*Baseado no trabalho do, hoje Tenente Coronel, Jorge Augusto Rêgo da Policia Militar de SP
A equitação, que além de arte é esporte, requer uma preparação física adequada se quisermos que a relação entre o cavalo e o cavaleiro atinja bons resultados.
Esse é um tema muito descuidado no Brasil e talvez apenas alguns cavaleiros de alta “performance” prestem atenção e pratiquem organizadamente essa preparação física, que também é mental, já que “mente flexível, corpo flexível” e para ter a flexibilidade adequada para poder interagir com o cavalo, pedindo corretamente com o corpo, ele deve estar condicionado, flexível, com o tônus muscular adequado.
Quando isso não é objeto de cuidado e atenção, pelo cavaleiro, vemos muitos casos, até em provas internacionais, em que o cavaleiro pesa no cavalo, mão pesada, corpo pesado, respostas fora do tempo e o resultado, via de regra, por exemplo, no hipismo clássico são faltas, refugos, aproximação errada, estouro de tempo.
Na minha visão, o ponto de partida é uma maior consciência corporal do cavaleiro, o conhecimento dos grupos musculares mais usados, mais solicitados e a percepção do conjunto, o conhecimento do centro de gravidade do cavalo e do centro de massa do conjunto que se desloca de acordo com os movimentos.
Por isto esse material do Ten.Cel. Jorge Augusto Rêgo serve como fonte indispensável e complementa o artigo anterior que postei aqui, sobre “Equilíbrio e posição à Cavalo”.
Vamos ao que nos ensina o Ten. Coronel em seu livro Equitação – a preparação física do Cavaleiro – (quando lançado na sua primeira edição por “Affonso & Reichmann” ele era major PM).
“Segundo pesquisas realizadas nos EUA, durante um percurso de salto de obstáculos, o cavaleiro tem seus batimentos elevados a 190 batimentos cardíacos por minuto, um intenso esforço se considerarmos que em repouso o batimento normal é de 60 bcpm.
Mas, esse esforço guarda relação direta com a idade do atleta, assim, para um jovem de 20 anos, a Frequência Cardíaca Máxima pode ser de até 220 batimentos, subtraindo-se a idade, ficamos com 80% disso, ou seja 200 batimentos. Se é um atleta sênior, isso deve ficar na casa de 150 a 170.
Há é claro um intenso esforço fisiológico durante a prática da equitação. Do mesmo modo os níveis de consumo de oxigênio e consumo calórico são elevados para atender essa demanda.
Além das exigências motoras como coordenação, flexibilidade, resistência muscular geral e equilíbrio dinâmico, o que requer do cavaleiro grande atenção à sua preparação física e técnica.
Como toda modalidade esportiva, a equitação deve ser precedida de exercícios preparatórios, conhecidos como aquecimento (isso vale também para o cavalo). O aquecimento também é importante para o foco na atividade, predispondo física e mentalmente o cavaleiro para a atividade principal.
Com base nas pesquisas e também na prática, é consenso reconhecer a importância do alongamento, antes como aquecimento e após, como relaxamento.
Adotados estes procedimentos, obtêm-se basicamente:
– melhor elasticidade muscular
– relaxamento muscular
– maior mobilidade das articulações
-prevenção contra lesões de várias naturezas (distensões, contraturas, etc)
– aumento da capacidade mecânica do sistema osteo-muscular
-adequação do esforço ao gesto esportivo necessário
-desenvolvimento da agilidade
Mais adiante, Jorge Augusto Rêgo salienta que além do alongamento, a prática da musculação é importante para fortalecer os grupos musculares exigidos na Equitação e para o desenvolvimento da resistência muscular geral.
Alongamento
Como toda atividade física, o alongamento exige procedimentos criteriosos na sua execução. Comece por ignorar o conceito errôneo de que a dor demonstra a eficácia do exercício. A dor mostra na verdade que o exercício está sendo mal executado.
Segundo, você deve se conscientizar que o corpo ao se alongar, está soltando-se e relaxando; consequentemente a musculatura e a frequência da respiração deverão estar descontraídas, bastando que se inspire e expire lenta e regularmente.
Aqui um parênteses nosso. Outra importância da respiração profunda no nível do diafragma dispersa qualquer concentração de ácido lático nos músculos o que elimina dores, além de dissipar qualquer adrenalina que sem dúvida provoca reações de fuga no cavalo, ante um perigo que ele sente, sem saber exatamente a origem. O cheiro químico da adrenalina (hormônio) é captado pelo cavalo que tem registros genéticos de que é um sinal de perigo por se tratar do mesmo cheiro exalado pelo predador na hora do ataque.
Voltando ao texto de Jorge Augusto Rêgo; é preciso respeitar a individualidade biológica de cada praticante, pois cada um alcança o limite biológico que lhe é possível em determinado momento.
Assim durante o alongamento pode-se atingir o “ponto ideal”, que é o limite adequado entre tensão muscular e mobilidade articular….
…Outro aspecto é que o alongamento (aquecimento) pode ser feito com o traje adequado à modalidade esportiva que se pretende praticar, culote, calça jeans, bota hípica, botina, etc.
Aqui o TC Jorge Augusto Rêgo sugere uma rotina de exercícios de alongamento
1. Flexão e extensão do pescoço–
à direita e à esquerda
-para frente e para trás (para cima e para baixo)
Postura básica
– em pé
– cabeça na posição natural
– tronco ereto
– braços soltos ao longo do corpo ou mãos na cintura
– pernas afastadas na largura dos ombros
– pontas dos pés para frente
Vide figura 1
2. Rotação do pescoço– à direita e à esquerda
Mesma postura básica anterior
3. Circundação do pescoço– Mesma postura básica
– rotação do pescoço rodar a cabeça fazendo círculos completos à direita e à esquerda, fazer de 8 a 12 voltas em cada sentido
Vide figura 3
4. Circundação dos membros superiores
– Para frente e para trás
-mesma postura básica anterior
– fazer círculos paralelos ao corpo com braços estendidos e mãos relaxadas
– alternar o sentido e executar 8 a 12 vezes cada sentido
Vide figura 4
5. Braços Ombros e região Dorsal
– mesma postura básica dos anteriores
– estender os braços para cima
-entrelaçar os dedos acima da cabeça
-palmas das mãos voltadas para cima
-empurrar os braços para o alto e para cim – para alongar toda a região descrita
-permanecer 15s na posição
Vide figura 5
*
6. Região Lateral do tronco
– mesma postura básica inicial dos anteriores
-braços estendidos acima da cabeça
-agarrar com a mão o pulso contrário
-flectir lateralmente o tronco, de maneira suave, puxando o braço por cima da cabeça, formando um arco;
-sentir a região lateral do tronco se alongar
-permanecer 10 a 15s na posição flectida, em cada lado
Vide figura 6
7. Rotação do tronco
-mesma postura básica inicial
-braços flexionados
-Mãos na altura do peito ou da cintura
-girar para direita e esquerda alternadamente
-manter o quadril encaixado
-executar de 8 a 12 movimentos para cada lado
Vide figura 7
8. Espáduas-mesma postura básica inicial
-flexionar o tronco para frente
-braços estendidos a frente apoiando as mãos em uma parede ou cavalete
-mãos afastadas na largura dos ombros
-com os joelhos levemente dobrados abaixe o tronco
-sentir a região trabalhada
-alternar as distancias entre as mãos e a altura do apoio variando a região trabalhada
-permanecer de 10 a 15s em cada posição
Vide figura 8
9. Regiões lombar e posterior das coxas
– mesma postura básica inicial
-flexionar levemente os joelhos e colocar o tronco a frente até segurar os tornozelos
-se possível encostar o peito nas coxas
-estender a perna progressivamente a cada movimento
-permanecer de 10 a 15s em cada posição
-repetir aumentando o afastamento lateral das pernas sentido suave alongamento nas virilhas
Vide figura 9
10. Músculos adutores das coxas
– mesma postura básica inicial
-grande afastamento lateral das pernas com os pés para frente
-flexionar lateralmente uma perna e ao mesmo tempo estender a outra
-executar de 8 a 12 movimentos para cada lado
Vide Figura 10
11. Região anterior de coxas e pernas-mesma postura básica inicial
-com apenas uma das mãos apoie-se em uma parede ou muro
-dobre uma das pernas para trás e com a mão oposta, segure o dorso do pé
-puxar o calcanhar de encontro às nádegas, suavemente
-inverta a posição
-permaneça de 10 a 15s em cada posição
Vide figura 11
12. Região posterior das pernas (panturrilhas) e tornozelos– mesma postura básica inicial
-apoiar-se com ambas as mãos em uma parede
-afastar os pés da área de apoio cerca de um metro, com as pernas estendidas e o corpo inclinado para a frente
-avançar uma das pernas dobrada em direção à parede com a ponta dos pés para frente
-manter o pé oposto apoiado em contato com o solo, sem erguer o calcanhar
-elevar o quadril a frente ao mesmo tempo
-alternar a perna
-permanecer de 10 a 15s em cada posição.
Vide figura 12
Visto isso, podemos sintetizar que são 12 os grupos musculares envolvidos na prática da equitação.
Uma vez alongados e aquecidos, a sua flexibilidade e eficiência no trabalho montado são maiores e esse aquecimento contribui para uma auto-percepção do que está sendo trabalhado enquanto você cavalga.
Recomendo agora uma re-leitura do artigo anterior sobre equilíbrio e posição à cavalo.
Boas cavalgadas e de novo a recomendação da leitura do livro do Ten. Cel Jorge Augusto Rêgo, Equitação – a Preparação Física do Cavaleiro da Editora “Affonso & Reichmann”.