manejo correto com períodos regulares de trabalho externo, liberdade em piquetes parte do tempo.
Os cavalos devem ser escovados e rasqueados diariamente, quando também efetua-se a limpeza de ranilhas e eles são soltos e exercitados em rendondel diariamente. Tomam banho semanalmente ou sempre que acabam de trabalhar e se exercitar se esse trabalho os fez transpirar, com ou sem uso de manta e sela.

Tipos de Baias

1. Alvenaria: É considerado o melhor tipo de baia para cavalos. Mas este tipo de baia se não tiver tamanho e ventilação adequados e contato visual com outros animais, pode ser inadequado ao animal.
2. Galpão: É uma forma mais econômica de se fazer uma baia. Constrói-se um galpão, de madeira ou estrutura metálica, coberta, com paredes laterais (de alvenaria ou madeira). As divisões das baias podem ser de alvenaria, madeira ou mesmo com barras de ferro ou madeira, apenas para dividir o espaço entre os animais. São bem ventiladas e com ótimo contato visual entre animais.
3. Madeira: É um tipo de baia bastante rústica, mas barata e que pode ser muito bem utilizada desde que respeitadas as condições básicas de conforto. Pode ser de tábuas, réguas ou mesmo de costaneiras de eucaliptos. Exige uma manutenção maior, pois o cavalo muita vezes fica roendo as tábuas, se permanecer muito tempo confinado.
4. Individuais: São baias para apenas um cavalo. São utilizadas somente para alimentar os animais. Muito importante em propriedades com muitos cavalos, o que facilita o manejo, pois se pode alimentar muitos animais de uma vez. Deve ter um tamanho adequado para o porte do animal a que se deseja alimentar.
5. Baias Ruins: Devemos atentar para o conforto do animal nas baias, e não deixá-los em qualquer cobertura fechada, escura ou úmida, para que não tenhamos problemas de manejo e saúde com o animal.

COCHO PARA ALIMENTAÇÃO
Pode ser de alvenaria, fibra ou madeira.
Deve estar a uma altura baixa para facilitar o cavalo de se alimentar (lembre-se que o cavalo pasteja no chão, então ele não deve levantar a cabeça para comer, mas sim abaixar), não deve ter cantos para facilitar a limpeza e não acumular alimento.
Lembre-se sempre que ao oferecer uma nova refeição (ração ou capim picado) para o cavalo, devemos retirar todo o vestígio de alimento que porventura possa ter no cocho.
LOCAL PARA FENO
Pode ser uma manjedoura (ferro ou madeira), rede, ou mesmo no chão. O importante é que seja a uma altura baixa, assim como no cocho para ração ou capim. Redes dependuradas ou cochos altos acarretam uma inversão na musculatura do pescoço, afinal, na natureza o cavalo pasteja rente ao chão.
BEBEDOURO
Sempre dentro de uma baia deve ter água disponível para o cavalo.
Pode ser de alvenaria, fibra, um balde plástico ou mesmo uma banheira antiga.
Pode ser bebedouro automático, com bóia, manual, onde devemos sempre estar atentos para que não falte água para o cavalo, pois suas necessidades são muito elevadas, entre 25 até 70 litros por dia, no caso de éguas prenhes ou cavalos em trabalho muito intenso.
Devemos limpar periodicamente, pelo menos duas vezes por semana, para que a água esteja sempre limpa.
COCHO PARA SAL MINERAL
Um pequeno cocho, de fibra, alvenaria ou madeira, deve ser colocado na baia para que se possa deixar disponível, o dia todo, sal mineral de boa qualidade, específico para eqüinos (as necessidades de minerais são diferentes entre bovinos e eqüinos; além disso, muitos minerais para bovinos possuem promotores de crescimento que são altamente tóxicos para os cavalos).
CAMA
Item muito importante para dar maior conforto para o animal.
A cama deve ser limpa diariamente, retirando-se as fezes e a parte da cama úmida pela urina, substituindo-a totalmente sempre que necessário (ao menos a cada 15 dias).
Há vários tipos de cama:

1. Maravalha: São raspas de madeira, muito utilizadas para os cavalos. Absorvem muito bem a urina sendo de fácil manejo quanto à limpeza. Nem sempre é possível encontrar maravalha à vontade, mas é uma das melhores camas para cavalo. Uma alternativa pode ser a aquisição de maravalha em fardo, o que facilita o armazenamento do produto, mas não é de fácil aquisição.
2. Pó de Serra: É o resíduo da moagem da madeira. Pode ser uma alternativa. Cuidados apenas com Cavalos sensíveis ao pó, para não causar alergias e além disso podem causar doenças respiratórias, não sendo por isso, recomendadas.
3. Palha de Feno: É muito comum a utilização de feno de gramíneas, que não está apto à alimentação, como cama para as baias. Normalmente são fenos que se molharam, o que provoca o aparecimento de fungos. Devemos sempre abrir estes fardos de feno ao sol, para diminuir o risco de alergias nos animais.
4. Areia: Muito utilizada em algumas regiões. Deve ser feita com uma excelente drenagem pois, caso contrário, ficará muito úmida, causando desconforto ao animal.
5. Borracha: É um tipo moderno de cama. São placas de borracha antiderrapante. Traz um inconveniente, pois não absorve a urina, deixando um cheiro desagradável de uréia no ambiente. Para se utilizar este tipo de cama devemos lavar diariamente a baia.
6. Palha de Arroz: é um material excelente porque não tem pó, como a serragem, é ecologicamente correto porque na esterqueira facilita a decomposição do composto orgânico, não depende de corte de árvores, trata-se da reutilização de produto dispensado pela indústria do arroz e economicamente é muito mais acessível. Há quem diga, ah.. mas o cavalo pode comer a cama, e não é bem assim, se algum cavalo tiver tendência á coprofagia (comer fezes) ou estresse de baia poderia acontecer, mas basta uma borrifada para apenas umidificar com uma solução de água com creolina 1:25 que esse risco acaba.

DEPÓSITOS
É de fundamental importância para o bem estar e saúde do cavalo ter na propriedade local adequado para armazenar os alimentos e acessórios do cavalo.

Depósito de Feno
Deve ser em local de fácil acesso, bem ventilado, protegido do sol direto e da chuva.
Pode-se otimizar as instalações fazendo-se um mezanino acima das baias para se armazenar o feno.
Se for um depósito ao nível do chão, devemos armazená-lo em cima de estrados, ao menos a 20 cm do solo.
Lembre-se que o feno, bem armazenado, pode durar 06 meses, com muito pouca perda de suas qualidade nutritivas.
O cuidado deve ser quando o feno de baixa qualidade umedeceu e secou e ai cria mofo composto por toxinas e nesse caso ele fica enegrecido e deve ser dispensado para a esterqueira.

Depósito de Ração
Deve ser um local ventilado, com estrados a 20 cm do solo, onde a ração deve ser empilhada ao menos a 10 cm das paredes, protegido do sol direto e da chuva, limpo diariamente com sério controle de roedores para prevenir zoonoses graves.

Quarto de Selas e Acessórios

Os acessórios dos cavalos (selas, arreios, mantas e cabeçadas) devem ser bem armazenados para que não sejam deformados, estejam sempre limpos, livres de mofo e ser de qualidade profissional , causando as inaceitáveis pisaduras, para não machucar o animal no momento de sua utilização e prejudicar o desempenho do cavalo ou alterar o seu comportamento, você pode comparar o desconforto ou dor, se você usasse uma roupa menor, ou suada e seca ou ainda com uma simples etiqueta te espetando. Com o cavalo se passa o mesmo.
A limpeza e higiene do equipamento é essencial, e você deve periodicamente banhar o couro com óleo de mocotó ou amêndoas para ele estar sempre amaciado.
Evite as velhas barrigueiras de linha ou cordoalha, usadas na roça, dê preferencia a barrigueiras de neo prene ou lã que não irão beliscar a pele do Cavalo quando apertadas.
É importante que cada cavalo tenha sua manta individual, evite usar a mesma em diferentes animais, assim com as embocaduras, que cada cavalo deve ter a sua própria.

Farmácia
Uma farmácia, com um mínimo de medicamentos para os primeiros socorros, deve estar sempre disponível. O ideal é conversar com um Médico Veterinário para saber quais são estes medicamentos de primeiros socorros, para higiene e assepsia de machucados, pomadas para contusões musculares ou entorses, seringas, soro fisiológico e antiofídico, produtos para cascos, analgésico e anti-inflamatórios, antibióticos, seringas e agulhas, equipos para soro, entre outros.

Cuidados com os dentes

Hoje sabemos mais sobre a natureza, comportamento e fisiologia do Cavalo. Muitos problemas até comportamentais tem sua origem em problemas dentários. Seja a presença do dente de lobo, ou “mesas dentárias” irregulares, assim como no caso dos potros trocas tardias da capa dos primeiros dentes trocadas aos dois anos e meio em média, ou ainda as terríveis pontas de dentes que machucam a boca, fazem o cavalo perder peso, exigem cuidado dentário no mínimo anual por parte de veterinários especializados.
Aqui recebemos para trabalhar e reabilitar Cavalos e algumas vezes a queixa era de que colocada a embocadura o cavalo a ter a rédea acionada levantava a cabeça demais, se defendendo, ou ainda empinavam e derrubavam o cavaleiro. Quando examinados e eliminadas outras causas decorrentes de uma doma mal feita, chegamos à constatação de que o cavalo tinha um dente de lobo a ser extraído ou pontas de dente.

Manejo dos resíduos de eqüinos confinados, visando o controle biológico de moscas

Hoje, mais do que nunca, se evidenciam os cuidados que o homem deve ter com as questões de meio ambiente. Um dos itens ligados a este tema e que vem ganhando a cada dia mais espaço, é o destino a ser dado aos sub-produtos ou resíduos nos diferentes tipos de atividades, quer seja de produção ou consumo, podendo-se encontrar inúmeros exemplos atuais para ilustrar este fato.

Nas atividades ligadas ao cavalo, seja em centros de treinamento, lazer ou reprodutivos, temos como o principal sub-produto, os resíduos oriundos da estabulação (cama, fezes e urina). Estes, representam um importante composto orgânico que deve ser adeqüadamente manejado antes de ser reintroduzido ao meio ambiente.

Fazendo-se uma rápida reflexão, verificamos que este sub-produto, na maioria das vezes, não recebe a atenção que deveria, sendo normalmente depositado a campo ou em instalações que servem simplesmente de depósito diário ou até a sua retirada. Em contrapartida, as conseqüências negativas ligadas a ele palpitam no dia a dia se evidenciando em custos no controle de doenças parasitárias, perda de rendimento dos animais pelo estresse que é submetido, além de outras questões relacionadas à saúde do eqüino e à saúde pública, oriundas da proliferação demasiada das moscas que geram um grande desconforto pela presença das mesmas nas baias, corredores, casas, restaurantes e demais instalações internas e mesmo vizinhas ao local onde os eqüinos encontram-se alojados. Esta situação se agrava nas regiões ou épocas de clima quente e úmido, condições ideais para o desenvolvimento das espécies Musca domestica (mosca doméstica) e Stomoxys calcitrans (moscas dos estábulos), que utilizam o resíduo animal como substrato básico de postura e desenvolvimento da fase larval do ciclo evolutivo.

O controle destes dípteros indesejáveis, na maioria das situações, se faz com a utilização de produtos inseticidas, que atuam como larvicidas ou adulticidas e representam um custo fixo para o controle e que por vezes não é alcançado. Por outro lado, os parasitos gastro-intestinais têm plenas condições de completar o ciclo evolutivo, uma vez que o esterco não sofra nenhum tipo de procedimento sanitário.

O objetivo desta publicação é alertar os amigos do cavalo para a necessidade de adotar uma postura preventiva e definitiva no controle de moscas nos centros ligados à atividades hípicas, visando um melhor controle dos mesmos, a fim de evitar transtornos sociais, econômicos e no rendimento dos eqüinos, uma vez que está metodologia, depois de implantada resolve definitivamente a questão.

A medida mais importante para que se obtenha um bom controle sanitário sobre o resíduo eqüino, tem como base o recolhimento integral do resíduo produzido para uma instalação onde o mesmo possa ser exposto ao processo de fermentação aeróbica, monitorado. Embora a instalação utilizada para o manejo sanitário seja fisicamente semelhante às chamadas “estrumeiras”, deve-se lembrar que o resultado é bastante diferente. Basta verificar que muitos centros hípicos que utilizam simples depósitos de resíduos, convivem com um problema constante de tentar eliminar o excessivo número de moscas existentes, uma vez que estas encontram nestes depósitos, condições ideais de concluir o ciclo evolutivo sem obstáculos. Para transformar estes resultados, detalhes da construção fazem a diferença.

Processo de decomposição dos resíduos

Por tratar-se de resíduo sólido, em função do sistema utilizado na estabulação dos eqüinos, compreende-se como tal, a mistura do esterco e urina com a cama que varia regionalmente, dependendo da disponibilidade, da maravalha à casca de arroz ou palhas de origem diversa. Esta interação do esterco com a cama, é importante para que haja no composto uma estrutura física e química adequada, permitindo um bom processo de decomposição, efetuado pelos microorganismos que se encontram normalmente no trato digestivo dos eqüinos. Este processo de decomposição do material orgânico pode ser aeróbico ou anaeróbico dependendo da presença ou não de oxigênio. Em ambos os casos, ocorre a decomposição dos hidratos de carbono e das proteínas como segue:

Processo
Substrato
Produto Final
Aeróbico Fermentação
Hidratos de Carbono
CO2, H2O e calor (até 80 C)
Putrefação
Proteínas
CO2, Amônia e alteração do pH
Anaeróbico Fermentação
Hidratos de Carbono
CO2, H2S e metano
Putrefação
Proteínas
Aminas incompletas (mau cheiro)

Como pode-se observar na tabela acima, do processo aeróbico resultam alterações de temperatura e pH que são fundamentais para o controle sanitário do resíduo. Para que se consiga um processo de fermentação aeróbica adeqüado, e com isto uma elevação significativa da temperatura pela degradação bacteriana dos hidratos de carbono, é necessário que sejam observados alguns aspectos como:

– relação da quantidade de cama e esterco;
– pouca compactação no composto;
– reciclagem do líquido resultante da biodegradação (chorúmen), dependendo das alterações obtidas na temperatura do composto.

Com isto, consegue-se expor o resíduo recolhido a uma variação de temperatura que pode chegar a 800 C que, juntamente com a alteração do pH, irá inviabilizar os ovos e larvas dos parasitos em questão. Na minha experiência, em diferentes trabalhos em andamento, pude verificar que as referidas alterações de temperatura e pH, chegam a tornar inviável a germinação de sementes de invasoras (plantas daninhas) quando do uso de casca de arroz. Usemos como exemplo o ciclo evolutivo da mosca doméstica:

Ciclo evolutivo da mosca doméstica:

A mosca doméstica apresenta metamorfose completa, passando por quatro estágios de desenvolvimento bem definidos: ovo, larva, pupa e adulto. Os ovos, pequenas estruturas brancas e brilhantes são depositados usualmente no esterco dos animais domésticos em locais escuros e protegidos do sol. Cada fêmea adulta pode depositar até 120 ovos por postura, podendo haver seis posturas durante sua vida reprodutiva. Após a eclosão dos ovos, que varia de 8 a 24 hs, as larvas se desenvolvem no material orgânico sob condições ideais num período de 3 a 7 dias. Após este período, as larvas migram, buscando local seco para a fase de pupa que dura de alguns dias a várias semanas, conforme as condições de clima. Dependendo do desenvolvimento larval, será o tamanho do adulto, que eclode após a fase de metamorfose na pupa. O tempo médio de vida de uma fêmea adulta, varia de 2 a 10 semanas dependendo das condições climáticas e o ciclo completo, de ovo a ovo, pode completar-se em 8 dias.

Da mesma forma, a mosca dos estábulos apresenta um ciclo evolutivo com quatro fases de desenvolvimento, ocorrendo a postura de ovos em restos de ração umedecida e fermentada, além de esterco misturado na palha e alfafa. Diferem por apresentar aparelho bucal picador e sugar o sangue de eqüinos. Com isto, causam o estresse do animal pela ação mecânica e perda de sangue, e redução do peso e performance esportiva.

Participam ainda na transmissão de algumas doenças infecto-contagiosas como anemia infecciosa eqüina e algumas tripanossomoses como o mal das cadeiras causada pelo Trypanossoma evansi, existente principalmente na região central e norte do Brasil.

Com relação aos parasitos gastro-intestinais, cabe lembrar que todos são eliminados via fezes na forma de ovo ou larva, onde vão chegar a fase infectante após período que varia conforme a espécie do parasito. O Gasterófilos, por sua vez, cochecido como berne do estômago, também é eliminado nas fezes na forma de larva, e a partir daí busca um local seco para pupar e transformar-se na mosca adulta e reinfectar o cavalo.

Todas as espécies citadas acima, ao serem expostas as variações de temperatura obtidas no processo de fermentação aeróbica por tempo prolongado, serão eliminadas, interrompendo a evolução natural do ciclo evolutivo.

Para facilitar a limpeza das instalações e recolhimento dos mesmos, o piso das baias, corredores e imediações deve ser construído de forma a facilitar a limpeza e evitar o acúmulo prolongado de cama úmida, esterco ou mesmo ração. Sabendo-se que uma mosca adulta pode produzir até 120 ovos por postura, fica simples o entendimento que estes detalhes fazem muita diferença no resultado final. Abaixo estão ilustrados alguns dos parasitos que se desenvolvem junto ao esterco dos eqüinos, juntamente com os possíveis danos causados:

Agentes
Produto Final
Mosca doméstica Transtornos severos na higieneVetor de doenças ligadas à saúde pública Intenso desconforto social Hospedeiro intermediário do Habronema (esponja de verão)
Mosca dos Estábulos Hematófaga: perda de sangue e estresse para o eqüino Transmissão de doenças como AIE e mal das cadeiras
Gasterófilos Parasita do estômago, causando transtornos que variam de cólica a rupturas gástricas
Grandes estrôngilus Diarréia, anemia, perda de apetite, perda de peso, cólica e etc.
Pequenos estrôngilus Diarréia, perda de peso, redução da performance esportiva
Habronema Lesões gástricas, esponja de verão

Os agentes citados acima, desenvolvem, obrigatoriamente, uma fase do ciclo evolutivo nas fezes frescas do eqüino. O aumento de temperatura que ocorre no processo de fermentação aeróbica, na decomposição do esterco fresco, interrompe portanto o desenvolvimento dos mesmos.

Observado os dados contidos acima, verifica-se que realmente o problema das moscas e todos os prejuízos ligados aos parasitos que se utilizam do esterco animal como substrato para o desenvolvimento do seu ciclo evolutivo, pode ser resolvido de forma eficiente e definitiva, bastando para tanto adotar as medidas necessárias para alcançar tais objetivos.


*ATENÇÃO

O autor deste artigo está disponibilizando esta metodologia de baixo custo, por acreditar que seja de muita importância para aqueles que convivem com animais. Para os interessados, favor entrar em contato pelo e-mail do autor jicanto@pro.via-rs.com.br, ou pelos telefones (55) 223-3705; (55) 9996-5205.

Autor: João Ignácio do Canto – CRMV 4193 – RS