Com muita satisfação há oito meses tenho podido colaborar com uma coluna na bela revista da ABCCC (Cavalo Cioulo),o que tem sido uma ótima oportunidade de conversar sobre a filosofia do Horsemanship para criadores de um dos nossos Estados com maior tradição no Cavalo e onde a cultura de raiz e a vida do gaúcho se entrelaça com o cavalo na lida, na musica e no dia-a-dia.
Decidi dar sequencia no nosso site com um resumo do que já foi publicado na Revista Cavalo Crioulo e porque entendo que as milhares de pessoas que amam o Cavalo e seguem nosso site e nossa página também podem ver utilidade nesses conceitos.
O horsemanship se apóia em alguns conceitos chave.O uso do “Feeling” (capacidade de ler o cavalo e sentir o que o cavalo sente a cada momento no seu relacionamento diário conosco), alguma coisa como ver o mundo como se fosse o Cavalo. O tempo, que é sempre o do cavalo e não o do nosso relógio. Cada cavalo tem seu próprio tempo de resposta. E o “balance” que é quando solicitamos alguma coisa a eles. Nesse momento entram os conceitos de pressão e alívio, sempre destacando que o cavalo aprende quando se alivia a pressão no exato instante em que ele faz menção de responder “corretamente” o que lhe pedimos.
Na nossa vivência esses conceitos servem como balizadores do manejo, criação e do treinamento. Esse texto se deidca aos dois primeiros desses conceitos. Começo por eles porque são como separadores de campo, a partir da nossa atitude diante deles, tudo o mais segue uma ou outra direção.
Assim, bem ao espírito de uma prosa na roda de mate, começo recuperando a ideia central da filosofia chamada de “Horsemanship”: uso da nossa intuição (“feeling”) como ferramental para ler, observar, sentir o cavalo, o esforço de tentar ver o nosso trabalho com eles, do ponto de vista deles, o que faz sentido na mente do cavalo? O segundo ponto deste tripé é o tempo, cada cavalo tem o seu tempo de resposta, de reação, fuga, aceitação que nos é dada generosamente quando ele pode sentir-se seguro ao nosso lado e que pode confiar que não colocaremos sua segurança em risco; por fim o terceiro tripé é o do pedido de ação, o “balance”.
E esse tripé desta filosofia de trabalho está alicerçado no conceito que chamei separador de campos: Respeitar a Natureza do Cavalo e Reconhecer o Direito do Cavalo usar sempre seu Instinto de Preservação diante de nós.
Sei que há alguns que chegam a dizer que isso seria uma “frescura”. Mas não é.
O Cavalo na Natureza é um animal predado. Ele serve de alimento a predadores. Algumas diferenças básicas até na morfologia definem essa condição. Por exemplo, a posição dos olhos na lateral da cabeça, obliquios, e não frontais como o dos canídeos, dos felinos… e os nossos.
Isso separa os campos. Nós, por tudo que somos e fazemos, do que nos alimentamos, pela adrenalina que exalamos, com o mesmo cheiro que a dos predadores na hora do ataque, estamos classificados, na memória olfativa do Cavalo que ele traz nos genes da espécie, como uma ameaça.
Se quisermos construir algo duradouro e obter do Cavalo não uma obediência pelo medo, mas uma adesão voluntária, para que ele dê o melhor das suas forças no trabalho, nas provas, devemos criar a condição para ele fazer a melhor escolha, para o que é necessário (ou certo) ficar fácil e as respostas naturais de medo, fuga e autodefesa (que seriam erradas do nosso ponto de vista) ficarem difíceis.
É por essa razão que ao sinalizar esse caminho, que faz mais sentido na mente do Cavalo, que reforçamos sempre que o cavalo aprende no exato instante que aliviamos a pressão, cavalos na sua natureza querem conforto mental e segurança e o alivio da pressão dá essa condição natural a eles. Com essa simples compreensão, no tempo de cada individuo, eles entendem que ao nosso lado não há ameaça e risco.
Quando ao contrário queremos mostrar quem manda, ou faça isso senão lhe acontece aquilo, (peias, chicotadas) o primeiro que conseguimos fazer é confirmar a eles que tem toda razão em sentir medo e querer fugir de perto de nós, e é isso o que todo treinador deve evitar. Queremos e aqui fazemos isso, ter o cavalo voluntariamente ao nosso lado, como parceiros para tudo, os encilhamos soltos pois ficam junto de nós todo o tempo.
É justamente por esse caminho que reabilitamos mentalmente cavalos mal tratados que incorporaram a necessidade de autodefesa, as reações naturais de morder, escoicear e manotar. É pelo conjunto desse posicionamento inicial, que comunicamos que não precisam disso quando estão com a gente.
Parece simples, mas não é tão simples, principalmente se nos deparamos com um “taura” que desde cedo precisou aprender a defender-se.
Mas, os três pilares básicos do “Horsemanship”, (observar, respeitar o tempo, saber pedir e aliviar a pressão), junto com o conceito central de respeito à natureza do Cavalo como animal de fuga, que pode exercer seu direito de autodefesa, até compreender que não precisa usá-lo quando estiver conosco, nos abrem um imenso caminho seguro e afirmativo para treinar nossos Cavalos.