As linhas de base da formação do Mangalarga Marchador

Reproduzimos aqui, um artigo memorável elaborado a partir de uma carta do Núcleo Sul de Minhas da ABCCMM para a diretoria da Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador. No caso da nossa decisão anos atrás de deixar uma criação de Cavalo Mangalarga e passar para o Mangalarga Marchador,  justamente esse texto serviu como base para tomada de decisão das primeiras compras de matrizes. Com base nas indicações históricas aqui relatadas saimos a campo visitando fazendas e criadores e adquirimos pelo menos uma égua de cada linha de base. Boa Leitura!

A formação das famílias sul-mineiras a partir das famosas Ilhoas, que por sua vez deram início à seleção de animais, entre os quais o que viria a ser o Mangalarga Marchador, tem seqüência com os descendentes de Helena Maria do Espírito Santo, que se casara com João Francisco, iniciando assim, a família Junqueira. Deste casamento, nasceram vários filhos, dos quais sete chegaram à idade adulta.

Casamentos foram se realizando. Novas famílias se formaram, já então com outros nomes aduzidos àquele inicial, mas todas descendentes de Helena Maria do Espírito Santo.

Todos fazendeiros. Todos eram aficcionados das caçadas ao veado. Todos criavam cavalos para as lides do dia-a-dia e para seu lazer predileto. Então, alguns grupos se destacaram no mister de criar cavalos. São as LINHAGENS DE BASE DA RAÇA.

Posteriormente, outros fazendeiros desenvolveram criatórios, dentro do mesmo espírito dos precursores, formando novas linhagens. São as de TRADIÇÃO.

Alguns, no correr dos anos, pararam. Mas a influência de seus animais se fez e faz sentir até hoje no Mangalarga Marchador. São as LINHAGENS EXTINTAS.

Em linhagens de BASE citam-se: –

Favacho, Campo Alegre, Traituba, Narciso, Campo Lindo e Angahy.
 
 

 

FAVACHO: Dos vários filhos de João Francisco e Helena Maria, o mais velho foi João Francisco Junqueira Filho, que se instalou na Fazenda do Favacho. Do seu casamento com Maria Inácia do Espírito Santo Ferreira, nasceram 8 filhos. Deles, destacou-se José Frausino nascido em 1805, que ficou morando na Favacho após a morte do pai.
A partir de João Francisco Filho foi iniciada a seleção de cavalos, dando-se sempre ênfase na seleção do animal bom de sela, cômodo, mas ligeiro, cavalos “prontos”.
Do Favacho eram os reprodutores: Fortuna I, Fortuna II e Fortuna III. Este foi levado para o estado de São Paulo, depois de ter servido por alguns anos no plantel do Favacho. Em São Paulo, nasceram os Fortuna IV e V, tendo voltado para o Favacho um descendente deles, o Armistício, que foi pai de Candidato, cavalo de imensa importância no criatório sul-mineiro em geral.

Dos Fortunas também descende Colorado, de capital importância no criatório do Mangalarga Paulista. Reprodutores que tiveram influência na tropa do Favacho, no correr dos anos: Plutão, Canadá, Duque, Calçado, Manco, Trovão, Montenegro, Fla-Flu, Jambo, Gesso, Albatroz, além dos já citados Armistício e Candidato.

CAMPO ALEGRE: Fazenda de Gabriel Francisco Junqueira, depois Barão de Alfenas. Gabriel era filho do patriarca da família, João Francisco. Nasceu em 1782, na Campo Alegre, onde continuou morando. Casou-se com Ignácia Constança de Andrade e tiveram 10 filhos. Dentre eles, dois se destacaram na criação de cavalos: Gabriel Junqueira, chamado Chiquinho do Cafundó, de quem descendem os proprietários da fazenda Tabatinga, e Antônio Gabriel Junqueira, da Fazenda Narciso, onde também se criaram famosos reprodutores da raça.
A Gabriel Francisco Junqueira é creditado o mérito de ter criado um tipo peculiar de cavalos, assim como a fixação do andamento marchado, tudo a partir de cruzamentos feitos de seus animais com um garanhão que lhe fora presenteado pelo Imperador do Brasil.

TRAITUBA: Contruída em 1831. Seu primeiro proprietário foi João Pedro Junqueira, que foi pai de João Pedro Diniz Junqueira. Uma filha deste casou-se com José Frausino Fortes Junqueira, e a partir daí a criação de cavalos tomou vulto na fazenda. Tropa muito semelhante em tipo e aptidões à do Favacho com ênfase para as qualidades funcionais do cavalo.
Garanhões que influenciaram a tropa: Pégaso, Canário, Glicério, Armistício, Rádio, Rádio II, Bibelô, Beduíno, Candidato e Sátiro, este tendo ido para a fazenda do Angahy, onde exerceu marcante influência.

NARCISO: Criatório já extinto. Entretanto, até hoje – e sempre será assim- seus animais têm marcante influência na raça Mangalarga Marchador. Era de propriedade de Antônio Gabriel Junqueira, filho do Barão de Alfenas. Quase todas as tropas daquela época, foram beneficiadas pelos reprodutores da Narciso, destacando-se entre eles: Abismo, Trovador, Pretino, Primeiro, Mussolino e The Money.

CAMPO LINDO: Do casamento de João Francisco Junqueira Filho, do Favacho, com Maria Inácia do Espírito Santo Ferreira, nasceram oito filhos. Destes, um era José Frausino. De seu casamento com Ignácia Carolina Fortes da Silva, nasceram sete filhos. Um deles era João Bráulio, iniciador do criatório da fazenda Campo Lindo.
João Báulio era grande conhecedor de cavalos, a par de ter sido excelente cavaleiro. Pelo seu alto grau de exigência quanto às suas montarias, João Bráulio conseguiu formar uma tropa de grande refinamento e expressão racil, sem se descuidar das qualidades funcionais. Embora seus descendentes – também notáveis cavaleiros – tenham anos depois passado a registrar os animais na Associação do Mangalarga de São Paulo, até hoje seus animais têm grande importância no Mangalarga Marchador.
Garanhões que se destacaram: The Money, que foi pai de Bellini, este de grande influência na tropa da Fazenda e no Mangalarga Marchador em geral, Farol, Rio Negro, Clemenceau I e II, Ouro Preto JF, Candidato, V-8 JF, Sargento e Diamante.

ANGAHY: Construída por volta de 1782, por José Garcia Duarte, bisavô de Cristiano dos Reis Meirelles, o iniciador do criatório de cavalos no Angahy.
Em 1940 assumiu a direção o filho de Cristiano, Adeodato, grande conhecedor de cavalos. Em 1959, por morte de Adeodato, a direção passou para seus filhos.
Cavalos que influenciaram na formação e continuidade da tropa: Bônus, Mozart, Mineiro, V-8 JF, Miron, este filho de Sátiro, cavalo da Traituba, de fundamental importância no Angahy, além de Salmon, Veto e Yankee. Foi do Angahy, um dos mais célebres reprodutores da raça, o Caxias I, nascido na Fazenda Luiziania, em Leopoldina. Era também do Angahy o garanhão de nome Angahy, registrado sob o número 1 na associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador.

Correspondência recebida do Núcleo do Sul de Minas dos criadores do cavalo Mangalarga Marchador em março de 1988.

Morfologia: a chave da funcionalidade

Muitas vezes, aos olhos do criador iniciante ou do proprietário de um cavalo, as chamadas provas de Morfologia, (quando o cavalo é puxado a passo, parado e na marcha, para análise dos Juízes de Pista), tratam apenas de qualificar o cavalo do ponto de vista da sua beleza aparente.

Os que já tem um pouco mais de tempo na atividade já conseguem entender que os Juízes de morfologia, qualificadores do exemplar no “Stud Book” da raça, quando observam e julgam um animal, falam de um outro tipo de beleza,  a chamada conformação zootécnica. Essa é focada essencialmente na funcionalidade decorrente de aprumos, linhas, ângulos, estrutura óssea, muscular – sempre analisadas do ponto de vista do padrão racial.

Entender para que servem esses julgamentos pode ser útil para o criador iniciante não perder tempo e recursos em investimentos equivocados,  e para o proprietário de um animal de lazer, de sela, para si ou para a família, é fundamental na avaliação do animal a ser adquirido, por sua relação com o conforto para o cavaleiro e regularidade do andamento.

Ao analisar um eqüino seria bom se pudéssemos imaginar que os vemos com uma visão de raio X, capaz de observar por baixo da pele dele, seus músculos e ossos, suas articulações e alavancas, nos ensina o  árbitro nacional da ABCCMM, José Ferraz. Aliás este artigo é baseado no conteúdo do Curso de Marcha ministrado por ele, que ajudou a produzir do DVD sobre padrão racial do cavalo Mangalarga Marchador. As imagens tiveram sua divulgação autorizada pela Associação em 2010.

Ao observarmos as  linhas de aprumos, traçamos imaginariamente uma primeira linha que nasce da articulação da ponta da espádua e morre 10 cm a frente da pinça do casco.

Uma segunda linha nasce no centro da estrutura da espádua e morre “cortando o caso” no centro. A terceira linha parte do centro da articulação úmero –radial (ponta do codilho) e desce morrendo atrás do talão do casco.

Quando olhamos o cavalo de lado e estas linhas não estão nos locais definidos, e temos a visão da mão “atrasada” para dentro da massa corporal, o cavalo é chamado de “sobre-si”. Quando as mãos estão adiantadas quando em repouso, o cavalo está acampado. Os dois defeitos tem relação direta com o resultado da marcha do animal. Essas características são genéticas e é grande a probabilidade delas serem transmitidas para a cria.

Um animal com estas características pode inclusive marchar bem, por compensações que ele desenvolve, mas não é recomendável sua utilização para fins de reprodução.

Diferentes fatores concorrem para o resultado da qualidade da marcha apresentada pelo animal. A morfologia em primeiro lugar, os tipos de embocaduras utilizadas porque elas alteram a colocação da cabeça e a flexão da musculatura da nuca e pescoço, o nível de equitação do cavaleiro, a alimentação desde os primeiros anos e o comportamento do animal.

Os aspectos decorrentes da morfologia são fundamentais porque eles têm relação direta com o apoio e equilíbrio do animal em movimento. Falamos do contato casco-solo e da sua manutenção total ou parcial.

Ao tratar de apoio podemos resumir, a grosso modo, que existem dois tipos com as suas gradações. O apoio pode ser diagonal, quando bípedes diagonais tocam o solo ao mesmo tempo. É uma posição natural no andamento dos eqüinos e dá a eles equilíbrio no movimento.

O outro tipo é o apoio lateral (posição de desequilíbrio) quando bípedes laterais tocam o solo do mesmo lado ao mesmo tempo. Do ponto de vista de desempenho deve-se evitar animais com apoio lateral pronunciado.

O chamado tríplice apoio  ocorre no andamento marchado quando um casco está suspenso e três tocam o solo.

Os andamentos a passo e marcha são os únicos em que ocorrem oito possibilidades de apoio alternadamente.

Justamente a distribuição do tempo de apoio  e a quantidade de tempo em cada apoio determina a diferença de um tipo de andamento para outro. O tempo em que o cavalo em movimento permanece em cada uma das possibilidades de apoio  dá o chamado diagrama do andamento.

Voltando à importância da morfologia para avaliar a funcionalidade do animal, a posição do conjunto de frente define o tipo de andamento e tempo de apoio.

A qualidade da movimentação dos membros depende das alavancas e articulações

O movimento marchado, pode ser “fotografado”  em 3 fases:

Elevação (flexão) – extensão (apoio) e avanço (projeção ou vôo).

É importante observar na extensão se o cavalo bate primeiro a pinça – amortecendo o impacto sobre a quartela e na seqüência ele parte para nova alavanca. Isso define a qualidade do gesto de marcha, seu rendimento e está subordinado a conformação, angulações, apoios, compensações). A boa angulação de espádua e sua articulação com o braço amortecem o impacto sobre as quartelas.

E são objeto da análise para classificar os diferentes tipos de andamento.

Quando a distribuição do tempo na passada completa é harmonizado entre os 4 membros, identificamos o avanço diagonalizado (marcha batida) ou lateralizado (marcha picada) Os avanços da marcha e a passo são sempre diagonalizados.

No avanço diagonal característico pode acontecer o apoio simultâneo, isto é, quando o cavalo tira ao mesmo tempo dois membros (anterior direito X posterior esquerdo). Isso gera um único som. O cavalo marchador se diferencia neste ponto. Não ocorre o sincronismo exato e ele tira uma das mãos antes do pé. Ocorre a dissociação que é o oposto do simultâneo mencionado anteriormente.Os dois membros tocam o solo em momentos distintos, gerando dois sons. É no andamento marchado que atua a dissociação, quase imperceptível ao olho nu menos treinado, mas claramente identifico por um ouvido atento que capta os sons dos cascos em contato mais constante com o solo.

Por causa da dissociação o tríplice apoio ocorre proporcionando maior conforto ao cavaleiro. Nos cavalos mangalarga marchador, os andamentos tendem da andadura (totalmente lateralizado) que é um adamento balançante e desclassificatório em provas de marcha seguindo em direção aos lateralizados para tríplice apoio (marcha picada- em provas específicas) passando por uma marcha de centro ( cavalo tem um tempo maior no apoio lateral do que no diagonal) evoluindo para o tríplice apoio mais tempo diagonalizado que é a marcha batida

O diagonal simultâneo caracteriza o que se chama de andamento saltado ou  trote que levam o nome de andamento saltado porque ocorrem momentos de suspensão total do eixo corpóreo do cavalo.

Assim resumindo, e até porque o cavalo marchador é antes de tudo um cavalo, são naturais o passo, a marcha (batida ou picada), a andadura tidos como andamentos marchados e os andamentos saltados, o trote e o galope.

O passo é o andamento simétrico a baixa velocidade com apoio alternado dípedes laterais e diagonais intercalado pelo tríplice apoio. Pela baixa velocidade identificamos esses intervalos a olho nu, dos 4 tempos = 4 sons dissociados. Reforço que é a dissociação  que permite  a ocorrência do tríplice apoio e do lateral.  Por isso nas provas de morfologia os árbitros solicitam que os cavalos sejam puxados a passo, momento em que se avalia a simetria do andamento marchado, equilíbrio, qualidade dos aprumos.

Quais são então as características ideais avaliadas?

-A regularidade,

-A elasticidade do movimento,

-A ocorrência da sobre pegada (quando o posterior cobre a pegada do anterior)

-O equilíbrio,

– O avanço diagonal com maior tempo,

-A suave báscula  do pescoço

-A flexibilidade das articulações ( anterior fazendo semi-círculo)

Esses indicadores quando bem definidos a passo e puxado se manifestam com toda sua funcionalidade quando o cavalo montado é colocado na velocidade de marcha, quando em maior velocidade diminui a dissociação.

A marcha então é simétrica, (pode-se fazer um perfeito diagrama do avanço completo dos 4 membros), com a alternância de bípedes diagonais e laterais, intercalado com tríplice apoio.Quando montados, na prova de marcha são avaliados também o gesto de marcha, a comodidade e o comportamento, estilo, rendimento, a regularidade, passadas amplas e elásticas, ação firme do posterior engajado empurrando a massa, a cabeça bem colocada.

A seguir, a título de ilustração, algumas das principais características morfológicas do Mangalarga Marchador:

Cabeça Triangular
Cabeça Triangular
Perfil retilíneo
Perfil retilíneo

Olhos projetados e lateralizados

Pescoço Piramidal
Pescoço Piramidal

Cernelha pronunciada

Espádua com boa amplitude e angulação
Espádua com boa amplitude e angulação

Braço bem definido e angulado

Linha de Dorso reta

Garupa plana
Garupa plana

Jarretes descarnados

Ossos fortes e bem articulados

Cavalos lembram para sempre de seus amigos treinadores

** por José Luiz Jorge
Os cavalos não apenas se recordam das pessoas que os trataram bem, eles também entendem as palavras melhor do que imaginamos, como foi demonstrado em uma pesquisa na Universidade de Rennes na região da Bretanha- França.
Um estudo da Universidade de Rennes, na França, mostrou que os cavalos podem ser mais leais até que nossos amigos de longa data – desde que bem tratados, é claro.
A pesquisa analisou o comportamento de 20 cavalos anglo-árabes e três franceses em um estábulo em Chamberet, também na França. Os cientistas testaram o quão bem os cavalos se lembravam de um treinador do sexo feminino e das instruções que ela havia dado aos cavalos depois de oito meses longe dos animais.
Eles confirmaram que o animal possui uma excelente memória e que, além de recordar dos “amigos” humanos mesmo depois de longos períodos distantes, também se lembra de informações complexas (como uma estratégia que aprendeu para resolver algum problema) por dez anos ou mais. O resultado mostrou que os cavalos são leais, inteligentes e têm memórias de longa duração. Mas, cuidado: essas lembranças valem para as boas e más experiências.
E aqui um parênteses no estudo. O “imprinting*” feito com potros na primeira hora de vida, baseia-se justamente nesta qualidade que os cavalos trazem consigo desde o nascimento.

A união com os seres humanos é uma extensão do comportamento do cavalo ainda selvagem, uma vez que os cavalos valoram seus próprios parentes e amigos, e por sua natureza está também aberto aos novos e não-predadores conhecidos.
Os “cavalos mantém uniões de longo tempo com vários membros de seu grupo de família, porém também trabalham reciprocamente e de modo temporário com os membros de outros grupos ao formar as manadas,” explica o pesquisador Sankey, que conduziu a investigação. As “relações sociais dos Eqüídeos são duradouras, em alguns casos, por toda a vida,” acrescenta ele.

O Etologista Sankey da Universidade de Rennes e seus colegas estudaram 20 Anglo-Árabes y três cavalos da raça Sela Francesa de Saddlebred Stabled en Chamberet, França. Eles comprovaram como os cavalos recordaram bem de uma treinadora e de suas instruções depois de uma separação de oito meses.

O programa de treinamento para os cavalos consistiu de 41 passos associados a preparação básica e a intervenções de primeiros socorros. Por exemplo, os cavalos tiveram que permanecer imóveis em resposta a um comando verbal para ficar.
Os cavalos também tiveram que levantar seus pés, toleraram um termômetro inserido no reto.
Enquanto o cavalo fez menção de atender o que foi solicitado, o treinador o recompensou com afagos e em alguns casos com pequenas porções de melaço. Com as recompensas saborosas, os cavalos “exibiram mais comportamentos “positivos”, e dirigindo-se aos pesquisadores mastigaram com a boca vazia. Os cavalos fazem isto como mostra da afiliação amadrinhamento) com alguém que não os ameace, ou com quem eles identifiquem como amigo.

Com pesquisadores científicos agregados, que substituíram seus amigos, os “cavalos treinaram sem o reforço e expressaram entre quatro a seis comportamentos “negativos”, tais como morder, escoicear e se jogar ao solo para tentar derrubar o pesquisador.”
Depois dos oito meses da separação, os cavalos treinaram com as recompensas positivas e com o mesmo pesquisador antes rejeitado eles passaram a aceitar as novas pessoas melhor, indicando que eles desenvolveram uma “memória positiva com seres humanos” em geral.
“De nossos resultados apreendemos que os cavalos não são diferentes dos seres humanos em termos de respostas a estímulos e reforço positivo”.
“Se comportam, aprendem e memorizam melhor quando o aprendizados for associado a uma situação positiva, criativa, desafiadora não entediante e acima de tudo não agressiva.”
Enquanto que o senso comum das pessoas mostra que se treinam os cachorros desta maneira, também usando comandos verbais, Dr. Sankey e sua equipe estabelecem “baseiam a maioria do treinamento montado dos Cavalos em sensações táteis, já que a sensibilidade fina deles é maior e respondem a uma simples pressão da panturrilha, ou um roçar do calcanhar dos cavaleiros, viram a uma simples flexão de ombros de quem está em cima ou a uma mudança do peso na sela.”
Os “cavalos comprovadamente podem aprender e memorizar palavras humanas” e podem ouvir nossa voz melhor do que os cachorros, devido a um espectro maior da sua audição, os científicos predizem que os treinadores podem ter maiores êxitos se incorporarem mais comandos vocais em seu método de abordagem e treinamento, o que nosso caipira chama de uma “criação mais conversada”.
Os cavalos nunca se esquecem dos amigos humanos que os trataram bem, eles também entendem palavras melhor do que o esperado, como demonstraram as pesquisas.
Jill Starr é presidente e fundadora da ONG dedicada ao resgate e salvamento de cavalos, sem fins lucrativos, que proporciona a colocação a salvo, treinamento e a adoção de mustangs selvagens nos EUA: Starr disse sobre a divulgação desta pesquisa que em sua atividade diária já havia observado cavalos responderem bem aos comandos verbais, tais como “trote,” “marcha” galope, alto, todavia sente que os cavalos identificam e respondem melhor aos treinadores que falam sua linguagem corporal que é a mais familiar e natural para os cavalos.”
Ela sem dúvida, concorda, que os cavalos são leais, inteligentes e têm memórias muito duradouras das boas e más experiências. Starr disse que os “cavalos podem quando muito perdoar, porém nunca se esquecem.”

*imprinting é uma abordagem realizada pelo ser Humano, na primeira hora de vida do potro, quando ele é massageado, “dessensibilizado” em todas as áreas que o Homem irá manipular na vida adulta do animal, ele é acariciado e por fim sopramos levemente em suas narinas para ele guardar o cheiro e associá-lo para sempre a um bom momento que teve logo depois do nascimento.
** José Luiz Jorge é autor do livro Conversando sobre Cavalos, proprietário do Rancho São Miguel e instrutor certificado pelo CHA level 4

Cuidados para “fazer” a boca do Cavalo

* por José Luiz Jorge
(baseado no trabalho de Oscar Scarpatti)

O mestre da “Doma Índia”, o argentino Oscar Scarpatti deu ao mundo do Cavalo uma contribuição importante na formação do Cavalo de sela, trabalho ou esporte. Ele nos fala sobre como e por que “fazer a boca do cavalo” e a musculatura de nuca e pescoço, antes de se iniciar a chamada “doma de cima” ou o trabalho montado.
Na feitura da boca do cavalo temos de ter um cuidado especial, já que é uma das principais aptidões a ser levada em conta quando se analisar um cavalo.
Podemos ter um animal morfologicamente perfeito, de caráter normal e outras qualidades que, mesmo sendo ótimas e importantes, se o cavalo não tiver uma boa boca, e não tivermos facilidade em sua condução, ou se ele não for dócil a um leve toque na rédea, não nos serve para muita coisa. Além do que, pode ser tornar perigoso montar em um animal com esse comportamento.
Um cavalo bom de boca traz umas das qualidades mais destacadas porque é através desses comandos de equitação que conduzimos toda a potência e obtemos o melhor desempenho dele.
A comunicação que se pode obter entre cavalo e cavaleiro depende de uma sintonia fina, entre a nossa mão e boca, o que se dá por meio de sutis sinais transmitidos pelas rédeas. É tão ampla essa gama de sinais que surpreende e demonstra uma tremenda sensibilidade para a qual temos que estar muito conscientes e preparados.
A velha teoria que diz que o Cavalo tem que obedecer pela força e pela dor é infundada e além disso é um absurdo.
Por outro lado, nenhum destes meios brutais, sem consideração e carentes de cuidado dão resultados a médio ou longo prazo. Talvez a curto prazo funcione, enquanto a boca do pobre animal mantém a sensibilidade normal. Porém logo depois de repetidos erros colocados em pratica todos os dias chegaremos à uma dessensibilização pela formação de calos da mucosa bucal e a conseguinte resposta do Cavalo que manifesta um claro incomodo passando a língua sobre o freio e ou colocando-a para fora da boca.
Também se pode ver que alguns cavalos sacodem a cabeça para os lados ou de cima para baixo, mordem ou tratam de tentar morder a embocadura, apertam as mandíbulas com força. Isto traz junto outro sério problema que em geral é atribuído à boca; a rigidez da nuca pela contração da musculatura do pescoço que se inserta na cabeça, que termina agarrotando-se junto com a zona do maxilar inferior.

Colocação do bridão

Logo depois de tomar contato com o potro e em pleno trabalho da dessenbilização, o Horseman pode começar a construir a boca de seu potro. Recordemos que para ele tudo é novidade, desconhecido; que tudo deve ser proporcionado a seu estado e devemos ser cuidadosos não só “no que fazemos” já que é tão importante quanto o “como o fazemos”.
Devemos saber o que buscamos. Isto é o essencial: o que se pretende é ir acostumando nosso cavalo para que aceite que lhe introduzamos na boca uma embocadura com uma cabeçada para sustentá-lo. Primeiro lhes causará incômodo, porém logo a seguir ele terminará por aceitá-lo, sempre e quando não fizermos esse procedimento inicial com muito cuidado e objetividade ao mesmo tempo, podemos cometer erros como causar-lhe dores ou desconforto que não possa suportar.
Lembrem-se que nessa fase, a da passagem da doma de baixo para o trabalho montado, quando ele está saindo do jardim da infância e entrando na escola primnária, cada novidade precisa ser aceita e consolidada antes de se passar adiante. Subimos junto com ele, degrau por degrau da longa escada do aprendizado.
Um incômodo pode ser reduzido ao mínimo, desde que tenhamos cuidado, bom trato e recompensas, como e não deixá-la na boca mais de meia hora, nas primeiras vezes, usando a rédea longa do charreteamento presas ao selote de doma, sem acionar com força, apenas consuzindo-o com leveza, ele não nasce pronto e não vai aprender nada nas primeiras sessões, mas pode sentir dor se errarmos e aí a impressão gravada em sua mente sobre a sensação de trabalhar com embocadura será a pior possível ensejando resistências mais adiante.

Conformação da boca

Fisiologicamente a boca do Cavalo é formada pelo Espaço entre dentes, aquele trecho da mandibula sem dentes, onde exatamente passará a embocadura, a Língua, as Comissuras da boca, onde a embocadura toca sob o efeito da ação das rédeas, o lábio inferior, a Pêra ou parte posterior do lábio inferior, também conhecido como “mento”, o
Pálato (céu da boca) no qual não deveria haver nenhuma ação.

Qual é a função do trabalho da boca? A função é conseguir manejar e conduzir o Cavalo com efetividade.
Na realidade o que chamamos de boca no Cavalo, para fins de equitação, se refere especificamente ao seu maxilar inferior e à comissura dos lábios.

A boca está relacionada com a musculatura dos maxilares, o pescoço e em particular a nuca:
Como se consegue fazer-lhe a boca sem dor nem traumas, sensivelmente?
Sabendo todos os fatores que a comprometem:
Boca
Nuca
Pescoço
Força geral do animal
Equilíbrio, aí compreendido o centro de gravidade, (já que deve aprender a mover-se com outro peso além do seu próprio, basta observar o cavalo, como ele se coloca quando anda solto no campo e como muda a altura da cabeça quando tem um peso sobre a garupa. Essa colocação de cabeça tem a ver com o novo centro de gravidade para ajustar-se a um cavaleiro e também tem implicação na sua visão. Além disso deve ser considerada a Maturidade psíquica na aprendizagem. Por isso não iniciamos cavalos com menos de tres anos.

Quando começar a fazer a boca?

Quando cabresteamos o potro, no primeiro passo da doma, começamos a trabalhar na maioria dos fatores que comprometem la boca.
A sensibilidade na boca deve ser cuidada porque ante a menor dor ou trauma produz uma reação defensiva contraindo todos os músculos comprometidos no maxilar e a nuca obstruindo ou dificultando o manejo.
Um Cavalo dócil e brando de boca se pode por a perder em pouco tempo por cometer o erro de levar sempre as rédeas curtas sem deixar que estire o pescoço.
É importante saber o rol que cumprem as rédeas e a sensibilidade que devemos ter nas mãos.

Pontos de vista:

Se conseguirmos mudar certos conceitos errôneos em que se apóiam alguns dos domadores tradicionais, teremos dado passos determinadamente positivos em relação ao amansamento e docilidade de nossos cavalos.

Vamos descrever brevemente alguns aspectos:
O cavalo está recém encabrestado e por conseguinte está:
-desconfiado,
-cosquento,
-temeroso,
-espantadiço,
-chucro ou outros adjetivos que ouvimos sempre.
Vemos talvez isso, porém não fazemos nenhuma análise da psicologia do potro, porque em geral não nos colocamos no lugar dele, não admitimos o direito dele se proteger de nós e da ameaça que representamos.
Porém do ponto de vista do animal, as coisas são diametralmente opostas.
Se ele pudesse falar no nosso idioma, diria:
“Não entendo o que você quer, porque assim que começo a te ver e a ter você perto, quando está comigo me mantém prisioneiro, me tiraniza’.
Eu tenho medo de você. Tuas atitudes são de ataque’.
‘Teus gestos são angulosos, teus olhos são penetrantes’.
Depois.
‘Me dói a nuca e o pescoço, por quê me amarrou a um tronco’?
‘Me dói a boca, porque me mete um couro duro debaixo da língua, e me tiraniza’, ‘Me aperta com uma cincha e me põe alguma coisa no lombo, me parece que não posso nem respirar”.
E em realidade o que ele está dizendo em sua própria linguagem e nós o compreenderíamos perfeitamente se tivéssemos um mínimo conhecimento de sua linguagem, natureza e comportamento.
A linguagem do cavalo é corporal e ele se comunica com clareza:
– Quando nos aproximamos ele escapa. – “Tenho medo”.
– Retrai os lábios e abaixa as orelhas, arregala os olhos, mostrando a parte branca. – “Se você se aproximar mais um passo, te mordo”.
Nos aproximamos agressivamente e ele vira a sua anca. – “vou te escoicear”.
Pisoteia o chão batendo uma pata depois a outra com força, repetidas vezes – “Estou impaciente”.
O tocamos e ele retrai a pele com rapidez. – Está me fazendo cócegas.
Estira o pescoço e dirige seus olhares para os outros – está tratando de ver sinais de adrenalina.
A lista é numerosa e a poderíamos desenvolver um livro todo sobre linguagem do cavalo. De acordo com Scarpatti, “com cinqüenta anos de convivência e sistemática observação e estudo eu pude determinar com clareza a sua linguagem e isso tem sido permanentemente, a chave mestra para entender sua notável e sensível psicologia.
Um dos erros mais comuns e contraproducentes neste processo inicial é tirar o cavalo na boca. A tirada da boca quando mal se começa a doma do nosso cavalo diríamos que é a primeira coisa que nos preocupa porque está ligado a nosso interesse por dominar o cavalo e nos sentirmos seguros montados nele”. Isso é feito sempre com dor, já vi casos no Sul do Brasil de “tirarem a boca” com corrente fina passando sobre a lingua, ferindo-a gravemente.
Tenho a convicção de que uma das mais importantes virtudes que um cavalo deve ter é sua docilidade para ser manejado e conduzido. E esta ação tem que ser levada a cabo por qualquer pessoa desde uma criança até um cavaleiro experiente.
Nos primeiros momentos o cavalo não está em condições de aprender porque está muito preocupado por tudo o que está se sucedendo, pela diversidade de situações novas, que ao serem tantas e quase simultâneas que não termina por entender nenhuma. Por isso não podemos pensar que a primeira coisa que devemos fazer é acovardar o cavalo tirando-lhe a boca.
Devemos abordar a boca do cavalo como se faz com uma obra de arte. Quem quer fazer esta obra de arte deve ter profundos conhecimentos do que quer atingir e também contar com tempo suficiente para levar a cabo esta delicadíssima tarefa.
Na doma, tudo é ensinamento, porém deve ser proporcionada no tempo de cada animal, pautada e progressivamente. É um erro muito generalizado começar pela boca, fazer a boca do cavalo nas primeiras encilhadas é violento, eu diria, muito violento, e na realidade não podemos pretender ensinar nada a ninguém com violência. Fazer a boca não é um ensinamento já que não lhe demos tempo de compreender que isso é só um dos tantos exercícios que iremos lhe ensinar nos próximos meses de suas vidas.

*José Luiz Jorge é proprietário do Rancho São Miguel
Instrutor nivel 4 do CHA (Certified Horsemanship Association)
autor do livro Conversando sobre Cavalos.

Quantas vezes os Cavalos foram domesticados?

Quantas vezes os cavalos foram domesticados?

Os cavalos têm sido utilizados pelos seres humanos durante os últimos 5 mil anos. Hoje é difícil saber quando e onde os nossos antepassados domesticaram cavalos pela primeira vez.
Um grupo de investigadores suecos descobriu que a domesticação dos cavalos foi iniciada simultaneamente em vários lugares do Mundo de forma independente.
Chegaram a esta conclusão ao analisar DNA de diferentes raças de cavalos domésticos, cavalos selvagens e fosseis de cavalos que viveram há mais de 5000 anos (antes da domesticação).
Até agora, pensava-se que provavelmente os cavalos tivessem sido domesticados pela primeira vez há cerca de 5000 anos onde hoje fica a Ucrânia, Cazaquistão e Mongólia.
Em seguida os cavalos domésticos teriam sido progressivamente exportados para regiões vizinhas, até terem a distribuição dos dias de hoje.
Se esta hipótese estivesse correta, o DNA das diferentes raças modernas seria mais semelhante entre si, do que quando comparado com cavalos selvagens ou fósseis de cavalos antigos. Isto porque corresponderia a uma única “família”. Mais ainda, as diferenças entre as raças atuais de cavalos deveriam convergir para um DNA comum há cerca de 5000 anos.
Com efeito, isto é o que acontece com os porcos: parece que todos os porcos atuais descendem de um pequeno grupo domesticado há cerca de 10.000 anos.
Para surpresa dos cientistas, as diferenças de DNA entre as raças de cavalos atuais são semelhantes às diferenças encontradas entre estes e cavalos selvagens.
São até equivalentes às diferenças entre diversos fósseis de cavalos de uma época anterior à domesticação. Assim, a única conclusão possível é que os cavalos atuais não resultaram de um pequeno grupo domesticado há cerca de 5000 anos. Provavelmente, diferentes núcleos humanos domesticaram cavalos em diferentes regiões.
Isso pode colocar em dúvida a teoria de que os cavalos na América vieram apenas na época dos colonizadores. Na verdade no continente já haviam cavalos nativos há milhares de anos antes.
Os cavalos atuais resultaram destes diferentes núcleos. É fascinante observar como hoje em dia a arqueologia pode se beneficiar de avanços em biologia e como os avanços no conhecimento da genética ajudam a validar ou não teses de arqueólogos.
Você pode saber mais sobre esse tema no livro Psicologia do Cavalo volume 1. De Mauricio Hontang.

Todo bom treinamento começa com mudanças dentro de nós

* Por José Luiz Jorge
As mudanças dentro do nosso Cavalo começam com as nossas mudanças
Nunca podemos ter com nossos cavalos um olhar terno e excessivamente tolerante. Isto porque em seguida descobriremos que nosso cavalo se torna o nosso espelho. Temos de ter um olhar verdadeiramente honesto a respeito de nós próprios. Crescemos no meio ouvindo de tradicionalistas que os cavalos seriam estúpidos ou teimosos. Eles sempre disseram que são difíceis de treinar e de entender o que lhes pedimos.
Às vezes muitos treinadores contemporâneos acabam escorregando e repetindo que eles são médios ou “difíceis” e que podemos ser pegos absorvendo idéias do tipo “que temos que dominar física ou mentalmente nossos cavalos”. Mas nada disso faz sentido. Cavalos não querem ter medo, pedem a oportunidade de poder confiar no ser humano, com quem colaboram há milênios.
Diante da nossa aproximação relincham, abanam a cabeça, mas ao sentirem-se ameaçados pelo cheiro da nossa adrenalina primeiro fogem ou se isso lhe for vetado, murcham as orelhas, escoiceam por invadirmos o seu espaço vital ou por lançarmo-nos em torno deles de modo abrupto. Eles não são teimosos, não são problemáticos e muito menos tem má índole, nem são maldosos.
Como animais de manada os cavalos são criaturas extremamente sociais. Sua sobrevivência como espécie depende muito de seu poder adaptar-se e trabalhar com outros cavalos e ainda outras espécies, como a nossa, por mais dor que lhes causamos ao longo de milhares de anos. E isso está em sua memória genética, “somos uma ameaça”.
E eles fazem-no muito, muito bem. O desenvolvimento de uma relação de trabalho com seu cavalo é muito mais do que apenas usar à moda atual do clique instantâneo e da reposta imediata em bits da informática e da tecnologia a que nos condicionamos a usar. Saber onde colocar suas mãos, decidir quando dar uma sinal com sua perna ou saber se expressar na linguagem corporal, criando uma sintonia fina com ele, no tempo dele, ter a humildade de saber pedir e aliviar a pressão no exato instante em que ele começa a responder. Toda a responsabilidade na construção da confiança é do Cavaleiro.
Isto porque temos as melhores ferramentas e técnicas de conhecimento eficazes, sabendo o quanto são obviamente importantes. Mas, se você quer criar uma mudança no comportamento do seu cavalo, a primeira e mais importante alteração deve ser no seu próprio pensamento. Quando fizer isso, você e seu cavalo desenvolverão uma parceria que realmente funciona, e vão gozar o prazer de uma dança bonita que é satisfatória para ambos.
Desenvolver essa parceria, no entanto, pode ser um verdadeiro desafio
Quando fiz meu primeiro curso de “Horsemanship” e ouvi depois as diretrizes do mestre Eduardo Borba, repetidas depois em uma demonstração que ele fez em nosso Rancho, muita coisa começou a fazer sentido e percebi como se tivesse aprendido a falar um idioma novo e mundial, a linguagem própria do Cavalo.
Às vezes trabalhando através de exercícios com um novo e desconhecido cavalo que me trazem em casa é como estar em um quarto escuro à procura de outro lugar. Você tateia por meio da sala até encontrar uma porta com uma luz sobre ela.
Rapidamente através de um toque no tão procurado interruptor se vê uma sala nova e muito diferente. Esta sala está cheia de luz que permite ver e fazer muitas outras coisas mais, sem precisar “arrebentar os joelhos na quina dos móveis”.
Esse interruptor é um pedaço do exercício que você está fazendo com seu cavalo quando você finalmente vai poder vê-lo de um modo diferente. Você não vai alterar o exercício ou mesmo uma parte dele, mas você vê-lo de um ponto de vista diferente. É como um versículo da Bíblia ou um texto de filosofia. Você lê uma vez e ele significa uma coisa. Em seguida, seis meses ou anos mais tarde, pode significar algo diferente porque você teve uma experiência nova e agora pode ver coisas sob uma nova luz.
Feche este artigo agora, suspenda a leitura e vá lá fora dar uma olhada no seu cavalo. Consulte-o. Lá ele assume um significado. Veja-o comendo ou se esponjando ao sol ou se comunicando com um cavalo amigo. À sua chegada a atenção dele pode ser desviada para algo novo fora do limite, mas quando ele identificar que é você e depois que ele tiver percebido que não se trata de uma ameaça que pode prejudicá-lo, ele volta para o que estava fazendo. Essa é sua natureza, que tem de ser compreendida e respeitada.
Se o vento está soprando e ele está se sentindo numa boa, ele pode saltar um pouco, correr alegre pra cá e para lá, mas essencialmente um cavalo é uma coisa bastante tranqüila para se assistir. Mas, se uma tempestade se aproxima, que leitura você faz de seus sinais? Ele agita a causa, bufa, corre como que em busca de abrigo, roda em torno de si mesmo, abre as narinas, levanta a cabeça como a perceber de que lado vem a chuva.
Uma das primeiras coisas que fazemos nos cursos que ofereço é quebrar o modo automático, instantâneo com que tocamos a vida urbana e num contraponto à correria ativa paramos para assumir um posto de observação, de leitura dos sinais corporais, se necessário durante meio dia. Quando puder compreender o que é o Cavalo, como ele age, o que é importante para ele, quando está em grupo, como a mente dele funciona, pode-se pensar em querer comandá-lo, o que de fato vai ocorrer, se você merecer essa condição de líder aos olhos dele.
Que coisa agradável é o interruptor que estamos procurando. Todos os cavalos querem a mesma coisa que buscamos — Paz. Queremos estar em paz com nossas famílias, para termos um ambiente saudável, para minimizar o estresse. Com seu cavalo se passa o mesmo. Sua presença não pode representar uma perturbação agitada, intempestiva, urgente, irritante. Ele pretende obter junto com você e seus amigos, um espaço para relaxar, ter alguma variedade em sua rotina e poder escolher trabalhar e se divertir com você. A sua responsabilidade é fazer ele se sentir bem e adequado. Algo talvez parecido com educar uma criança e já se sabe que ninguém aprende nada apanhando.
É um conceito que chega a ser inconveniente e radical para as pessoas. Infelizmente, uma grande formação “tradicional” é voltada para “controlar” ou “submeter” o seu cavalo. “- Ele tem que saber quem manda”. Muito mais para satisfazer seu ego para obrigá-lo a fazer coisas que ele não pretende fazer. Você não precisa fazer seu relax terapêutico a cavalo às custas de tirar a Paz dele. Você só precisará mostrar-lhe em que situações de exercício e trabalho ele poderá continuar sentindo-se bem.
O cavalo quer relaxar e apenas seguir a passo para o piquete de trabalho, o redondel ou a pista. Ele quer ser suave e fácil quando ele muda de apoio e troca de mão em meio a um galope, com naturalidade. Ele quer fazer um salto de forma limpa e ele quer ser capaz de controlar e apartar aquela vaca, porque estas coisas podem ser divertidas para ele e para você. Encarar o treinamento e o trabalho desse modo não faz que tenhamos cavalos mais descontraídos e felizes? Cavalos são exatos espelhos de nós próprios. A parte mais difícil do objetivo de alterar o comportamento em nossos cavalos, (você deve estar percebendo onde quero chegar), é que temos de mudar nossos próprios pensamentos e atitudes. Assim vamos ver nossos cavalos de forma diferente.
Quando fizermos isso, eles irão responder diferente, tornando seu trabalho e o deles, muito mais fácil. Com diz Mary Twelve Poonies, não existem Cavalos-Problema, só Cavaleiros-Problema.
* José Luiz Jorge é proprietário do Rancho São Miguel, horseman e instrutor filiado ao CHA e autor do livro Conversando sobre Cavalos