Os potros, esses seres únicos e especiais

A gestação da égua é quase exatamente de 330 dias, variando entre uma semana antes e dez a doze dias depois. Isto obriga o criador a um planejamento responsável para preparar a chegada dos novos “membros da família”. Quando for confirmada a prenhes, a partir da data anotada da cobrição. Um dos fatores que interferem nessa variação de tempo é justamente a qualidade da alimentação da mãe, se mal nutrida abrevia o parto e as bem nutridas demais, o retardam um pouco além dos onze meses.
Quando a égua começa a dar sinais físicos como o úbere se enche, a veia mamária que corre através da barriga se intumesce, ela se agita, andando nos piquetes de um lado a outro, sem no entanto perder a serenidade, a presença de uma substância como cera nas mamas, fique atente porque é provável que na mudança de lua seguinte tenha mais alguém no campo ou na baia-maternidade, se ela for confinada.
O potro pode nascer a qualquer hora dia ou da noite, mas a maioria nasce perto da alvorada. Tudo isso é importante, porque o criador poderá se programar para assistir o parto e intervir se necessário. Lembre-se que é vital que o potro mame na primeira hora de vida.
Essa mamada garante condições essenciais ao seu desenvolvimento como o inicio da formação da flora bacteriana que ajudará o animal a digerir celulose em toda vida e a quantidade de energia necessária para se colocar de pé e sair ao lado da mãe. Quando viviam em liberdade pelos campos, sendo predados, essa condição de mover-se logo após o nascimento, muitas vezes garantia sua sobrevivência diante de ataques de predadores.
As éguas são muito firmes em aceitar a aproximação apenas de suas crias, afastando duramente filhotes estranhos. Por isso, na ocorrência de problemas graves com uma das matrizes, sempre é bom ter um bom colostro congelado para ser aquecido a 36 graus e oferecido numa emergência.
A égua é quem informa ao potro tudo que ele precisa saber sobre o seu habitat, e nesta primeira hora pós parto, ela faz isso, estimulando e lambendo, higienizando a cria e auxiliando o potro a levantar. Se tudo correr bem, me duas horas ele já enxerga, cheira e escuta bem.
Nessa hora entramos com o “Imprinting” e podemos passar a fazer parte do seu mundo
Como você sabe, o imprintig consiste em “gravar na mente” do potro, no momento em que seus canais estão abertos para um intenso aprendizado, que nossa presença pode ser boa e para sempre merecer que ele nos tenha em alta conta.
O imprinting após a égua lamber a cria, consiste em abraçar o potro, massageá-lo em todos os pontos sensíveis, desde as orelhas, crineira, cernelha, garupa, pernas, boletos e patas, tocando com energia e um firme afeto, durante dez a quinze minutos, para em seguida soprar em suas narinas (ele guardará seu cheiro para sempre), não permitindo que ele se sinta ameaçado ou fuja de suas mãos porque senão gravaremos o contrário do que queremos e em seguida encaminhamos para a necessária primeira mamada.
Se possível, essa sessão deve ser repetida dez minutos por dia em toda a primeira semana, para que ele associe sua chegada a uma sensação muito boa. Após esse período devemos intervir pouco, deixando-o aos cuidados da mãe que nos próximos seis meses se encarregará de educa-lo e protege-lo.
Após os primeiros seis meses, ele deve aprender a ser cabresteado, e ele irá lembrar-se do seu cheiro e das boas impressões no nascimento. Para isso, cabresteando a mãe e o potro, os dois são conduzidos juntos com guias separadas até que em um ou dois dias ele comece a seguir seu tratador/treinador/iniciador .
Esses exercícios diários à guia, devem ser breves, entre 15 a 20 minutos, diariamente durante uma semana a quinze dias e posteriormente ele deve ser encaminhado aos piquetes – potreiros para desenvolver uma infância natural com outros jovens – quando ele de fato completará seu aprendizado sobre o que é ser um cavalo.
Nessa fase, suas brincadeiras entre potros não terá componentes sexuais, o que mudará a partir de 2 anos e meio a três anos. Nessa fase entramos novamente em cena, dando inicio ao período intensivo de trabalho diário sempre começando com pouco tempo por dia até chegar aos 30 minutosxdia.
Como o cavalo aprende

Os instrutores bem sucedidos sabem como treinar cavalos, partindo do ponto de que cada Cavalo é único, com histórias irrepetíveis e com tempo de resposta particular.
Adquirem este conhecimento pela experimentação e pelo erro, ligados a uma boa percepção, ou tendo bom tempo de treinamento e capacidade de observar.
Possivelmente muitos não sabem a sistematica da aprendizagem equina, mas tem uma aproximação intuitiva. Sabendo a teoria sobre como os cavalos aprendem assegura-se de que o sistema pode ser aplicado a todas as situações do treinamento e isso dá a aqueles que não têm sentido intuitivo de como treinar o cavalo, uma oportunidade de maximizar o seu desenvolvimento.
Além disto, verte uma luz útil contra maus hábitos de instrução que não respeitam o comportamento e a natureza do cavalo.
Na psicologia comportamental, aprendizagem é definida como uma mudança mais ou menos permanente no comportamento seguida de reforço. Reforço, quer dizer algo semelhante a uma pena ou recompensa, depende se positivo ou negativo e no caso da linguagem do Cavalo, o que reforça nele que ele fez ou está começando a fazer a escolha certa é justamente o alívio da pressão.
O cérebro dos equídeos é maravilhoso e evoluiu para aprender os diferentes tipos de informações de diferentes maneiras. Como já foi descrito anteriormente, o cavalo tem uma fantástica memória ‘fotográfica’ do mundo físico e também das suas respostas para ele, que se manifestam como hábitos intensos, ou respostas automáticas, baseadas em seu instinto de preservação.
Esta memória é mantida por meio de acesso rápido para o armazenamento de longo prazo e está desobstruída pelos efeitos de raciocínio e imaginação, mantendo reações precisas e sempre prontas. É nesse ponto que ele ajuda o Cavaleiro a tomar decisões igualmente claras e precisas no instante exato que devem ser tomadas.

Uma lição do Grande Mestre na iniciação do Cavalo

Ray Hunt foi um dos grandes mestres do verdadeiro Horsemanship. E deixou um legado ao longo das décadas que se dedicou ao cavalo que deve ser citado aqui. Ray Hunt, iniciou mais de 10.000 potros e cavalos ao longo de 30 anos. Deu Clínicas Educacionais nos ESTADOS UNIDOS, no Canadá, na Austrália e na Europa. Irradiou técnicas e a filosofia que se aplica a todas as modalidades da equitação.
E graças ao seu trabalho, apenas em alguns dias, os potros começam do melhor modo possível a um relacionamento por toda a vida com cavaleiros. Como Ray Hunt mencionou freqüentemente às pessoas que o procuravam – “eu estou aqui para o cavalo – para ajudar-lhe a garantir o melhor acordo possível”.
O Cavalo iniciado por Ray Hunt será o cavalo que você sempre quis ter –Sempre foi um Homem generoso na irradiação do seu conhecimento, porque sabia que, se as pessoas aprendessem com ele, essa era uma contribuição real que ele estaria dando para melhorar a vida do maior número de cavalos em toda a terra! Um ser humano único, um mestre para todos que amam o Cavalo.
No Rancho São Miguel os potros que iniciamos aceitam ser encilhados soltos ao seu lado, gostam da companhia do Homem, espelhado em seu treinador e são animais absolutamente confiáveis para sempre.

Um Tributo de respeito a um grande Cavalo

Morreu dia 22 de maio depois de mais de 15 horas de luta pela vida, o meu cavalo querido, parceiro de trabalho, um professor, há mais de 12 anos ao meu lado. Meu querido GIM LHL, Mangalarga, alazão, filho de Huno do Geresim, um cavalo de carater franco, dono de uma energia intensa, morreu aos 16 anos de vida. Cavalgamos a ultima vez na véspera e passei com ele seu ultimo dia lutando desde as 7h00 – um baita parceiro, baita cavalo e amigo.
A história dessa aliança entre cavalo e cavaleiro começou despretensiosamente na serra da Cantareira, em um domingo pela manhã de 1998. Sai para comprar uns produtos naturais e uns travesseiros de plantas medicinais e na volta passei pela Estabulagem Santa Rita que o amigo Caio Cunha tocava na Serra.
Chegando lá ele me recebeu e me apresentei falando que estava morando por lá há pouco mais de um ano e já tinha alugado umas éguas dele para passeios, que tinha gostado, falamos dos Mangalarga, e ele sorrindo todo animado exclamou, – cara tenho o cavalo ideal para você e veio com um potranco de 4 anos, inteiro, extremamente agitado, um cavalo quente, com pouco trabalho e muito gás.
Montei para experimentar e o comprei parcelado. Comprei sela, manta usada, cabeçada e a partir daquele dia a minha história com os cavalos entrou em um capitulo novo, que abriu a porta para que uma antiga opção de vida começasse a ser construída.
Não é exagero de linguagem dizer que aquele Cavalo começava a mudar minha vida.
Cada saída com ele da estabulagem era um espetáculo à parte. Cheio de bardas, era colocar o pé no estribo e ele começava a subir. – Montava e ele empinando saia em duas patas e ” eu ia lendo os numeros dos transformadores”, passada a explosão, abaixava e só se alterava ao ver, sentir o cheiro ou pressentir a presença de éguas no cio em qualquer lugar há tres quilometros de distância.
Caio, sem duvida me passava muitas dicas, e eu usava o cavalo 3a, 4a, 5a, sábado e domingo.
Foi nesse momento que ao me preparar para uma saida com GIM, que conheci o Luciano Travia, que acabara de comprar na mesma estabulagem, um cavalo Mangalarga, inteiro, o IGLU e desde que saimos juntos na primeira cavalgada continuamos amigos irmanados pelo Cavalo até hoje,
Estressado ou cheio de pressões de uma vida ainda urbana e com milhares de questões pessoais a serem resolvidas, chegava à noite na estabulagem e saia sozinho com ele, em estradas, trilhas na serra, aprendendo a ler o cavalo, a ter que confiar no animal e a chegar nele baixando a adrenalina para ter algum resultado.
Logo vieram as primeiras éguas mangalarga, potras, e tive de sair da estabulagem para uma propriedade arrendada e dar um contorno mais profissional ao convivio com o cavalo que logo passou a ser diario porque mudei e fui morar no então recém criado Rancho São Miguel.
Trabalhar com o GIM me obrigou a ler tudo sobre comportamento do cavalo, desde os romanticos e ingenuos como “o encantador de cavalos”, o então recém lançado “O Homem que ouve cavalos” do Monty ainda em inglês, até livros mais profissionais como o fantástico ” There are no problem horses, only problem riders”, ou seja, não existem cavalos problema, apenas cavaleiros problema, de Mary Twelveponies”,
Passei para os livros dos cientificos, como a Psicologia do cavalo I e II, livros franceses, tudo para entender e me integrar ao que GIM, o quente, queria me comunicar.
Fui ao I Encontro Internacional de Horsemanship, conheci o Borba, que logo em seguida veio ministrar um curso em casa.
Quando trabalhei com GIM em liberdade no redondel, fiz a conjunção e montei nele a pelo assim que ele aceitou minha liderança, foi como aprender um novo idioma, descobri um mundo novo e pouco a pouco fui me tornando um cara melhor, mais centrado, e devo isso ao GIM.
Cavalgadas de dia todo, cavalgadas com 30, 40 pessoas, saidas de dois dias, e quando mais GIM era equitado e nos comunicavamos em um novo patamar, melhor ele respondia e oferecia novas possibilidades de aprendizado mutuo.
Aprendemos a recuar, a espinar, a esbarrar, os exercicios basicos de equitação, arco-reverso, a engajar e desengajar e GIM era um convite permanente a novos passos, passando a montá-lo a pelo, e depois sem embocadura, ainda no piquete.
Fazia com ele mais do que se pedia em monotonas provas da raça, na época não existiam as funcionais, mas GIM aprendeu a ladear, abria qualquer porteira, e então quando ele viu pela primeira vez, o gado solto em campo? Ficou animado demais e pouco a pouco adquiriu o costume de campear.
Nesse ocasião o Rancho São Miguel tinha crescido, tratavamos de mais de 30 cavalos de pensão, para em seguida eu decidir sair do Mangalarga e começar no Marchador.
Troquei as éguas e potros paulistas por éguas MM, mas conservei GIM como meu cavalo de uso e trabalho.
Por essa decisão, tive de optar pela castração dele, já que não iria conservar um garanhão Mangalarga em um grupo de éguas MM.
Gim conservou seu espirito franco, sua energia e sempre ao chegar no rancho ele relinchava, como que me chamando, ou quando Sueli, minha esposa, chegava na baia e chamava “GIM o mais lindo de todos” ele parecia entender e ficava faceiro agitando a cauda feliz. O ritual das saidas quando às 6h30, 7h00 eu o tirava da baia, ele comunicava uma grande alegria e saia em sua marcha troteada extremamente confortável.
Os anos passaram, chegamos a mais de 22 cavalos em casa, os cursos se sucedem, passeios, e sempre me referi aos demais cavalos e éguas como : – “essas são as éguas de cria, aqueles os potros de ano, de sobreano, essa a égua nova que chegou essa semana”, mas apenas GIM, “esse é meu Cavalo”, como se os demais não fossem nossos também.
GIM nunca deu sinais de que o tempo passava, e raras as vezes me dei conta de que ele passou dos 13, dos 14, 15 e 16 anos.
Sempre trabalhava com ritmo, regularidade, encaixando a cabeça e alongado a passada. Todos cavalos da região, inclusive campeões de marcha, premiados, etc, só o acompanhavam tendo de galopar, sua marcha chegava facil a 15km por hora, ele voava nas estradas e trilhas, um cavalo com encaixe perfeito de ritmo com seu cavaleiro habitual.
Franqueza de atitudes, seriedade, comprometimento, eram qualidades visiveis e marcantes dele.
Até que chegou nossa ultima cavalgada, de seis quilometros apenas, mas como saber que seria a ultima?
Na volta ele deu sinais de cansaço, sem que tivesse forçado o ritmo, ao contrario cavalgamos a passo a maior parte do tempo.
Chegada, banho, ducha nas pernas, feno fresco e ele comeu bem para amanhecer no dia seguinte com uma estupida torção aguda de alça intestinal que ocorreu a noite.
GIM, como diziam os Apaches, agora cavalga nas pradarias do Grande Espirito.
Em respeito a ele, em sua luta pela vida, todos os demais cavalos permaneceram silenciosos, os caes não latiram o dia todos, e ao final da jornada ele descansou sem sofrer, sem se debater. toda a terapia de apoio, soro, analgesicos, permitiram que ele tivesse uma passagem em paz, triste mas serena. Nos despedimos e ele olhava intensamente para mim enquanto esteve deitado com a cabeça no meu colo por mais de uma hora.
Adeus GIM.

Cuidados diários e preventivos da saúde do Cavalo de lazer e trabalho

Em um piquete, cavalo e cavaleiro não estão livres de padecer um sem fim de situações inesperadas. O objetivo deste texto é falar claro sobre situações mais comuns, mas não menos desagradáveis no que diz respeito ao Cavalo, propondo algumas atitudes importantes.
No nosso dia-a-dia no trabalho e em situações profissionais distintas, costuma-se dizer que a melhor defesa é o ataque, mas isso pode ser interpretado como: vamos ser pró-ativos e preventivos, ou seja, imprevistos fazem parte e podem nos trazer grandes dores de cabeça e gastos inesperados, portanto, ter atitude significa – vamos prevení-los.
Do mesmo modo que aplicamos isso nas nossas vidas, os cavalos quando trabalham podem sofrere pequenos acidentes, pequenas feridas, arranhões, lesões, desgaste ou fadiga muscular, distensões, como se passa inclusive com qualquer atleta.
E por seu tamanho o cavalo exige um manejo especial. Uma boa manutenção das instalações do Haras ou Rancho, manter camas limpas e secas, banhá-los depois do trabalho, oferecer comida de qualidade, manter uma relação de um tratador para cada dez cavalos, de modo que possa cuidar da higiene diária de cada cavalo (escovação, rasquear, limpar ranilhas), para oferecer melhor qualidade de vida e reduzir estresse do regime de baia confinado ou semi-confinado.
Mas, mesmo assim, caso ocorra um incidente, temos de estar preparados para encarar o desafio.

Enfrentando Acidentes

Quando ocorre um acidente, a primeira coisaa é evitar o pânico e avaliar a gravidade do fato. Assim podemos classificar os problemas que o cavalo pode sofrer em dois níveis:
a) Os que necessitam a presença do Veterinário
b) Os que podem ser resolvidos pelos cavaleiros e nesse caso, os mesmos precisam ter noções de primeiros socorros.
Assim, é necessário chamar o veterinário quando o Cavalo:
a) Não demonstre seu caráter habitual, com um comportamento estranho, pescoço cabisbaixo, não se alimentando como de costume, denotando dor ou desconforto
b) Produza uma salivação espumante fora do normal
c) Sua temperatura corporal seja superior aos 38 º C
d) Se perceba uma desorientação ou perda de equilíbrio, assim como cambalear quando caminha a passo ou pareça atordoado.
e) Apresente uma hemorragia que não cesse.
f) Apresente um inchaço expressivo em seus membros.
g) Mostre um endurecimento do pescoço.
h) Se deite fora do habitual

Em outras ocasiões, o Cavalo apresentará pequenos problemas que não requerem os serviços urgentes do veterinário. Para trata-los será imprescindível ter na propriedade uma mini-farmácia equipada para primeiros socorros, que deve ser cuidada pelo gerente do haras ou diretamente pelo criador observando-se para que nenhum produto ou medicamento esteja vencido, estragado pelo tempo de armazenagem ou pela umidade.

Dicas para uma mini farmácia básica:

– Iodo solução a 10% ou Iodopovidona para curativo de feridas superficiais.
– Agua oxigenada 10 volumes.
– Degermante para lavagem e assepsia de machucados na pele ou
– Liquido de Dakin
– Algodão hidrófilo, esparadrapo e compressa de gaze
– Bolsa de gelo para tratar de inflamção de boletos ou problemas osteo musculares das extremidades.
– Pinças e tesouras.
– Sulfato de magnésio.
– Termômetro anal.
– Toalhas de papel
– Vaselina.
-Faixas crepe e bandagens
-Pentabióticos
-Anti-inflamatórios não esteroides
-Soro anti-ofídico
-Vitamina K ou estanca sangue
-Soro fisiológico
-Soro Ringer com Lactato
-Equipos para aplicação do soro
-Pomadas anti-inchaços como “calminex” “NGF”
-Equipamento para duchas nos membros inferiores
-Soro Anti-tetânico
-Pomada contra mordidas de morcegos
-uma caixa de agulhas com medidas diferentes (intramuscular e venosa) e
-uma de seringas de 10 e 20 ml

Ocorrências mais comuns

Os tratadores de Cavalos enfrentam casos indesejáveis com alguma frequência. Alguns dos mais comuns são:

1. Arranhões ou esfolamentos causados pelo equipamento mal colocado, (selas-cilhas etc)

Todo cavalo de trabalho está sujeito a sofrer lesões superficiais e cutâneas causadas pelos equipamentos. (Leia o post sobre escolha do arreamento correto).
Estas lesões podem ser provocadas pela barrigueira, pela cilha, esfloamentos pelo peitoral, embocaduras estreitas, ou muito apertadas ou mal colocadas, ou lesões pelo trabalho intenso em terreno pedregoso, sem uso de ligas de trabalho, etc.
Este tipo de feridas ou esfoladuras começam a ser curadas com higiene local e assepsia, logo após o banho dado ao fim da sessão de trabalho. Lave bem o local com água e sabão neutro, antes de medicar, começando pelo uso de agua oxigenada, ou degermante ou na pior das hipóteses, liquido de Dakin; posteriormente, será importante avalir quais os pontos de contato do equipamento com o corpo do Cavalo e tomar providencias para não voltar a machucar o animal.
Podem ser usados protetores emborrachados, barrigueiras de neoprene, forrar o peitoral com feltro, ou lã grossa, para que no próximo trabalho não se machuque novamente. Seria o mesmo que vc ir jogar seu futebol e usar um calçado- ou tênis com tachinhas dentro e no dia seguinte saber que ia calça-lo de novo.

2. Pequenas Feridas

Os cavalos, devido a seu tamanho podem se ferir em várias situações, exemplo, baias com portas estreitas, porteiras com pontas de pregos ou parafusos,
caminhos irregulares ou pedregosos, vegetação espinhosa em pastos ou borda de piquetes, presentes em seu trabalho ou uso diário.
Os cascos, boletos, machinhos, são extremidades que costumam ser mais afetadas, e como são zonas sensíveis no corpo do animal devem ser tratadas de imediato, para que no desenvolvam infecções complexas de serem tratadas.
O primeiro passo para sanear uma ferida sangrando é a limpeza completa do local, com os mesmos água limpa e fria e sabão neutro, degermante, agua oxigenada, etc.
A água fria ou gelada ajuda a contrair os vasos e estancar o sangramento.
Só com a ferida limpa, podemos avaliar sua extensão e eventual gravidade. Se for um corte profundo que exija pontos, deve-se acionar de imediato o veterinário. Enquanto ele não chega compressas de gase para pressionar o local e tentar conter o sangue.
Após os pontos, o Veterinário deverá recomendar um antibiótico e dependendo da situação do corte, do agente causador, uma dose de vacina anti-tetanica.
Se for superficial, depois de limpá-la com uma gaze limpa de dentro para fora volta-se a lavá-la com degermante e depois Iodopovidona,
Quando limpa e sem sangue, aplica-se as pomadas cicatrizantes como Alantol, ou Unguentos.No dia seguinte, sempre se deve lavar, higienizar novamente antes de aplicar mais pomadas.
O normal é que um machucado superficial possa mostrar sangramento leve por até meia hora, caso passe desse tempo, chame o Veterinário.

3. Lesões nas patas, boletos, tendões: prevenir é curar

Batidas, pisoteios, troca de coices no campo, animais a campo devem ser vistoriados diariamente. Batidas em obstáculos no treinamento, pisar em buracos no solo, podem causar distensões, estiramentos, inchaços de boletos.
Adotar algumas medidas preventivas pode reduzir os riscos do cavalo sofrer com lesões maiores e mais graves.
Por exemplo, o uso de ligas de descanso impede que os tendões fiquem intumecidos com liquido linfático, boleteiras, ligas de trabalho, são equipamentos necessários e de ordem preventiva.
Situação das mais comuns onde cavalos sofrem lesões nos inferiores é a do transporte. Cansamos de ver cavalos caríssimos, campeões em suas modalidades chegando a locais de prova sem condição de competir, perda de dinheiro, de oportunidades de valorizar ainda mais o animal, porque foi transportado sem qualquer proteção nas patas, cauda, etc. Essas ligas todos sabemos só podem ser usadas no máximo 12 horas seguidas.

Outros elementos são as capas. Los cascos, por sua vez podem ser seriamente lesionados se o cavalo, por falta de cuidado do cavaleiro ou tratador pisar em cima de cacos de vidro, pregos dobrados, ou materiais pontiagudos esquecidos ou jogados perto das baias, entre estas e o piquete ou arena.
Aí o risco de infecção é iminente e deve-se chamar o médico.

4. Tomar a temperatura

Cavalos tem febre de um dia para o outro.

O comportamento do cavalo passa muito rápido de normal a febril, principalmente nas viradas de tempo, no inverno, por um banho dado muito tarde sem que ele pudesse se aquecer fora da baia.
A febre, como para o humano, é um sinal de alerta infeccioso. Vistoriar todo o cavalo e descobrir a causa o quanto antes é fundamental.
Se estamos fora de casa, você pode ver a febre nos cascos, se não tiver termômetro, nas orelhas que se estiverem muito quentes pode ser febre, e para ter certeza devemos medir a pulsação em repouso. Batimentos acelerados também indicam anormalidade.
Neste caso, isola-se o cavalo e deve-se voltar para a sede da fazenda, ou rancho o quanto antes e ter certeza da febre com um termômetro retal.
Orelhas podem ainda estar aquecidas por outras coisas além da febre, só é seguro que se estiverem frias não tem febre.

5. Desidratação

Na hospedagem do cavalo, bebedouros automáticos e água fresca a vontade são mais importantes do que comida

A desidratação pode ser causada por oferta de água continuadamente menor do que a necessidade deles. Outra causa é o esforço intenso sob forte temperatura ou nas horas de sol mais escaldante, lembrando que moramos em zona tropical ou sub tropical.
Para saber se ele está desidratado deve-se beliscar a pele e se ela volta á posição normal bem rápido é porque está normal, mas se demora mais de três segundos para voltar ao normal, esse é um sintoma de desidratação. Nessa situação, além de oferecer água à vontade, se for pós esforço, deve-se ministrar entre dois a cinco litros de soro.
Bem, estes apenas alguns indicativos para o manejo seguro e preventivo dos casos mais comuns que encontramos no dia-a-dia das propriedades onde se criam ou hospedam cavalos.

Boas cavalgadas a todos lembrando sempre que ter um cavalo é fazer-se cargo de uma responsabilidade muito grande.

Esse material foi compartilhado com os amigos do Mundo do Cavalo.

Melhorar a comunicação entre Cavalo e Cavaleiro

O cavalo

Cavalos não podem falar por meio de palavras, mas seu corpo tem uma linguagem sistematizada com todos seus sinais próprios. Sempre que você abordar um cavalo, deve levar algum tempo para ler o que está te dizendo. ( A Horse publicou uma série de artigos sobre o que dizem orelhas, caudas, olhos, corpo). Isso pode permitir que você saiba mais a respeito de como ele está se sentindo, possivelmente o que ele está pensando, e você ainda poderá antecipar a sua próxima movimentação. Cavalos lhe dão muitas pistas, por exemplo, quando fico alguns dias longe do Rancho e retorno às baias, sei perfeitamente quem trabalhou, quem está estressado, eles me vêem e é claro como água, parecem crianças contando ao pai o que aconteceu na escola, de bom e de ruim… e se for esse o caso, tiramos ele da baia, chamo o tratador e treinador e começo a comentar o que vejo e eles já sabem que não adianta mentir ou disfarçar, a cada pergunta minha, o cavalo responde.
Estreitando o foco, aumentando sua atenção, você ganha informações sobre o humor dele e sobre o estado de espírito do cavalo. É importante também manter os instintos naturais do cavalo, claros em sua leitura. Por natureza, cavalos são criaturas de fuga e por isso quando assustados por ameaças humanas sua primeira defesa é fugir.
Se eles não podem escapar, eles vão lutar, e podem fazer com força equivalente ao seu tamanho e força de modo surpreendente, chutando, mordendo ou manoteando para proteger a si próprios. OLHE BEM: ELES TEM ESSE DIREITO! RESPEITE SEU INSTINTO DE SOBREVIVÊNCIA, está gravado em seus gens que o ser humano é um problema na vida deles. Temos o dever de mostrar que não precisa ser assim.
A idade de um cavalo também pode influenciar no seu comportamento, como cavalos jovens não possuem um amadurecimento emocional e mental, extensão e atenção e maturidade que só pode se desenvolver com a idade. Os traços de personalidade também podem ser um fator; temos uma égua que chegou em casa, muito, muito arredia e defensiva, que nega qualquer aproximação em sua cabeça, nunca havia sido equitada até 8 anos, era de cria a campo, estamos há um ano e meio trabalhando sua confiança e tivemos grandes avanços: não é que sua primeira cria conosco traz comportamento semelhante, que só não é igual porque desde o nascimento fizemos o imprinting e mexemos com ela todos os dias?
É como todos os seres humanos que são únicos, diferentes, portanto, é assim com cada cavalo. O treinador deve ser capaz de se adaptar a cada cavalo diferente, pois cada situação é única.

Alguns obstáculos potenciais no processo de comunicação

Quando o equitador ou o tratador não tem tanta experiência e não sabem o que estão de fato procurando com aquele cavalo, ou como interpretar os sinais da linguagem dos cavalos. A fim de fornecer um ambiente seguro para o novato Cavaleiro, a supervisão e orientação devem ser fornecidos em todos os tempos, treinamento seqüencial sobre o comportamento de cavalo e como manipulá-los com segurança no terreno.
Não prestar atenção à atitude do cavalo, nem para as dicas que o cavalo fornece são complicadores na comunicação. Ao trabalhar com cavalos, a interação entre cavalo e treinador deve haver um intercâmbio permanente e o treinador deve exibir foco. O condutor ou tratador que não está familiarizado com o cavalo deve gastar algum tempo para conhecer os cavalos que está trabalhando perceber como é benéfica a relação recíproca.
O cavalo também precisa de tempo para conhecê-lo, para ganhar a confiança e assim poder cooperar no treinamento. Criar condições para o cavalo escolher o certo e ficar confortável é fundamental. Escolheu errado, em vez de apanhar covardemente ele deve permanecer no desconforto da pressão. Eles têm que ter o tempo para que se sintam seguros e compreender o que você espera deles. Isso ajuda a explicar por que alguns cavalos são mais facilmente capturados por uma pessoa familiar, em vez de um estranho.

A importância da escolha do arreamento correto

Como em qualquer atividade, física ou esportiva, as atividades eqüestres também requerem que se escolha o melhor equipamento, tanto para proteção do cavalo, (coluna, musculatura, boletos e articulações e boca), como para o cavaleiro.

Quando agendamos cavalgadas no Rancho, ou mesmo nas clínicas de “Horsemanship”, “imprinting” , escolarização de potros, ou nos cursos para liderança com apoio de cavalos, mais de uma vez, tive que dispensar o cavaleiro por ter se apresentado sem o equipamento básico para a atividade, como por exemplo, não dá para entrar no piquete ou no redondel de bermuda e tênis, assim como não dá para entrar em uma quadra de tênis de jeans e botina, ou no futebol com uma bota cano alto, concordam?

Bom, se separarmos os equipamentos usados no cavalo daqueles usados pelo cavaleiro, vamos começar pelos do cavalo. O chamado arreio. Quando falamos no plural, de todos os equipamentos completos, falamos em arreamento completo, e cada atividade com cavalos –tem o seu, por exemplo, um cavalo de trote ou um atrelado a uma charrete ou carroça, os usados na iniciação (doma de baixo), no treinamento (cada modalidade esportiva tem seu tipo recomendado), na lida de campo, etc.

A escolha tem a ver com o uso do Cavalo. Mas, procure considerar questões como o peso e altura do cavaleiro/amazonas e o tamanho do próprio animal, em termos de altura, comprimento do tronco, pernas e estrutura óssea. É como sua roupa, voçe tem 1,90 e 90kg, não pode usar uma sela western infantil, tem que ter uma cuja dimensão do assento e regulagem dos loros do estribo lhe sirvam, parece óbvio, mas não é, porque canso de ver em cavalgadas e passeios, pessoas mal posicionadas e se queixando de dores e amortecimentos nos pés, dores nas costas, etc.

Claro que outros fatores, até mesmo a respiração quando montado influi no surgimento de dores, mas o equipamento errado é básico. Também considere questões de costumes e tradição de cada raça, não se monta em Mula com seleta inglesa, por exemplo, e nem se vai a uma cavalgada ou prova de western vestindo culote, casaca e cartola, que ficam lindos numa prova olímpica de dressage, use o arreamento e trajes típicos e se sentirá bem e confortável.

Evite comprar selas e equipamentos como cabeçadas e embocaduras numa selaria especializada nesta ou naquela modalidade, ou como se entra numa loja de shopping e tanto faz isso ou aquilo. Antes de ir á compra, leia, estude, observe, saiba o que quer, pintou dúvida, pergunte uma, duas, dez vezes até se sentir seguro, sem vergonha do que o balconista vai pensar… afinal quem vai montar é você. O vendedor da selaria tem que gostar e ter calma e dedicar tempo a quem é novato, sem se importar em rotular o cliente como eu já vi… “lá vem aquele abeia”… se o vendedor estiver impaciente querendo empurrar qualquer coisa, pelo preço,, não perca seu tempo, vá a uma outra selaria. Ele deve ser um consultor profissional.

Em selarias profissionais no interior, onde o seleiro fabricante está por lá, eles tomam suas medidas, peso, altura, cumprimento da perna, da coxa, cintura, quadril, o ideal seria que cada sela fosse fabricada sob medida para cada conjunto, determinando-se o tamanho do assento de acordo com o usuário da sela. O conforto e a segurança do cavalo deve estar em primeiro plano e você com uma fita métrica medir antes o perímetro do tronco na altura da cernelha do animal e nas costas, para comparar na selaria se o modelo de sela dará a abertura suficiente para encaixar nele e não lhe causar pisadura na coluna. Se isso ocorrer você ficará semanas sem montar, por isso, barato nesse tema é caro. Uma boa manta, um baixeiro profissional com 4 camadas, feltro, borracha e lã, protege de fato as costas e a coluna dele e seu comportamento estará sempre tranqüilo… imagine você praticando esporte com um tênis ou chuteira dois a três números menores… insuportável depois de minutos, não é mesmo?

Costumamos separar os Cavalos pela função, como a lida de campo, cavalgadas e lazer ou esportes e aí em diferentes sub modalidades, como as western (laço, baliza e tambor e apartação), clássico (salto- dressage, CCE), hipismo rural, enduro e provas de marcha. Como o ser humano, o cavalo pode ser atlético, musculoso, longelíneo ou curto, compacto,isso altera a posição da sela, em cavalos compactos por exemplo, você se senta sobre seus rins, forte ou fraco na sua estrutura morfológica. Para você ver, antes de escolher equipamento precisa observar e conhecer bem seu próprio cavalo. Há uma relação direta entre a morfologia e a funcionalidade, e em breve a Horse deverá publicar um texto meu sobre isso. Você deve conhecer também um pouco mais sobre os aprumos, se ele tem garupa longa, plana ou derreada, qualidade dos seus apoios, etc.

Tudo na sela tem um por que.

Vejamos alguns exemplos práticos. O Puro Sangue Inglês, de conformação longelínea, alto e esguio, cavalo de corridas, exige seleta mais leve (tipo inglesa).

Sela Black Horse feita na India

Já na raça Quarto de Milha ou mesmo o Crioulo, cavalos fortes e parrudos, com físico de atletas usados quase sempre em galopes seguidos de alto e partida a galope trabalha com uma sela de cabeça e ombros salientes, para facilitar o desempenho do cavaleiro em provas diversas (Tiro de Laço, Freio de Ouro, com esbarradas, Apartação, Três Tambores). O cavalo Árabe, especialista em provas de regularidade como Enduro tanto pode ser cavalgado com sela Inglesa, Western ou a Australiana, dependendo da atividade. As raças de cavalos de marcha utilizam selas tipo Australiana, com diferenciações no tamanho e altura da patilha, com ou sem paralamas. Os Lusitanos e Andaluzes (hoje o P.R.E.- Pura Raza Espanhola), nas provas de adestramento, dressage e CCE tanto podem usar a seleta inglesa como selas típicas para a alta equitação, passo doble, piafê, etc.

Na lida de campo, no uso dos muares e cavalos, predomina o uso dos arreios, com modelosque variam de uma para outra região, conforme o costume, com cutianos, banana, com ou sem.

A indústria de selaria hoje  no país, movimenta perto de R$ 100 milhões de reais por ano, (segundo estudo do agronegócio Cavalo, coordenado pelo professor Roberto Arruda da ESALQ-USP-Piracicaba) e seu desenvolvimento está ligado diretamente ao maior conhecimento morfológico e fisiológico do Cavalo. Sua base ainda é o trabalho especializado, personalizado e ainda feito por mestres seleiros e seus aprendizes.

Para adquirir equipamentos profissionais, adequados a cada tipo de uso, com qualidade e bem estruturados para um uso duradouro e confortável para o conjunto, costumo recorrer a profissionais seleiros como o José Marques, atrás do Jockey Clube de SP, a Selaria D.A. em Bragança Paulista, a Selaria G.A. em Jaguariúna, ou pela internet, a selaria dias em Curitiba que entrega para todo Brasil, no www.selariadias.com.br .

A Fazenda Tabatinga um berço do Marchador

Desde 1912, a história da Tabatinga tem uma base: o binômio ‘Conhecimento & Observação’, que foi sempre passado, a três gerações de descendentes, pelo Cel. Severino Junqueira de Andrade.Na Zona da Mata, a primeira fazenda comprada foi a São Luís, que, por sinal, inspirou a marca dos animais Tabatinga que têm um ‘SL’ entrelaçados na pá esquerda.

O plantel de Mangalarga Marchador da Fazenda Tabatinga – Santana do Deserto (MG), é reconhecido como um dos melhores dentro da raça. Estes animais são resultado do trabalho dos homens da Tabatinga, que se dedicaram à eqüinocultura por três gerações.

A história da Fazenda Tabatinga inicia-se em 1912, quando o Coronel Severino Junqueira de Andrade deixa a Fazenda Cafundó, em Cruzília (MG), e radica-se na Zona da Mata, levando os cavalos, como fizeram outros parentes que saíram do Sul de Minas indo para São Paulo.

Na Zona da Mata, compra a Fazenda São Luís, em Matias Barbosa (MG), que lhe inspira a marca dos animais que têm um ‘SL’ entrelaçados na pá esquerda. Entretanto, a São Luís sempre foi mais voltada à lavoura, enquanto o Coronel sempre teve maior inclinação pela pecuária. Assim, decide adquirir a Fazenda Tabatinga.

Grande observador, extremamente sistemático e, principalmente, cavaleiro de habilidade, selecionava os animais eliminando do plantel aqueles em que não via as qualidades que julgava indispensáveis. Desta forma, imprime em seus cavalos as caracterísitcas que os fazem excelentes animais de sela: estrutura, resistência, comodidade e docilidade.

Mesmo afastado do Sul de Minas, o Coronel Severino sempre voltou às origens para rever parentes e amigos que cultivou. Na época, a troca de reprodutores eqüinos – por empréstimo ou definitiva – era comum. Quando julgou necessário, levou o reprodutor Clemanceau II J.B., do Campo Limpo, que foi pai de Nero, gerador do grande Tabatinga Predileto.

Há muitos anos, um garanhão com o nome de Predileto foi levado da Tabatinga para a Fazenda Abaíba, por Erico Ribeiro Junqueira, que confirma as qualidades do animal, dizendo que foi o reprodutor mais importante da Abaíba, fixando um tipo que ainda hoje pode ser observado na tropa. Basta notar que Predileto foi pai de Eldorado, que foi pai de Providência Itu, pai do reprodutor da Abaíba, o Reserva.

Experiente, o Coronel Severino foi passando seus conhecimentos aos sucessores. Não de maneira didática, mas de forma um tanto seca e até mesmo parabólica, que só aos mestres é permitido. Certa vez, o Coronel e seu genro, Dirceu Vilhena Fabiano de Araújo, passavam por um pasto e viram uma novilha em desabalada carreira. Olharam e o Coronel comentou:

“- Esta novilha está com alguma coisa na garganta.”

Chamaram o administrador e tocaram a novilha para o curral. Examinaram-na. Em sua garganta havia um pedaço de osso, que retirado, voltou o animal à normalidade.

Admirado, Dirceu perguntou ao sogro como havia percebido. A resposta veio seca, bem ao feitio do Coronel:

“- Vocês não observam.”

Nada mais. Seus discípulos que aprendessem a observar melhor.

Aprenderam. E Dirceu, com a morte do sogro, passou a administrar as fazendas. Viajava semanalmente da Tabatinga à São Luiz, a cavalo. Andava 72 quilômetros por dia. Os animais precisavam ser bons.

Sob a administração de Dirceu, a Tabatinga formou um plantel de fêmeas exclusivamente filhas de Predileto. Este lote, já sob a orientação de Raul, filho de Dirceu, foi sabiamente cruzado com Cossaco, que permitiu a formação do plantel atual.

Na administração de Raul, a linhagem dos animais Tabatinga atinge o apogeu, obtendo o reconhecimento de suas qualidades. Tendo convivido pouco com avô, Raul teve em seu pai o mestre sereno, amigo e sábio, aprendendo com ele os segredos da equitação clássica, que adaptou à sela do dia-a-dia. Hoje, em Raul pode-se ver as qualidades de grande cavaleiro, possuidor do raro dom de sentir o animal, para fazer o acerto.

A tropa dos Mangalarga Marchador da Tabatinga é resultado da dedicação, aliada ao binômio ‘Observação & Conhecimento’, desde os tempos do Coronel Severino Junqueira de Andrade.
Ricardo L. Casiuch

No Rancho São Miguel a nossa primeira égua da raça é justamente uma descendente do Predileto, a ótima égua SAGA BANCO que adquirimos em condições especiais do amigo Adhemar Magon.