Quantas pessoas, por exemplo, compram cavalos com mais de dezoito anos, com problemas crônicos de articulação, não podendo mais ser usados sequer para passeios mais longos, ou então aquele que quer iniciar uma criação e “seu amigo” abusa da sua confiança e lhe vende um garanhão ou até mais de um, criando problemas, ao invés de soluções.
Certa ocasião recebemos uma visita no Rancho de um apaixonado por cavalos, com alguns recursos para investir no inicio de uma criação de Mangalarga, que relatou que seu amigo da Associação lhe havia vendido 5 potros machos inteiros e eles estavam crescendo e ele começava a ter problemas, mas acredita seriamente que estava iniciando sua criação. O pior é que em vez de comprar fêmeas em idade de procriar, ainda pagou um valor acima do mercado nos machos.
Isso para não falarmos de cavalos mal iniciados, cheios de maus hábitos, do tipo “roda e não deixa montar”, “só trabalha por medo se submetido a severas chicotadas”, o que as pessoas de bem não fazem aí adultos e crianças colocam sua segurança em risco, podendo sofrer acidentes e traumas, “cavalos que saem andando assim que você coloca a ponta do pé no estribo”… e por aí vai.
Aqui, vamos tentar apresentar um resumo de cuidados que tem que ser tomados, na avaliação do animal, e que precisam ser seguidos. Muitos já escreveram sobre isso e ainda assim não param de acontecer casos como citamos acima.
Talvez porque um componente que não é racional, não tenha sido considerado: a emoção do comprador. Aquele brilho nos olhos, aquele coração acelerado diante da possibilidade de ter aquele cavalo da cor que você sempre sonhou. É essa emoção que leva, inclusive pessoas experientes a cometer erros.
Quais os fatores iniciais que tem que ser considerados antes de ir ver o animal?
a)Para qual o uso se destina o cavalo. Disso depende a opção pela raça. Exemplo: se você pretende fazer enduro opte pelo árabe, se for para os esportes como tambor, baliza, apartação, as raças são – quarto de milha-appalloosa-paint horse, se for para cavalgadas, passeios- deve-se procurar cavalos como Mangalarga Marchador, ou Mangalarga, para o hipismo clássico, Dressage ou CCE opte pelos Puro Sangue Lusitano, Brasileiro de Hipismo, Anglo-árabe, se for para a lida no campo, provas de rédeas, temos o Crioulo, além dos Mangalargas e do próprio Campolina.
b)Macho ou fêmea – se você não é um criador que já tenha um plantel numeroso de éguas opte por um macho castrado, ou uma égua experiente. Cavalos inteiros ou Garanhões tem uma função biológica: reproduzir. E se você está apenas começando e tem suas 5 a 10 éguas ainda pode comprar doses de semen dos cavalos comprovados com o raçadores. Para passeio, machos castrados experientes e confiáveis é a melhor opção.
c)A idade é importante também. Se o cavaleiro for novo e inexperiente, ou criança, compre um cavalo mais maduro, mais pronto, acima de 8 anos, que tenha sido bem iniciado, goste de pessoas- lembre-se do ditado: cavalo novo para cavaleiro velho; cavalo velho para cavaleiro novo. Evite um potro até 4 anos, ainda emocionalmente instável, recém domado, para uma criança ou um jovem. É o mesmo que mandar duas crianças saírem sozinhas para atravessar São Paulo. Há boas chances de acontecerem imprevistos.
d)Por fim, qual o seu orçamento para a compra e também para uma hospedagem e manutenção adequadas.
Observação Cuidadosa
Na Baia- observar o comportamento do animal, se ele é dócil ao contato, deixa-se encabrestar sem negar a cabeça, se ele se apóia sobre as quatro patas, ou se sempre está com uma poupada, se os boletos (tornozelos) estão secos e sem ovas, sem inchaços, se as orelhas permanecem tranqüilas sem se abaixar para trás, diante da aproximação do visitante, o mesmo com a cauda se ela não se coloca entre as nádegas ou se ele não se abaixa, nem treme, se não ronca ou dá mostras de querer morder, se não tem hábito de morder a porta, ou de engolir ar.
Fora da Baia, sempre de dia
– cavalo colocado em terreno plano, horizontal, sem capa e sem arreios e selas, verificação da identidade, se tiver registro, se a marca alfabética coincide com a do papel, verificação da idade pelos dentes, tocar e pressionar os tendões perto dos boletos, para ver se ele sente dor, se tira a pata protegendo-a, a saúde dos cascos se estão limpos sem mau cheiro nem carcomidos nas beiradas, se sente dor (ver isso apertando a pinça do casco com a turquesa), como ele se equilibra, se as patas não estão desalinhadas, se ele pisa de modo alinhado, ou se pára como as patas na posição “dez para as duas” (as duas viradas para fora) ou viradas para dentro (cambaio), se a sua linha de dorso é reta e não “selada” o que indicaria uma escoliose na coluna.
Fora da Baia, em movimento
– primeiro de tudo, se não manca, e aí deve ser avaliado em terreno duro, não em terreno mais macio como areia… se não bate uma pata na outra, as de trás nas da frente ou uma na outra de lado, em ritmos diferentes, a passo, no trote ou marcha, desmontado e puxado ou montado em linha reta ou em círculos. Se depois de dez a quinze minutos de trabalho ele transpira muito ou espuma demais, (isso indica que ele está fora de forma), se suas passadas são amplas e roladas.
Montado por Você ou pessoa da sua confiança
Prova quase final, se você se sentir confortável, confiante, se ele tiver reações boas aos comandos a um simples toque de rédeas, se aceitar ser montado parado, se sai na mão certa ao seu comando, se pára tranqüilo, sem exigir força, se não “briga” com as embocaduras. Nesse ponto, você pode estar perto de tomar a decisão certa.
Exame Sanitário
No Brasil, um exame é obrigatório para a emissão da GTA (Guia de Transporte de Animais). É o exame sorológico de A.I.E. (Anemia Infecciosa Eqüina) contagiosa e sem cura, de notificação obrigatória com validade de três meses. Mas além desse exame, você deve pedir um hemograma (ver contagem de células – se não há sinais de infecções ou anemia). É essencial a opinião de veterinário especializado em cavalos, da sua confiança. Se for um comprador experiente, a opinião dele é fundamental para validar ou não a compra e se for iniciante, mais ainda, e deve ser feito um exame nos dentes – se não tem pontas – e no palato (céu da boca). Você deve, com apoio do veterinário fazer um conjunto de perguntas sobre saúde do animal, ocorrência ou não de cólicas, recentes, se teve aguamento-laminite, se já foi operado, se engole ar e tudo isso documentado por escrito, anotando na frente dele as declarações do vendedor que podem ser anexadas ao contrato de compra e venda.
Pequenas espertezas e falsificações
– evite olhar cavalo pré-aquecido – há manqüeiras que somem quando ele está “quente”, há problemas reumáticos que podem ser ‘escondidos” com um anti inflamatório, portanto olhe o animal mais de uma vez em horários diferentes na mesma semana. Outra esperteza pode ser a injeção de calmantes leves, para esconder cavalos irritadiços. Cuidado com pastas ou massas (inclusive tipo de funileiro) para camuflar rachaduras nos cascos. Se não há muco grosso e amarelado na cavidade nasal – é normal haver alguma umidade no local, se estiver totalmente seco pode ter sido passada uma esponja para “secar o muco”. Verificar se há cicatrizes (tinturas da cor da pelagem podem escondê-las). Ver o tipo de ferraduras que usa, se elas são mais grossas de um lado do que de outro isso esconde andamento “cambaio”. Conflito entre marcas registradas no documento (se houver registro) e as existentes no cavalo – para não haver troca de documento.
A compra do cavalo é um investimento importante. Pode ser o animal do seu lazer de final de semana, ou mais um cavalo para o sitio ou chácara para quando as crianças vem visitar, mas acima de tudo é uma escolha que o tornará responsável pelo cavalo nas horas boas e ruins. Se não tiver hospedagem própria visita várias opções antes de comprar e levar para lá. Caso voce se arrependa do local, lembre-se que cavalos são animais estáveis e sistemáticos, são animais de manada e de grupo e cada mudança representa um estresse similar ao que os humanos tem numa mudança, ainda mais porque você sabe por que e para onde está se mudando e ele não. As mudanças abaixam a resistencia imunológica e podem surgir crises de babesiose (doença parasitária sanguinea causada pelo carrapato, comum em todo Brasil) isso fará ele perder peso rapidamente e muitos gastos para tratamento quimioterápico).
A compra de cavalos em Leilões deve ser deixada para criadores mais experientes. Há leilões de criadores, que ofertam matrizes ou cavalos que estão sendo descartados e há leilões de cavalos de sela.
Os leilões de criadores demandam contatos antes do leilão com o criador, na fazenda, pesquisas sobre a genética, que sangue você busca, porque ele está vendendo, que produtos o animal vendido deixa na fazenda, o que ele transmite aos filhos em termos de caracteristicas.
O exame do cavalo leiloado deve ser feito seguindo-se as orientações deste artigo, normalmente durante a tarde antes das ofertas quando abrem para o chamado “test-drive”.
Um dos serviços que o Rancho São Miguel oferece é a consultoria para Compra e venda, ou seja, quando você decidir comprar um animal, podemos acompanhá-lo e ajudar nesse roteiro de avaliação.
* José Luiz Jorge é horseman, instrutor filiado ao CHA, proprietário do Rancho São Miguel e autor do Livro Conversando sobre Cavalos da Editora Rígel.