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Conseguir confiança, respeito, cooperação do seu Cavalo é uma longa jornada de amor, dedicação, compreensão mútua, flexibilidade fisica e mental para os dois e isso é tarefa de todos os dias, de todas as horas que estamos trabalhando com eles.
Cavalos não comportam soluções prontas, receitas simples, apertar esse botão e conseguir aquilo que pensa ser o certo. Quase nunca, o que voce apenas pensa ser o certo é de fato o certo. A boa relação com o Cavalo começa com o aprendizado do uso do seu “feeling”, ou seja, da sua intuição, sensibilidade, coração e exige que sejamos firmes com a gente mesmo e justos com o Cavalo, facilitando a cooperação e dificultando a chance de confronto, defesa e fuga.
Não tem pessoa séria que diga: “tá vendo esse cavalo… vou fazer isso, isso e aquilo e vai funcionar assim”. Olhar, ler o cavalo e respeitar o Cavalo no tempo dele é muito importante para o Cavalo e ele sabe e sente isso. Afinal, eles não são uma peça de equipamento ou uma máquina que você vai e compra com um manual do proprietário para usar bem.
Eles têm sentimentos e tomam decisões, algumas delas são boas, algumas não são tão boas assim, mas farão parte do caminho da experiencia com cada um deles.
Mas temos de viver e trabalhar com isso e melhorar muito nossa comunicação com eles,na linguagem deles, e talvez quando a gente repetir, tentar outra abordagem, fique mais claro e eles possam entender algumas das nossas necessidades e igualmente temos de entender as necessidades de cada um deles, em cada fase da sua escolarização.

Mas não pode esquecer nunca que você está trabalhando com um indivíduo.
Então, portanto; Trabalho com cada um deles como eles são… não como eu quero que eles sejam, mas o que eles estão podendo e conseguindo ser em cada momento.
Insisto que a partir do post que tenho no site sobre fazer a boca e a nuca do cavalo, com mais de 80 comentários até outro dia, a grande maioria girando em torno de qual embocadura é melhor para conter o cavalo, ou para o cavalo fazer isso e aquilo, ou ainda, meu cavalo acaba de ser “domado” mas não faz isso ou faz aquilo… e minha resposta mais refinada tem sido na direção: “ voce tem que se esforçar por melhorar a qualidade do seu trabalho montado, da sua sentada e do seu trabalho de pernas, do seu equilibro, compreenda mais sobre transferencia de peso, sobre centro de gravidade, sobre como ele precisa sentir para deslocar a paleta ou as pernas”,…
As “armas” que ainda se usa para baixar cabeça, a força que se põe nas mãos, o peso que se põe na boca, as tiradas de queixo, são formas acabadas da estupidez humana, é o que consigo dizer depois desses quase 20 anos.
Claro que curiosos, vendedores de ferramentas magicas, cabrestos especiais quase automaticos para forçar ou induzir respostas, se multiplicam por ai. Tive o desprazer outro dia de ver um vídeo onde chamaram de cabresto gentil uma sessão de pressao e fuga com um potro que não terminou com adesão voluntária, com mudança de atitude mental, e nem poderia, pessoas que não sabem chegar, sentir, ler a emoção dominante do cavalo, mas com adrenalina de controlar tudo, contida “para ingles ver”, mas cheirada e sentida pelo potro não podem obter confiança e passar segurança ao potro.
É o mesmo que ocorre entre pessoas quando uma fala uma coisa e faz seu oposto. Logo mais a frente serão desmascaradas. Podem enganar algumas pessoas o tempo todo, podem enganar todas as pessoas pouco tempo, mas nunca todos o tempo todo. Mas o cavalo é mais implacável. Ele nunca é enganado. O cheiro da adrenalina dos vendedores de soluções mágicas e cabrestos especiais não enganam o cavalo um só minuto. Porque dizem que o cabresto é gentil, mas o cheiro de medo e adrenalina não é, e dái o cavalo salta, corcoveia, quer se livrar e fugir de perto.
Mania besta das pessoas quererem se aproximar do cavalo para aplicar um método de contenção e imobilização eficiente.
Cavalos sentem e tomam decisões. Lidere-o, esforce-se para merecer sua confiança. E eles não precisarão de contenção forçada eles estarão ali ao seu lado, prontos para jogar junto.
Vivi uma experiencia desse tipo terrivel e num instante quase perigosa, num curso no interior de SP, quase me tornei o “zé sem orelha”, mas esquivei a tempo, na linguagem do cavalo alfa, aquele que nunca é mordido, sintonizei com a energia da égua assustada e defendida e ela a seguir deslocou a paleta, flexionou o pescoço, e ficou durante toda uma seção de imprinting com a cria dela, com o pescoço na horizontal, flectido e confiando totalmente na abordagem que construímos.
Sem botão liga-desliga, sem cabresto mágico e isso é uma das fases de um bom horsemanship, de um bom relacionamento.
Para muitos curiosos, precisamos compartilhar conhecimento e dar orientação, para mesquinhos, limites, aos que gastam dinheiro em enfeites, fivelas, botas de avestruz, mas querem montar a cavalo numa sela ruim, com manta fina demais, com cilha barata que belisca todo peito do Cavalo e fazem ele trabalhar mal dirigidos o dia todo, com dores, com pisadura na coluna, com assaduras, mal ferrageados, precisamos educa-los.
A educação do cavaleiro e proprietário é responsabilidade de treinadores, de criadores, de vendedores, de quem vive pelo Cavalo, mas ainda não somos a maioria, perdemos para os que vivem do cavalo.
Quer comprar ou ter um cavalo? A primeira pergunta para que? Resposta ok, passamos ao segundo ponto, ter um cavalo não é status, não se pode comprar por impulsos, não pode ser para mostrar aos outros, e nem apenas para usufruir. Significa responsabilidade, compromisso mutuo, prazer em ensinar e principalmente aprender com o Cavalo … se for nessa ordem teremos pessoas melhores em um mundo melhor. É a contribuição do Cavalo para nossa sociedade egocentrica, vaidosa, autossuficiente, violenta e etc.
“Para muitas pessoas ter e andar a cavalo é uma jornada sobre auto-descoberta, encontrar coisas que você precisa para ajustar, alterar ou melhorar.
Quando você achar que o cavalo é compelido e interessado em você, algo em você muda. Isso pode ser a cura ou o começo de uma mudança profunda, primeiro na forma de ver as coisas, na sua relação com o tempo delas acontecerem e depois uma mudança nos seus valores, no que de fato importa. O tempo e a distância dessa boa viagem é o de cada um. Sem receitas.
Há uma diferença entre dominar algo físico e trabalhar com um animal. Há um componente espiritual para trabalhar com um cavalo. Você está lidando com o espírito de um animal vivo que sente, se defende e toma decisões que fazem sentido na mente dele.
Na natureza este animal não teria nada a ver com você. “Natural horsemanship” são só palavras. Não é de fato natural porque entramos sem pedir licença na natureza deles e quase sempre queremos mais tirar do que compartilhar, como em tudo. Há uma abundância de confiança da parte dele que deve servir para ensinar algo a cada um de nós.
Imagine se os seres humanos pudessem ser tão gentis e generosos como o cavalo é conosco?
Jose Luiz Jorge
Horseman*
*baseado na pratica e no aprendizado com os Cavalos e nos ensinamentos ainda que distantes de Buck Branaman, Tom Dorrance, Ray Hunt, e dos mestres daqui, Eduardo Borba, Bjarke Rink –referencias saudaveis e afirmativas que temos ao alcance das mãos hoje em dia.

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