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Sempre insisto que a base de todo trabalho com o cavalo começa com a conquista da confiança, o que só podemos obter quando nos esforçamos para ver o mundo como eles, do ponto de vista deles e quando começamos respeitando e deixamos claro que se ele se sentir ameaçado deve usar seus instinto de auto-preservação.
Nossa responsabilidade começa em demonstrar que ele não estará ameaçado quando estiver ao nosso lado. Devemos facilitar a escolha correta, que leva o cavalo a aderir ao nosso projeto de trabalharmos juntos.
O primeiro passo é dedicar tempo para ler o cavalo, seus sinais, sua linguagem própria, a qual compete a nós aprender, praticar, experimentar e obter respostas do cavalo que fazem sentido para ambos.

Já escrevi e muito já trataram também da linguagem corporal, dos sinais que ele nos dá enquanto começamos a nos comunicar de igual para igual dentro do redondel. Mas vale a pena voltar ao ponto de partida, o de que eles na natureza são predados, servem como comida para outras espécies de predadores carnívoros, sem perder de vista que os cavalos nos veem como sendo representantes dessa outra turma. A começar da posição frontal dos nossos olhos, do nosso “jeito” de carnívoros, e que muitas vezes liberamos adrenalina pela pele sem que nos damos conta.
A questão não é racional, a emoção dominante dos cavalos é o medo, derivado de seu instinto de auto-preservação e os humanos, muito cheios de si, quase nunca admitem medo, muitos tornam-se violentos ou agressivos quando sentem-se ameaçados ou com medo. E é nessa hora que liberam adrenalina e esse cheiro está gravado geneticamente no Cavalo como cheiro de perigo.
Portanto quem faz as coisas do velho modo, na base do “vai ver quem manda”, “faça o que mando e aceite tudo, os castigos sem noção, a velha doma na base na vara de bambu, ou pior, em alguns casos, do guatambu mesmo, acabam por minar e aterrorizar o espirito do Cavalo que lhes obedece pelo terror”. Ai esse senhor, dito domador, vende o cavalo a uma pessoa de bem, que não sabe da história e mal leva o cavalo para sua casa, ele sente que o cheiro mudou e parte para a resposta de medo-fuga, sem ser mais castigado, torna-se perigoso para ser montado, arredio ao contato, pode morder, e outros hábitos não desejados. Ai toca nosso telefone e uma voz entre tremula e preocupada demais, quase no limite nos pede: – o Senhor pode dar um jeito de recuperar esse cavalo? É que apesar dele ser assim eu ainda gosto dele.

Os cavalos naturalmente sentem medo de movimentos bruscos e objetos erguidos sobre suas cabeças. Quando os cavalos em sua história de vida sofreram abusos ou foram negligenciados, eles têm motivos para não gostar de pessoas e muitas vezes são ainda mais temíveis.
Uma terrível característica é “a cabeça tímida” – aquela que vira de lado quando chegamos perto, acompanhada ou não de uma murchada de orelha e do arregalo do olho, (quando mostra a parte branca e a cabeça sobe até o terceiro andar). Isso acontece principalmente se o cavalo foi atingido no rosto ou teve suas orelhas torcidas ou puxadas. Um cavalo “tímido” de cabeça” responderá sempre assustado ou afastado para trás quando você tentar acessar sua cabeça. É preciso algum esforço e paciência para ajudá-los a superar isso. Lembre-se sempre de ser confiante em torno de um cavalo. Calmo, seguro, com a alma leve, claro na comunicação do que quer fazer – não fixando seus olhos nos dele, com atitude corporal calma, sem no entanto deixar de ser firme e assertivo.

Algumas dicas de abordagem e aproximação

1.Sempre aproxime-se do cavalo devagar e com calma olhando desde o pé traseiro para a cabeça, chegue sempre pelo lado nunca de frente e não mire seus olhos primeiramente. O predador quando ataca olha nos olhos. O cavalo é um agente terapêutico porque nos obriga a auto conhecimento, a uma auto percepção sobre como estamos nos sentindo quando chegamos perto deles. O cavalo é um amplificador das nossas emoções. Chegue calmo e assertivo, firme e tranquilo e terá sempre um cavalo tranquilo. Chegue acelerado, agitado, receoso, inseguro, incerto e terá um cavalo agitado, fugidio e perigoso porque tende a se defender do que para ele seria uma ameaça.
Se você sentir que está nervoso ou instável, não demonstre e não deixe transparecer. Respire profundamente e expire longamente antes de chegar a ele, pense em uma musica que gosta, cantarole alto, relaxe. Observe que o cavalo muda, na hora, até o posicionamento das orelhas quando você age assim.
2.Quando for tocar um cavalo estranho pela primeira vez, chegue de lado e toque primeiro a tabua lateral de seu pescoço, tocando algumas vezes com a palma da mão, depois vá lentamente até seu nariz, mostre antes a costa das mãos com os dedos fechados (dedos abertos parecem garras). Lembre-se que a linguagem do cavalo se baseia em pressão e alivio e eles apreendem o que queremos propor quando aliviamos. Se você levar a mão em direção ao nariz e ele afastar a cabeça, afaste-se um passo e depois repita. Quando você se afasta está dizendo que vai aliviar e ele no momento que percebe isso pode dar um passo em sua direção.
3.Esfregue suavemente o nariz para que ele sinta que não será machucado. Muitos gostam de retribuir esse contato pegando com o beiço sua pele ou manga, diferente de quando ele ameaça morder. Se você ficar com medo ou desconfortável, afaste lentamente a mão, sem gestos bruscos que irão quebrar toda a harmonia da apresentação. Não se pode causar uma “segunda” primeira boa impressão, se assustar o cavalo, vai voltar à estaca zero.
4.Suba lentamente a mão pela fronte, do nariz até a testa, fazendo movimentos lentos e circulares, enquanto conversa com ele com tom de voz calmo e tranquilo, você está tocando um dos dois pontos cegos que ele tem, (entre os olhos- e na cola da cauda), e se ele está permitindo esse contato começa-se a estabelecer uma base de confiança interessante. Nessa hora pode tentar estabelecer contato visual direto, mas faça-o com os olhos semi-cerrados, como os dele, são pequenos sinais que fazem sentido na mente dele.

5.Desse ponto passe para a parte alta da crineira, onde você pode massagear lentamente, descendo até a cernelha e subindo lentamente até perto da orelha, sempre atento às suas reações e às dele, cavalos quando soltos na natureza também se tocam no pescoço, quando amigos, se coçam mutuamente. De vez em quando olhe para ele, ganhando seus olhos primeiro em rápidos segundos, depois desvia de novo, e quando voltar ao contato visual, vá lentamente demorando-se mais um, pouco antes de desviar de novo. Se algo estranho acontecer em volta, como ruídos, movimentos, ignore-os e mantenha-se focado nele e calmo. Ele tem que sentir que pode confiar em você desde as pequenas situações, e dai por diante, ele começará a associar sua presença como um amigo que chega e com ele gosta de estar e “conversar”.
6.Quando depois disso você colocar o cabresto para leva-lo ao piquete, ao redondel ou à pista ele começará a segui-lo confiante e dai por diante é tema para outros enfoques, em outras matérias

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