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Todo e qualquer estabelecimento hípico, haras ou rancho, deve realizar ações de manejo preventivo para enfrentar todas as situações inesperadas, os chamados incidentes. Entre estas ações, merece lugar de destaque a estruturação, manutenção e conservação, com organização e limpeza, de uma FARMÁCIA BÁSICA.
Quando falamos de manejo preventivo entendemos:
a) Respeito à natureza e às necessidades naturais do Cavalo, desde os detalhes mais essenciais, como o espaço das baias, a sociabilidade entre cavalos, já que por sua natureza são animais de manada (no RSM as baias todas são sociáveis).
b) Utilização de protocolos de procedimentos que previnam situações indesejáveis, como por exemplo, não soltar éguas a frente de baias ou piquetes de garanhões,
c) Não levar garanhões para banho onde estão as baias de potros e femeas,
d) Manter a área de baias, o caminho aos piquetes e ao redondel sempre limpa e sem instrumentos ponteagudos.
e) Não deixar restos de cravos, pregos, ferros, no caminho onde os cavalos passam ou onde ficam soltos, pelo risco de ferimentos que causam tétano.
f) Manter higienizadas as escovas, rasqueadeiras, luvas de banho, limpadores de casco e ranilhas
g) Além é claro, de um cuidado serio com a qualidade das camas, que todos os dias devem ser aeradas, limpas com a retirada da matéria fecal, que uma vez escondida debaixo da serragem, aquece a cama e favorece a proliferação de bactérias anaeróbicas ( que sobrevivem sem oxigênio) e são causadoras de doenças.

Mas, mesmo com estes cuidados citados a titulo de exemplo, porque estes não são os únicos cuidados recomendados, ainda assim, podem ocorrer acidentes, incidentes ou situações de contusões no trabalho, distensões, torções, cortes, ferimentos, mordidas, cortes de graus e profundidades diferentes, causados por materiais de riscos diferenciados, (exemplo, um ferimento com farpa de bambu é altamente tetânico). E nesses momentos, o que fazer de imediato, antes mesmo do médico veterinário chegar, se for o caso de chama-lo?

E se ao invés de ferimentos ou contusões, sobressair uma indesejável cólica, com todos seus riscos?
É indispensável que o tratador ou cavalariço seja treinado e apto aos primeiros socorros, e como ainda hoje acontecem mortes de cavalos em sítios e chácaras, em hípicas e centros de esporte, por absoluta falta de cuidado, além de um tratador capacitado, informado, ele deverá dispor de meios ao seu alcance para os primeiros socorros.

Ferimentos

O organismo do Cavalo é extremamente sensível o que faz com que cada simples ferimento acione um mecanismo intenso do sistema imunológico que precipita grandes quantidades de leucócitos (células de defesa) que geram secreção purgativa, abrindo a porta para ou surgimento de outras infecções e afecções de diferentes tipos e gravidade.
É fácil você identificar se um machucado, por mais simples que seja está com sinais de inflação: ele vai apresentar inchaço, calor local, dor, vermelhidão em torno do ferimento.
Há uma relação entre o inchaço que pressiona as células nervosas, o que por sua vez, causa dor. Quando a inflamação está instalada aumenta a circulação do sangue para trazer as células de defesa e isso aquece o local.
A ação número 1 é a limpeza (assepsia) primeiro lavando com agua lima e corrente com sábao neutro, a seguir com solução degermante á base de iodo, ou com os produtos à base de clorexidina.
Feita a limpeza, pode-se avaliar os próximos passos, dependendo do tipo de ferimento, aciona-se de imediato o Veterinário.
Os processos de inflamação, podem ser classificados em dois tipos: os agudos, que evoluem rapidamente em horas ou de um dia para o outro, ou aquelas de difícil cura, que se arrastam por muito tempo e tornam-se crônicas.
Para estas e tantas outras situações, apresento aqui um roteiro-resumo de itens básicos que devem compor sua farmácia.
Todos os medicamentos devem ser mantidos em local, fresco, sem exposição a luz e ao calor e a compra, dosagens e utilização devem ser supervisionadas pelo seu Medico Veterinário, além de serem mantidos em local, sempre limpo.

Primeiros Socorros
As pessoas que se propõem a criar ou manter cavalos devem praticar um mínimo de ações de primeiros socorros, que estariam no âmbito das tarefas de um auxiliar de enfermagem:
a) Tomar a temperatura, verificar sinais vitais, batimentos, frequência cardíaca e ou respiratória.
b) Limpeza e assepsia dos ferimentos
c) Estancar uma hemorragia
d) Aplicar curativos, emplastros, enfaixar um boleto (ligar),
e) Colocar botas de gelo, aplicar massagens e alongar dianteiros ou traseiros
f) Aplicar soro, injeções no musculo ou na veia

Farmácia

O tamanho da instalação, quantidade de cada medicamento, dependerá da quantidade de cavalos na propriedade, do uso dos mesmos, cavalos de esporte tendem a apresentar mais problemas de ordem musculo esquelética, um Haras ou Rancho de criação, com muitas matrizes, outros tipos de demanda são mais comuns.
Você pode manter um armário com porta de vidro, uma caixa, um sala inteira, o que é obrigatório a todos os tipos de estabelecimento é que a farmácia e sua instalação sejam absolutamente limpas e higienizadas.

Abaixo uma relação de medicamentos mais uteis e necessários em emergências:
Curativos
Ataduras de 12 cm
Esparadrapo largo – do tipo comum para prender faixas e do tipo cirúrgico
Rolo de Algodão
Ataduras de Gaze
01 litro de Agua Oxigenada
01 litro de álcool
01 litro de degermante a base de Iodo
01 litro de solução de Iodo a 10%

Medicamentos de uso tópico (externo)

Unguentos desinfetantes á base nitrofurasona
Unguentos cicatrizantes
Pomadas contra assaduras
Gel para combate de edemas (inchaços) (exemplo; NGF5 ou DMGel)
Pomadas oftálmicas (para os olhos)

Inseticidas e carrapaticidas
Aplicação local – como sprays ou pós (exemplo: lepecid, tanicid,butox)

Medicamentos Injetáveis

Aqui relaciono só os de uso em emergências
Entre os analgésicos e anti-inflamatorios, existem aqueles à base de esteroides – que faz reter líquidos e pode causar problemas renais – além de ser acumulativo no organismo e tem os não esteroides.
Analgésicos
Anti Inflamatórios
Corticoides
Antibióticos
Quimioterápicos, por exemplo, contra a babesiose
Antitóxicos e protetores hepáticos (para fígado)
Reforço mineral
Reforço vitamínico
Fortificantes
15 litros de soro fisiológico,
05 litros de soro ringer com lactato
Seringas de 20 ml
Seringas de 10 ml
Agulhas 40×12
Agulhas 40×16
Equipos para soro

Diversos
Vermifugos, devem ter princípios ativos diferentes entre uma vermifugação e outra. O composto mais famoso, à base de Ivermectina tem revelado que os parasitas já são mais resistentes e os fabricantes já não fazem mais com 1%, sendo comum com 2% e até com 4%. Mas os vermífugos são classificados de acordo com os tipos de vermes que eles combatem. Aplicado hoje, por exemplo, outra dose deve ser dada com 21 dias por causa do ciclo dos ovos, e depois nova vermifugação deve ser feita dentro de três a quatro meses, dependendo da região.
Deve-se manter alguns em estoque, para o caso de animais que entram no estabelecimento ou plantel, entre uma e outra vermifugação.

Soros
É recomendável manter doses de soro anti-tetânico na Farmácia e aplicá-lo toda vez que o animal sofrer um corte, ou ferimento com sangramento, ex:pisar em prego, cortar-se em arame, em bambu, porque a terra, a ferrugem e outros tipos de sujidades são altamente tetânicas.

Soro anti-ofídico – é indispensável manter dentro da validade, especialmente onde há animais em pasto, piquetes, onde os animais estão sujeitos a ataques de cobras venenosas, devendo o mesmo ser aplicado junto com soro fisiológico, na veia. dependendo do estado do animal em função do tempo desde o ataque pode-se aplicar um direto e outro no soro.

Suplementos e suprimentos extras

– veículos para mistura com pós, exemplo óleo mineral, que misturado a “tanicid”, pode gerar uma pasta para ser aplicado nos locais atingidos

-vaselina liquida

-melaço liquido, para ser misturado a medicação por via oral que é de difícil aplicação

– bota de gel para congelar e fazer terapia a frio, a bota de gelo

– A higiene do local das baias deve ser fundamental, e essa é uma briga boa que deve ser travada todos os dias com os tratadores/cavalariços. A higiene geral das instalações, o manejo da esterqueira (compostagem) evita a proliferação de larvas de moscas, a higiene dos quartos de ração e feno evita roedores, uma vez que prevenir é mais barato que curar as doenças que esses transmissores trazem consigo.

– Mesmo com a higiene é bom ter repelentes de inseto que irritam os cavalos. Uma providencia natural, boa e até decorativa é plantar mudas de citronela perto e em volta das baias.

– maquina de tosa e barbeadores descartáveis para depilar em torno de áreas feridas

– tesouras com ponta curva e limpas, limpadores de casco, termômetros, aparelho de medir pressão e estetoscópio (veja artigo especifico sobre o uso

– mantenha à vista uma lista de telefones uteis, do veterinário titular, de um segundo medico caso o primeiro não possa vir, do ferreiro, do transportador, de quem o tratador deve contactar na impossibilidade de falar com o responsável/criador.

Lembre-se de:

A cada três meses verificar a validade dos medicamentos. Os vencidos devem ser descartados.

Usar sempre seringas e agulhas descartáveis , jogando-as fora em lixo separado. Uma das formas de contaminação por bactérias, mais comuns, é o uso de agulhas ou seringas contaminadas em outros animais.

– Limpe sempre – toda a semana a sua farmácia, mantendo o armário fechado, os medicamentos em suas caixas contra a luz, já que os materiais assépticos de curativos devem estar livres de pó e sujeira para fazerem algum efeito.

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