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Quando um cavalo não escolhe o que esperamos que ele escolha, dizem que é por tres razões: não entendeu, não teve tempo de responder ou seu pedido foi contraditório.Mas pode também ser por questões fisiológicas que voce desconhece. Uma delas é o ponto de vista. Como se dá a formação das imagens e o foco? Ele não vê o mesmo que nós vemos.

Em um dos capitulos do meu livro “ Conversando sobre Cavalos”, Editora Rígel-RS, trato da visão do Cavalo que tem reflexo em diferentes situações do trabalho montado, provas, manejo, enfim do cotidiano.
Por vezes o cavalo tem algumas atitudes que o cavaleiro não compreende. Muitas vezes essa reação está relacionada com a maneira como o cavalo vê, que é bem diferente do nosso ponto de vista.
A visão do cavalo

Existe uma tendência entre nós de julgarmos as atitudes e as demais pessoas do nosso ponto de vista.
Assim, de modo simplório e até certo ponto autoritário, separamos o que consideramos certo e errado, verdadeiro ou falso, a partir de nossos referenciais pessoais, de acordo com nossos padrões e educação, enfim da nossa visão de mundo, como se fosse a única, ou a única correta.
Isso, levado às últimas conseqüências, acaba gerando na relação com outras pessoas a uma intransigência, intolerância ou impaciência com opiniões alheias, ou pontos de vista diferentes. Quantas pessoas nós conhecemos que mesmo tendo muitas qualidades aparecem como “donas da verdade” pela intensidade com que afirmam seu julgamento a partir do seu próprio referencial, ou mais popularmente, do seu ponto de vista?
Penso mesmo que ninguém está livre de ter sido pego adotando essa atitude em conversas profissionais, pessoais e na vida em geral, uns com mais força outros com menos, mas principalmente os líderes, os empreendedores, incorrem nessas atitudes quase que “naturalmente”.
Quando falamos que cavalos são verdadeiros “terapeutas” é porque a convivência com esses maravilhosos seres acaba por nos obrigar a rever pontos de vista, os chamados paradigmas pessoais.
Não se consegue nada duradouro com os cavalos apenas na base da imposição e da submissão deles ao nosso ponto de vista. Muitas vezes eles demoram a responder a uma solicitação e o “cavaleiro” sentindo-se desafiado em sua exigência de pronta resposta, desce o relho ou finca a espora, “ afinal ele precisa saber quem manda”, não é mesmo?
Nada pior para a quebra de confiança, ser agredido sem saber o motivo, e para as pessoas que agem assim com seu cavalo, (que por excelência deve ser tratado como parceiro e ser trabalhado para estar sempre pronto a colaborar com o cavaleiro), apresentamos abaixo algumas características do sistema ocular do cavalo, essencialmente diferente do nosso.

A começar pela posição lateral dos olhos na cabeça. O cavalo é presa e portanto seu àngulo de visão é mais abrangente para detectar a aproximação de predadores pelas costas. Ele tem uma visão binocular, (o filme que passa no olho direito é diferente do passa no esquerdo), olhando para frente ele vê 70 graus como os humanos e mais 215 graus para cada lado. Ele vê a aproximação às suas costas sem ter que virar a cabeça.
Quando o cavalo é mau tratado ou agredido pelo cavaleiro(predador), ele fica mais ligado no que ocorre atrás dele ou dos lados e fica sem enxergar o que ocorre pela frente. Para quem faz pista isso é o fim.
Os principais pontos cegos estão entre os dois olhos e exatamente atrás de sua garupa, razão porque muitos cavalos mansos acabam a dar coices, pois simplesmente não viram o que estava atrás deles e têm o instinto de se defenderam de um “possível” predador.
Outra diferença fundamental em relação ao nosso olhar, é que os humanos têm atrás do cristalino um feixe de músculos que permitem contrair ou relaxar para ajustar instantaneamente o foco de objetos próximos ou distantes. O cavalo não tem esse feixe de músculos.
O cavalo não tem o olho esférico e sim oblíquo então quando o cavalo abaixa a cabeça ele vê objetos próximos, como a comida no cocho e os mais distantes levantando a cabeça. Posicionar corretamente a cabeça em uma trilha, uma pista com obstáculos, ajuda o cavalo a dimensionar o objeto e sua distância em relação a ele.
A responsabilidade do cavaleiro aumenta quando ele usa rédeas curtas e encapota a cabeça do cavalo, restringindo sua visão apenas ao que está imediatamente abaixo dele.
Por fim, a questão da visão a cores ou noturna. O que permite enxergarmos todo o espectro de cores são estruturas sensoriais chamadas cones, os quais, temos em maior quantidade que os cavalos. Já a percepção de claro e escuro é definida por estruturas chamadas bastonetes e pesquisas recentes comprovam que os cavalos os têm em maior quantidade que nós.
Assim, cavalos enxergam os espectros de duas cores, provavelmente azul e vermelho, ainda que não as definam exatamente como nós e nos superem em muito na visão noturna.

O segundo tópico que diferencia nossa visão do equino é com relação à acomodação do cristalino. No ser humano, o cristalino, que é a lente que permite a visão, é fixado no olho por um grupo de músculos que ao contrair ou ralaxar permitem o foco das coisas próximas ou distantes do seu campo de visão. No cavalo esses músculos não existem. Então como o cavalo foca objectos distantes ou próximos? O olho do cavalo não é totalmente esférico e o cristalino do cavalo está colocado em posição fixa, mas INCLINADA em relação ao eixo do olho. Isso permite que o cavalo possa focar objectos próximos ( o alimento) abaixando a cabeça, e os distantes (você a chegar ao longe) levantando a cabeça! Tenha isso em mente na próxima vez que travar a cabeça do seu cavalo com rédeas restritivas, como as alemãs, ou não permitir ao seu cavalo abaixar a cabeça para ver o obstáculo que ele está abordando.

Em terceiro lugar temos o eternamente discutido tópico: os cavalos vêm a cores ou não? Primeiramente devemos esclarecer que para que um animal possa ver como nós, ele deve possuir na sua retina (no fundo do olho) dois tipos de sensores: bastonetes, responsáveis pela visão noturna e pela sensação de claro e escuro, e os cones, responsáveis pela visão diurna e pela distinção das cores, que no homem são de três tipos. Durante anos os pesquisadores afirmaram veementemente que os cavalos não poderiam ver colorido pela falta de total de cones. Entretanto, uma pesquisa do ano de 2002 da Universidade de Wisconsin (USA), provou que os cavalos possuem, em muito menor quantidade que o homem, 2 tipos de cones: para a visão do espectro do vermelho e do azul. E mesmo essas cores são percebidas diferentemente em relação à nossa visão.

As últimas diferenças importantes entre a visão do cavalo e a do homem estão ainda na percepção nos detalhes, que é bem maior no homem do que no cavalo, ou seja, de longe o cavalo vê como uma pessoa míope e reconhece o dono mais pela voz, passadas e por movimentos típicos de cada um do que pela visão, e outra diz respeito ao tempo de acomodação da retina em ambientes claros e escuros. O homem consegue acomodar a visão da luz para a escuridão e vice-versa em menos de 2 segundos, enquanto que o cavalo leva mais de 6 segundos, para conseguir enxergar com nitidez. Isso é importante em provas em recinto fechado, onde os cavalos se aquecem na penumbra (onde veem muito melhor que nós) e subitamente entram em uma arena iluminada onde o cavaleiro logo começa a exigir do seu animal sem lhe dar tempo para acomodar a visão (agora quem está vendo bem é só o cavaleiro), ou ainda em trilhas onde se passar de um local ensolarado para um caminho escurecido por árvores, quando muitas vezes refugam, ou não querem entrar, justamente porque não estão enxergando as condições do solo onde tem de colocar os pés.

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