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Escolarizador, o primeiro mestre

A proposta deste artigo é abrir um debate comentado sobre as principais profissões do agronegócio cavalo, envolvendo aspectos práticos das responsabilidades envolvidas em cada uma, questões da rotina, os desafios da qualificação e sobretudo a necessidade de regulamentação federal de pelo menos dezoito profissionais do setor. Inauguramos com uma figura central nos haras e centros hípicos. O domador, ou Iniciador como chamamos hoje.
DOMADOR: o primeiro mestre
Poucas vezes se reconhece o importantíssimo trabalho de um profissional que não apenas coloca os movimentos naturais de um cavalo senão que o prepara para ser uma montaria segura e confiável. Uma figura imprescindível no mundo do Cavalo.
Quando alguém que desconhece o mundo do cavalo adentra pela primeira vez nele e se aproxima de um destes poderosos animais, a primeira coisa que faz é deixar uma distância prudente que lhe permita fugir, como se isso fosse necessário, dada a insegurança que pode tomar o ser humano, acostumado a ter tudo sob seu controle a um clique, quando se coloca ao lado de um ser quatro ou cinco vezes maior.
Outro fator que causa vertigem nos iniciantes é ver como os mais experientes, tratadores e treinadores manejam os eqüinos de igual para igual com muita naturalidade, como se falassem (e de fato falam) o mesmo idioma, sem qualquer traço do seu medo.
Apesar do quanto misterioso isso possa parecer, os que manejam diariamente o cavalo, fazem isso com muita naturalidade, quase inconscientemente. Cavalos são animais de fuga, já comentamos isso em alguns lugares, que eles têm medo do medo de quem se aproxima deles assim, e mais, lembre-se que o cavalo tem direito a usar seu instinto de auto – preservação, quando o Homem se aproxima. Freqüentemente assumimos ao longo da história o papel de predadores e isso está gravado em seus genes.
Mas, quase todos os cavalos que acessamos em Haras, sítios, cocheiras, Hípicas não estão em seu estado natural. Passaram quando jovens pelas mãos boas (ou não) de um iniciador (domador), seu primeiro mestre e ele guarda consigo todas as memórias daquela iniciação.
O primeiro mestre do Cavalo deveria ter realizdo um cuidadoso trabalho adequando seus movimentos, suas respostas, preparando-o para a parceria com o Homem, seja para o uso no trabalho, no esporte ou no lazer. E de fato, sem o trabalho do primeiro mestre, sem a tarefa central deste profissional não seria possível utilizar o cavalo.

INICIAÇÃO E FORMAÇÃO

Aqui, como defensores do Horsemanship ou da escolarização gentil, não usamos o termo “Doma” freqüentemente associada à submissão. Tratamos de escolarizar ou iniciar o potro. Mas, o senso comum ainda define a figura do profissional –o domador. Para nós essa atividade exige pessoas vocacionadas, que antes de qualquer coisa devem amar e compreender a natureza do cavalo. Que sejam capazes de assumir a responsabilidade pela conformação mental e psicológica do Cavalo quando sair de suas mãos e estiver com qualquer outra pessoa, iniciada ou não, adulta ou jovem.
Normalmente os iniciadores se tratam de pessoas que tiveram oportunidade de crescer com o Cavalo, de ter contato com eles desde bem jovens, ou que tenham muito tempo de trabalho como o cavalo.
O iniciador ou domador deve ter vivenciado e experimentado centenas, milhares de situações e momentos, bons e não tão bons, devem ter um conhecimento natural e orgânico do Cavalo, devem saber ler o cavalo, respeitar seu tempo e saber solicitar o que querem que o cavalo faça, sabendo o exato instante de aliviar a pressão.
Tem que ser profissionais que já sabem pela prática que não se consegue nada de definitivo ou duradouro destes animais, pela força, pela violência, que já foram capazes de conquistar a confiança do cavalo para que ele não se sinta ameaçado ao seu lado e não precise querer fugir de baixo do cavaleiro na primeira monta.
Aqui, comemoramos cada cavalo iniciado, montado depois do trabalho de base, que aceita ser encilhado solto ao nosso lado, sem querer sair de perto, que aceita a sela, a primeira embocadura, sem fugir, sem dar um pulo e rimos da falsa valentia daqueles que “se gabam” de ter ficado em cima, depois de um cavalo lutar até esgotar suas forças para tirá-lo de cima. Quanto dano à mente do cavalo esse “profissional” causou para ter do que se vangloriar.
Também dois outros ingredientes básicos completam o menu da Iniciação: a paciência e o tempo. O bom iniciador não quer submeter, mostrar quem manda, não tem que provar nada a ninguém. O bom iniciador “Lê” o cavalo, respeita seu tempo de resposta e então dá as diretivas de ação.

LISTA DE TAREFAS

O Domador de cavalos é aquele profissional que maneja o potro desde recém nascido, faz o “imprinting”, informando a ele que faz parte do seu mundo e que isso pode ser bom para ambos, e desde cedo o prepara para o contato diário e bom com o ser humano. O objetivo da doma inicial é estabelecer uma boa comunicação e confiança entre o cavaleiro e seu cavalo.
Deve ensinar o potro a ser conduzido à guia e a permanecer quieto ao seu lado para escová-lo, um momento bom, ou para que o ferrador cuide de seus pés. Aos dois anos e meio ou três, quando adolescente tem inicio o trabalho de base, com a conjunção no redondel, trabalhando livre e ou à guia longa (“ground work”) se coloca o selote de doma as rédeas auxiliares, começa o charreteamento para fazer a musculatura da nuca e a boca do potro e para que em seguida ele se acostume a ter algo sobre sua garupa.
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Também se deve acostumá-lo, sem a falsa urgência e pressa que alguns se obrigam a fazer, ao trabalho diário, montado, ao refinamento dos movimentos, dirigindo-o para a modalidade para a qual está sendo preparado. Esse trabalho bem feito pode durar até os quatro anos, quando o cavalo estará escolarizado, atendendo todos os comandos básicos, fazendo por si, sempre a escolha correta, pois terá aprendido que assim a pressão é aliviada.
Também é tarefa do profissional iniciador ou domador a reabilitação da confiança perdida por cavalos mal iniciados por outros, aqueles que tentam fugir de todo tipo de contato, os que resistem com força às solicitações, aqueles que se defendem do ser humano. Estes cavalos ressabiados são eqüinos que sofreram algum tipo de trauma e que, por causa disto, desenvolveram problemas na hora de trabalhar. Nestas situações é o domador quem se encarrega de recuperar o cavalo, de permitir que ele recupere a confiança nas pessoas.
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TIPOS DE DOMA

Pode-se resumir que tem a bem feita e a mal feita. Mas, didaticamente, podemos classificar em duas linhas básicas a abordagem da iniciação: a doma natural (sem ajudas artificiais) e a doma convencional (com ajudas artificiais). Sobre a doma natural, cabe dizer que nas últimas décadas ela tem sido utilizada cada vez mais, em função do maior conhecimento sobre a natureza, comportamento, padrões de respostas e a linguagem natural do cavalo. Nessa escola, o tempo é o do cavalo. Nessa abordagem, no redondel estão o homem e o cavalo, sem qualquer outro instrumento, equipamento ou forma de contenção. O resultado obtido é sólido e duradouro.
Sobre a doma convencional, suas respostas são mais rápidas e o cavalo pode ser montado em menos de um mês, em condições normais, por isso ainda é mais utilizada, também porque “dá menos trabalho” no sentido de que exige menos comprometimento para merecer a liderança natural do cavalo que tem menos opções de posicionamento ante o seu iniciador, ou ele escolhe colaborar ou escolhe colaborar, de um jeito ou de outro.
Por outro lado, depois do básico que é aceitar sela e cavaleiro e aprender os comandos básicos, as ajudas de pernas, etc, se abre um período de especialização para aperfeiçoar o cavalo em função da disciplina a que se dedicarão. Assim, não será a mesma coisa preparar na segunda fase um cavalo de passeio, trabalho, esporte, enduro, hipismo clássico, CCE ou outra modalidade e isso é assunto para os mestres em cada modalidade.
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INFRA-ESTRUTURA NECESSÁRIA

A infra-estrutura que necessita o trabalho de iniciação e doma é a mesma que necessitamos em qualquer haras ou hípica. Baias, redondel, lavador, piquete e pista e os equipamentos básicos, o selote de doma, a rédea longa, embocaduras leves, selas, baixeiro, rédeas e cabeçadas, cabrestos e cabos para trazê-los à guia, condições de asseio e limpeza após o trabalho, boas escovas e rasqueadeiras.
É muito útil que o primeiro mestre, o iniciador, domador, tenha conhecimentos práticos de primeiros socorros, noções de fisiologia animal, de ferrageamento, assim como conhecimento sobre o comportamento e atitude mental do cavalo.
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CUIDADOS COMPLEMENTARES

O domador, como primeiro mestre não pega o cavalo escovado do tratador e o devolve sujo e suado para só retornar no dia seguinte. Ele participa da higienização do animal, o leva ao piquete de pastejo, podendo permanecer ao lado dele parte do tempo. O domador pode também passar o trato alimentar, o concentrado, deve escová-lo e nesses momentos conversar com o cavalo, habituá-lo com sua voz calma e firme, associando sua presença a bons momentos para os dois.
Fazendo isso, o iniciador vai conhecer de perto, vai ter mais oportunidades de ler o cavalo, observar suas reações a tudo que ocorre, quando junto de outros cavalos, em sua baia, sempre seca e ventilada.

O MELHOR E O PIOR

A profissão exige empenho, dedicação e amor de fato pelos animais. Devem ter perfil calmo e centrado, serem pessoas bem resolvidas, sem necessidades de provar nada a si mesmos ou aos outros, deve ter orgulho de entregar potros e cavalos bem confiáveis e serenos, prontos para todas as pessoas, independente do nível de equitação, cavalos calmos e colaboradores. Quando um criador, um ginete, um jóquei confia seu cavalo a um domador, espera que lhe seja devolvido sem vícios, sem atitudes defensivas . O bom domador faz isso.
O pior da profissão são os encontros desafiadores com cavalos traumatizados, agredidos, que receberam maus tratos e que agora devem ser refeitos desde a base. O “horsemanship” é a melhor abordagem para isso.

FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Formar-se como domador no Brasil e em outros países é ainda complicado. Atualmente não existe uma instituição de ensino regular, que receba um jovem que goste de cavalos e queira formar-se como domador e o devolva ao mercado com um diploma e com horas de prática e a devida autoconfiança.
São várias as opções de escolas livres, cursos em haras e núcleos de “horsemanship” com cursos entre 18 a 72 horas de prática, uma variedade de cursos de tratador, de gestor, de primeiros socorros, mas que são caros e exigem um investimento em deslocamento e hospedagem, e dependem do auto – didatismo do futuro profissional.
As clinicas, os cursos particulares ajudam e aí depende muito da visão e abordagem do especialista escolhido, da escola a ser seguida. A regulamentação desta e de outras dezenas de profissões do agronegócio cavalo irá abrir espaço para uma formação sistematizada e completa, com currículo padronizado e provas especificas para termos um domador-iniciador certificado no Brasil.

Existe uma conexão espiritual para trabalhar com um Cavalo.

Voce precisa tentar aprender a sentir o que ele sente, e falar com sua alma (essência).
Com o aumento das ações de marketing em torno do tema do “Horsemanship” (relacionamento entre Homem e Cavalo do ponto de vista do Cavalo), com a exposição de recém chegados a esta atividade que tornam-se produtos de mídia –despejando recursos financeiros de sobra, ao mesmo tempo que não trazem experiencia e conteúdo, é necessário recorrer aos classicos para colocar os pingos nos is.
Um exemplo recente foi um programa na TV em um domingo, no qual leigos ficaram impressionados, enquanto outros com um minimo de experiência sabem que um cavalo chucro nunca antes cabresteado não sai da baia cabisbaixo e absolutamente calmo à mão do condutor.
Essas aparentes vantagens que o personagem exposto parece estar ganhando, terminam quando se lhe propõe um desafio real, por exemplo, o de reabilitar um cavalo traumatizado.
Há os que frequentam uma clínica no exterior e adquirem um cabresto magico e vem se propor a trabalhar jovens potros chucros, que se debatem, manoteiam, boleiam, se jogam e saem traumatizados dessa experiencia.
O que falta?
A questão da escolarização de potros a partir da compreensão da sua natureza, da sua linguagem e do reconhecimento de seu direito de auto-proteção, não se resume a técnicas. Não se resume a um tipo de exibição, (show horse), e não pode se dar em cima da motivação da vaidade pessoal. Nada disso serve.
O cavalo nos oferece inumeras oportunidades de crescimento pessoal, de aprendizado e de melhorarmos como seres humanos, nos mostra varios aspectos da nossa vida que precisamos melhorar, ajustar, mudar.
Por exemplo, pessoas aceleradas, adrenalizadas, com dominancia à flor da pele, aprendem a melhorar, se acalmam, podem aprender a respeitar pontos de vista, tempos de resposta mais lentos que os seus, ao passo que pessoas mais passivas, menos assertivas, que tudo aceitam em nome de não polemizar, aprendem, porque que o cavalo assim exige, a tomarem decisões mais claras, mais rapidas e a comunicar-se melhor. Todos aprendem a melhorar a expressão de suas emoções e sentimentos, jovens e adultos com dificuldade pessoais adquirem auto-confiança, todos esses ganhos são presentes que o Cavalo nos dá. Mas para recebe-los, deve-se descer do pedestal do egocentrismo, da vaidade, de uma falsa superioridade escorada em “papéis representados”, é necessario humildade para chegar ao cavalo de igual para igual, abertura para aprender com eles, paz de espirito para falar ao coração do cavalo, ao seu Espírito.
Uma diferença importante entre os que se apresentam para aprender com o Cavalo, é a sua disposição, ainda que em graus diferentes, para viver para o Cavalo, e não apenas viver do Cavalo.
Um dado importante nessa caminhada, é que a chamada “doma gentil” ou natural, favorece o aparecimento de pessoas do bem, que confundem seu papel de liderar o cavalo, sendo um líder alfa cujas atitudes fazem sentido para o cavalo e acabam por fazer o papel da mãe que mima demais o “seu bebê”, esquecendo que se trata de um ser com mais de 400 kg, cheio de vigor e que toma suas próprias decisões.
Ficam confusas pelo discurso dos “horsemarketeiros” que levam as pessoas a quererem copiar o tal “encantador” que apresenta o trabalho com cavalos em uma versão falsa, do tipo “disneylandiana”, que leva essas pessoas bem intencionadas a falar com o Cavalo em linguagem “tatibitati”.
Como ensina Buck Brannaman, Mas você não pode simplesmente sentir pena de um cavalo e renunciar a seu papel como um líder e um professor. Você só não pode mimá-los.
Eu alerto que na natureza, ou quando criados a campo, os cavalos ao comunicarem-se entre si, na sua linguagem chegam a dar relinchos de alerta, murcham orelhas, e mandam os pés naqueles que colocam sua segurança em risco, nos que criam turbulencia no ambiente, uma briga entre eles, demora menos de um minuto, mas é clara o bastante para dar um ponto final. Isso não é violencia, maldade ou agressão. È um toque, proporcional ao seu tamanho, do tipo “pare com isso agora, firmes e claros e podem ser acompanhados de uma palmada corretiva” entre eles. Quando colocam nossa segurança em risco com empinadas, manotaços, coices,como um líder alfa precisamos dar um basta, na linguagem deles, do tipo “Ei, Pare! Voce nao precisa fazer isso quando estamos juntos!”
Os horsemarketeiros não mostram isso, porque não lidam com a vida real e querem vender uma imagem artificial, superior. Mas isso ocorre, porque eles selecionam um dia antes os cavalos que poderão utilizar nas suas exibições, e o fazem com todo um staff que coloca a mão na massa, e dizem, às vezes erradamente, esse serve, essa não, e assim por diante. Pegam os mais tranquilos, fazem seu discurso e levam as pessoas da vida real a irem emocionadas para casa e essas mesmas ao se depararem com seus cavalos em casa, tomam tombos, coices, e não sabem como obter a mesma resposta. Os marketeiros, então recebem cartas e respondem, … – ah isso não pode ser para todos fazerem e assim se auto-valorizam.
Nos nossos cursos, os inscritos praticam com inumeros cavalos diferentes, em idades diferentes, aprendem a essencia da comunicação na linguagem dos cavalos, aprendem a usar o feel, time and balance, são sensibilizados a aprender a sentir como e o que o cavalo sente e desse modo interagem melhor com seus próprios cavalos.
Então, como propus beber na fonte dos verdadeiros horsemen, para sair desse modismo superficial, encontrei trechos de entrevistas de um verdadeiro encantador de cavalos, que dedica toda a sua vida a eles, a melhorar a vida dos cavalos, a protege-los de nossos equivocos. Trata-se de Buck Brannaman, um dos maiores mestres, vivos, ex parceiro de jornadas dos grandes como Ray Hunt, Tom e Bill Dorrance.

“Para muitas pessoas lidar com cavalos é uma jornada sobre auto-descoberta, encontrar coisas que você precisa para ajustar, alterar ou melhorar.
Quando você achar que o cavalo é compelido e interessado em você, algo em você muda. Isso pode ser a cura ou movê-lo profundamente.
Há uma diferença entre dominar algo físico e trabalhar com um animal. Há um componente espiritual para trabalhar com um cavalo. Você está lidando com o espírito de um animal vivo que pensa e toma decisões.
Na natureza este animal não teria nada a ver com você. Portanto a expressão “Natural horsemanship” é apenas palavras. Não é de todo natural nosso trabalho com eles.

Há uma abundância de confiança que deve ser desenvolvida em você.
Imagine se os seres humanos fossem tão maleáveis e dispostos a realizar essas mudanças para atingir objetivos comuns?”-Buck Brannaman.
Em uma outra entrevista dada ao San Diego Horse Wishperer, ele nos brindou com isso: “Tenho uma empatia para cavalos que são problemáticos e com medo. Algumas pessoas ficam com raiva de seus cavalos, mas eu sei o que eles [os cavalos] estão sentindo.
Mas você não pode simplesmente sentir pena de um cavalo e renunciar a seu papel como um líder e um professor.
Você só não pode mimá-los.
Às vezes é o que as pessoas fazem com as crianças que vêm de um lugar muito escuro. Ao invés de dar-lhes sentido e algo para fazer, eles se sentem muito enervados com o garoto e lhes dão um passe livre. Isso é tão destrutivo como o outro. Não há nenhuma orientação nessa atitude. A criança não aprende nada..”- citação do Buck Brannaman.
“É a mesma coisa com as crianças; você já deve ter visto algumas dessas pessoas com seus filhos, em vez de ser um pouco mais engajados e ver quando as coisas estão indo na direção errada e redireciona-los, esperam até que eles façam algo errado.
Então eles querem bater neles, ou chicoteá-los por algo que já aconteceu e as pessoas ainda fazem isso com os cavalos também. Eu vou fazer isso o resto da minha vida, tentar convencer as pessoas que esse não é o caminho a percorrer para melhorar as coisas.”- Buck Brannaman.

Eu convido todos a refletir sobre isso, a saber separar o que leêm, (inclusive aqui), o que ouvem e a classificar, não como expectadores, mas como protagonistas na relação com seus cavalos, e a escolher aquilo que faz sentido para você.

Quando e por que usar… ou não… usar esporas

Por que as pessoas usam esporas? Quando deveriam ou não deveriam?
São ainda freqüentes as perguntas sobre o uso de esporas.-“Eu devo usá-las? – Quando são adequadas? – Alguém deve usar sempre as esporas? Esporas farão um cavalo mais esperto? – Conheço amigos que usam rosetadas, essas são melhores que as de barra fixa, usadas em hípicas?” Consultei diversos especialistas para confrontar com a minha visão e prática e espero que este artigo esclareça um pouco mais o tema. Esse texto teve como base algumas dicas enviadas pela grande amazona norte americana Stacy Westfall.
Há duas coisas importantes a comentar sobre esporas; primeiro — uma espora, pode-se dizer que nada mais é do que um motivador e o segundo e esta pode ser uma surpresa para você, esporas não vão resolver seus problemas de movimentar o cavalo para a frente.
Um motivador é algo que incentiva o seu cavalo para fazer uma mudança em seu comportamento. Este motivador, se for bem usado, está no terreno das ajudas. Outras motivações comuns são as cabeçadas, embocaduras, as pernas enquanto montado e assim por diante. Nós usamos estas coisas para comunicarmos aos nossos cavalos, para deixá-los a par sobre o que é que estamos solicitando.
Por exemplo, quando você está conduzindo seu cavalo e você quer parar; Você vai pressionar para trás as rédeas e a embocadura. Quando o cavalo pára de se mover, você libera a pressão. Neste caso, o alivio da pressão na boca, no exato instante em que ele começa a ceder é o motivador que fornece o sinal para o cavalo. A comunicação clara indica ao seu cavalo que ele fez a coisa certa.
Se você está montando seu cavalo… e você quer mais velocidade, você primeiro vai motivar apertando as pernas, ou mesmo tocá-lo com elas. Quando é atingida a velocidade que você quer, você parar a pressão. O motivador aqui é a sua perna.
Mas, e se você quiser ser mais preciso com o seu pedido? Imagine apontar com um aceno de sua mão para indicar uma direção geral versus apontar para uma localização exata com o dedo no mapa. É aí que entra o uso de esporas na opinião da maioria dos especialistas; Eles acrescentam um maior grau de precisão na comunicação com meu cavalo, porque eu posso ter mais pontos de pressão em uma área menor. Elas também podem motivar um cavalo que sabe o que estou pedindo, mas que está determinado a ser lento ou relutante em responder. É um incentivo adicional quando essa pressão do dente reto é removida.
Esporas não são a melhor resposta para todos os cavalos. Considere este cenário:
Em uma empresa, o Empregado “um” chega ao trabalho cedo todos os dias, feliz por estar ali e pronto para realizar um bom trabalho, faz o que gosta e dá o melhor de si.
O Empregado “dois” vai para trabalhar todos os dias, mas muitas vezes é o último na porta. Embora lento para ir embora, uma vez no trabalho as suas ações podem ser geralmente boas.
O Empregado “três”, por sua vez, trabalha até tarde e perde a hora todos os dias regularmente. No trabalho, este empregado executa mal suas tarefas. Reprimendas repetidas têm pouco ou nenhum efeito. Como o tempo passa, este empregado faz menos e menos a cada dia em um esforço para descobrir como ele pode fazer menos e ainda receber um ordenadinho.
Descobrir com que tipo de “empregado” seu cavalo se parece e então encontrar uma motivação adequada. Você não deve nunca castigar com dores, violencia ou o absurdo de tirar do seu cavalo alimento ou água (que seria uma forma de pagamento), mas você pode tomar medidas que um empregador poderia tomar para levar a criação de consequências para a falta de ação e de vontade.
Os funcionários dois e três precisam ser lembrados das noções básicas de seu trabalho. Se seu cavalo cai em qualquer dessas categorias, de algum modo aprendeu que ignorar as pernas é uma resposta aceitável. Recorrer a esporas nesses casos só vai piorar seu problema e você pode acabar mesmo ensinando seu cavalo para ignorar suas esporas. Estes cavalos precisam repassar por alguns dos mesmos passos que um cavalo jovem atravessa a aprender o movimento para a frente. Isto inclui tudo o que deve acontecer antes da primeira saida externa de um cavalo como trabalho de base, feito do chão, comandos de voz e movendo-se para a frente, colocando-o no redondel sob pressão em sua linguagem. Em seguida, as mesmas lições precisam ser reforçadas da sela.
Alguns cavalos na categoria “funcionário dois” são claros sobre o que você quer, mas eles são lentos em responder. Enquanto as esporas podem ser de alguma utilidade nesse caso, você vai querer certificar-se de que você deve rever o básico antes de dar uma nova oportunidade dele responder. Certifique-se que o problema é seu tempo de resposta e não uma confusão sobre o que é que você está pedindo.
Então quando o uso das esporas é apropriado? Esporas podem ajudar a motivar seu cavalo eficazmente somente depois que o cavalo tiver uma compreensão completa (nível de formação) do que é que está sendo solicitado através das ajudas de pernas e estiver disposto a realizar.
Conforme o seu cavalo progride para maiores níveis de formação, menos e menos pressão é necessária para comunicar um pedido.
Atente para o fato que as esporas, ao invés de serem uma sugestão mais dura, podem realmente ser algo mais suave, por aí se vê como são mal usadas. Com esporas, um ponto concentrado de leve pressão pode comunicar o que exigiria mais pressão de uma superfície maior, como acontece no treino para o salto.

Começe a ensinar o cavalo como responder a uma leve pressao de perna antes de usar as esporas
Quando usadas corretamente os cavalos se importam e respondem ao leve toque das esporas para todos os movimentos. A chave aqui é “usá-las corretamente, sabendo o que voce quer solicitar, considerando o nivel em que ele se encontra no trabalho.”É importante para você conhecer suas próprias limitações. Não use esporas, se você sabe que pode golpear o cavalo com elas quando você não pretende fazer isso, isto é, ficar tocando, cutucando a barriga sem querer ou sem se dar conta. É preciso saber mais que o básico de equitação e saber quando encostá-las no cavalo, que tipo de toque voce quer dar e para que. E lembre-se, usando esporas quando seu cavalo não entende é como falar mais alto para alguém que não fala a sua língua; Isso não ajuda em nada”.
Outras dicas
• Se você nunca usou esporas antes certifique-se de que seu cavalo entende que suas pernas querem dizer “vamos para a frente”. Testar isso usando somente suas sugestões de perna para pedir o seu cavalo para andar, trotar e galopar (sem sinais de voz, chicote, etc.) Se seu cavalo não pode passar este teste, é você que precisa fazer uma reciclagem na sua equitação.

• Se você nunca usou esporas antes de iniciar com o pequeno deslizar delas no contato, este estilo é pequeno o suficiente para que você seja menos suscetível de estimular involuntariamente seu cavalo. Se suas pernas são mais curtas pode ser sempre necessário esporas mais curtas porque seu pé está mais perto do abdomen do cavalo. Se você tem pernas mais longas que penduram, para passar sua perna no tronco dos cavalos, você geralmente pode ir mais longe e usar as que tem hastes mais longas porque suas pernas são menos propensas a ficar batendo nos lados do seu cavalo.

• Usar esporas não fará com que você precise sempre de esporas. Apenas como qualquer outro treinamento cuide para você não fazer um cavalo excessivamente maçante ou excessivamente sensível a qualquer sugestão por causa de seu sincronismo e liberação.
• Nem todos os cavalos precisam de esporas. Avalie suas razões para querer usá-las e se você não tiver certeza, consulte um profissional em sua área de hipismo para aconselhamento pessoal, porque o uso é diferenciado para esportes, trabalho e ou lazer.

Cavalos não são máquinas e não vem com manual

Conseguir confiança, respeito, cooperação do seu Cavalo é uma longa jornada de amor, dedicação, compreensão mútua, flexibilidade fisica e mental para os dois e isso é tarefa de todos os dias, de todas as horas que estamos trabalhando com eles.
Cavalos não comportam soluções prontas, receitas simples, apertar esse botão e conseguir aquilo que pensa ser o certo. Quase nunca, o que voce apenas pensa ser o certo é de fato o certo. A boa relação com o Cavalo começa com o aprendizado do uso do seu “feeling”, ou seja, da sua intuição, sensibilidade, coração e exige que sejamos firmes com a gente mesmo e justos com o Cavalo, facilitando a cooperação e dificultando a chance de confronto, defesa e fuga.
Não tem pessoa séria que diga: “tá vendo esse cavalo… vou fazer isso, isso e aquilo e vai funcionar assim”. Olhar, ler o cavalo e respeitar o Cavalo no tempo dele é muito importante para o Cavalo e ele sabe e sente isso. Afinal, eles não são uma peça de equipamento ou uma máquina que você vai e compra com um manual do proprietário para usar bem.
Eles têm sentimentos e tomam decisões, algumas delas são boas, algumas não são tão boas assim, mas farão parte do caminho da experiencia com cada um deles.
Mas temos de viver e trabalhar com isso e melhorar muito nossa comunicação com eles,na linguagem deles, e talvez quando a gente repetir, tentar outra abordagem, fique mais claro e eles possam entender algumas das nossas necessidades e igualmente temos de entender as necessidades de cada um deles, em cada fase da sua escolarização.

Mas não pode esquecer nunca que você está trabalhando com um indivíduo.
Então, portanto; Trabalho com cada um deles como eles são… não como eu quero que eles sejam, mas o que eles estão podendo e conseguindo ser em cada momento.
Insisto que a partir do post que tenho no site sobre fazer a boca e a nuca do cavalo, com mais de 80 comentários até outro dia, a grande maioria girando em torno de qual embocadura é melhor para conter o cavalo, ou para o cavalo fazer isso e aquilo, ou ainda, meu cavalo acaba de ser “domado” mas não faz isso ou faz aquilo… e minha resposta mais refinada tem sido na direção: “ voce tem que se esforçar por melhorar a qualidade do seu trabalho montado, da sua sentada e do seu trabalho de pernas, do seu equilibro, compreenda mais sobre transferencia de peso, sobre centro de gravidade, sobre como ele precisa sentir para deslocar a paleta ou as pernas”,…
As “armas” que ainda se usa para baixar cabeça, a força que se põe nas mãos, o peso que se põe na boca, as tiradas de queixo, são formas acabadas da estupidez humana, é o que consigo dizer depois desses quase 20 anos.
Claro que curiosos, vendedores de ferramentas magicas, cabrestos especiais quase automaticos para forçar ou induzir respostas, se multiplicam por ai. Tive o desprazer outro dia de ver um vídeo onde chamaram de cabresto gentil uma sessão de pressao e fuga com um potro que não terminou com adesão voluntária, com mudança de atitude mental, e nem poderia, pessoas que não sabem chegar, sentir, ler a emoção dominante do cavalo, mas com adrenalina de controlar tudo, contida “para ingles ver”, mas cheirada e sentida pelo potro não podem obter confiança e passar segurança ao potro.
É o mesmo que ocorre entre pessoas quando uma fala uma coisa e faz seu oposto. Logo mais a frente serão desmascaradas. Podem enganar algumas pessoas o tempo todo, podem enganar todas as pessoas pouco tempo, mas nunca todos o tempo todo. Mas o cavalo é mais implacável. Ele nunca é enganado. O cheiro da adrenalina dos vendedores de soluções mágicas e cabrestos especiais não enganam o cavalo um só minuto. Porque dizem que o cabresto é gentil, mas o cheiro de medo e adrenalina não é, e dái o cavalo salta, corcoveia, quer se livrar e fugir de perto.
Mania besta das pessoas quererem se aproximar do cavalo para aplicar um método de contenção e imobilização eficiente.
Cavalos sentem e tomam decisões. Lidere-o, esforce-se para merecer sua confiança. E eles não precisarão de contenção forçada eles estarão ali ao seu lado, prontos para jogar junto.
Vivi uma experiencia desse tipo terrivel e num instante quase perigosa, num curso no interior de SP, quase me tornei o “zé sem orelha”, mas esquivei a tempo, na linguagem do cavalo alfa, aquele que nunca é mordido, sintonizei com a energia da égua assustada e defendida e ela a seguir deslocou a paleta, flexionou o pescoço, e ficou durante toda uma seção de imprinting com a cria dela, com o pescoço na horizontal, flectido e confiando totalmente na abordagem que construímos.
Sem botão liga-desliga, sem cabresto mágico e isso é uma das fases de um bom horsemanship, de um bom relacionamento.
Para muitos curiosos, precisamos compartilhar conhecimento e dar orientação, para mesquinhos, limites, aos que gastam dinheiro em enfeites, fivelas, botas de avestruz, mas querem montar a cavalo numa sela ruim, com manta fina demais, com cilha barata que belisca todo peito do Cavalo e fazem ele trabalhar mal dirigidos o dia todo, com dores, com pisadura na coluna, com assaduras, mal ferrageados, precisamos educa-los.
A educação do cavaleiro e proprietário é responsabilidade de treinadores, de criadores, de vendedores, de quem vive pelo Cavalo, mas ainda não somos a maioria, perdemos para os que vivem do cavalo.
Quer comprar ou ter um cavalo? A primeira pergunta para que? Resposta ok, passamos ao segundo ponto, ter um cavalo não é status, não se pode comprar por impulsos, não pode ser para mostrar aos outros, e nem apenas para usufruir. Significa responsabilidade, compromisso mutuo, prazer em ensinar e principalmente aprender com o Cavalo … se for nessa ordem teremos pessoas melhores em um mundo melhor. É a contribuição do Cavalo para nossa sociedade egocentrica, vaidosa, autossuficiente, violenta e etc.
“Para muitas pessoas ter e andar a cavalo é uma jornada sobre auto-descoberta, encontrar coisas que você precisa para ajustar, alterar ou melhorar.
Quando você achar que o cavalo é compelido e interessado em você, algo em você muda. Isso pode ser a cura ou o começo de uma mudança profunda, primeiro na forma de ver as coisas, na sua relação com o tempo delas acontecerem e depois uma mudança nos seus valores, no que de fato importa. O tempo e a distância dessa boa viagem é o de cada um. Sem receitas.
Há uma diferença entre dominar algo físico e trabalhar com um animal. Há um componente espiritual para trabalhar com um cavalo. Você está lidando com o espírito de um animal vivo que sente, se defende e toma decisões que fazem sentido na mente dele.
Na natureza este animal não teria nada a ver com você. “Natural horsemanship” são só palavras. Não é de fato natural porque entramos sem pedir licença na natureza deles e quase sempre queremos mais tirar do que compartilhar, como em tudo. Há uma abundância de confiança da parte dele que deve servir para ensinar algo a cada um de nós.
Imagine se os seres humanos pudessem ser tão gentis e generosos como o cavalo é conosco?
Jose Luiz Jorge
Horseman*
*baseado na pratica e no aprendizado com os Cavalos e nos ensinamentos ainda que distantes de Buck Branaman, Tom Dorrance, Ray Hunt, e dos mestres daqui, Eduardo Borba, Bjarke Rink –referencias saudaveis e afirmativas que temos ao alcance das mãos hoje em dia.

“Eu estou aqui pelo Cavalo”

Em um momento como o atual, em que “aventureiros” aparecem como grandes inovadores na relação milenar entre Homens e Cavalos, em que pessoas sem preparo e sem história como escolarizadores de potros e sem capacidade de falar com a alma do Cavalo querem escrever livros sobre um tema que exige vivência e dedicação integral, é útil para as pessoas de bem que querem mesmo compreender alma do Cavalo, que possamos recorrer aos clássicos.
E clássicos no tema do “Horsemanship” são os velhos mestres como Tom e Bill Dorrance, como Ray Hunt e Buck Branaman. A história que resgato abaixo é de 1998, de uma clínica de Ray Hunt originalmente publicada na edição de novembro daquele ano na revista norte-americana “ Western Horseman”.
Alguns podem dizer, nada de novo, mas a mensagem aqui é para remover o EGO INFLADO de alguns e resgatar uma fina sensibilidade.
A começar do título que responde com décadas de antecedência aos vaidosos de hoje, ele pontifica: “Estou aqui pelo Cavalo e não para ganhar concurso de popularidade”, ou seja o foco dele é o Cavalo e não dar show e impressionar uma plateia de leigos bem intencionados.
Veja o que o colunista da revista norte-americana “Western Horseman” escreveu na época.
Ele é reconhecidamente um mestre entre os “Horsemen” e seus seguidores iam em massa para ouvi-lo a compartilhar a sabedoria que levou uma vida inteira para colocar em palavras. Sua mensagem é direta e seu estilo pode intimidar, mas ele faz uma coisa clara: ele se preocupa com o cavalo e quer que você faça o mesmo.
Nas últimas décadas de sua vida, Ray Hunt construiu sua reputação em clínicas de equitação em toda a América do Norte, Austrália e Europa, entregando a seus estudantes uma mensagem acima do senso comum sobre respeito para com seus cavalos.
Ray Hunt nasceu 31 de agosto de 1929 em Paul Idaho pais Joel Eugene Hunt e Zua Stella Shangle Hunt. A família mudou-se para casa de montanha, Idaho, em 1933. Ray freqüentou escolas de Mountain Home e trabalhou com seu pai na fazenda da família. Ray casou-se com Millie Randall, em 1948. Em 1950, mudaram-se para a área de batalha Mountain, Nevada, onde Ray trabalhou como um cowboy para o rancho Lazy S T. Em 1955 a família mudou-se para a Califórnia.
Ray continuou trabalhando com cavalos, tornando-se famoso no mundo para seus métodos pioneiros. Ray casou-se com Carolyn Lord em 1980, no lago de Georgetown, Montana. As clínicas cresceram de proporções épicas com Ray, ajudando pessoas e cavalos, tanto internamente como internacionalmente. Ray frequentemente ganhou reconhecimento por suas realizações, incluindo o prêmio Top de mão, sendo introduzido em para a Califórnia freou vaca cavalo Hall of Fame em 2004 e foi nomeado o primeiro cavaleiro de Western do ano em 2005. Ray faleceu 12 de março de 2009 em Denton, Texas após uma batalha longa e corajosa contra uma doença pulmonar crônica, (um tipo de enfisema pulmonar). Seu trabalho e sua filosofia continuam vivos através da Fundação que perpetua o legado dele, que é uma verdadeira Lenda no mundo do Cavalo.

“As pessoas têm de aprender que o que fazem com o cavalo não está certo,” ele diz. “Você é quem tem ele em sua vida. É incrível o que cavalo vai passar para satisfazer um ser humano.” Em clínicas de escolarização de potros de Hunt, os estudantes traziam potros “verdes” para começaram sob a sela. Cada aluno é dirigido através do processo de familiarizar o cavalo com um baixeiro de sela, sela e ações de dessensibilização, manipulando áreas sensíveis do cavalo, todos os quais parecem no início falar em outro idioma, criando uma situação assustadora, para alguns cavalos jovens.
Dentro de dois dias, os alunos do Hunt terão avançado e pode-se dizer terão feito o cavalo. Ao longo do caminho, eles vão aprender uma lição que vai mudar totalmente as vidas de muitos cavaleiros: “Sempre, o Cavalo deve vir em primeiro lugar”.

Ray AVISA

É uma manhã de início de verão no Colorado, e uma dúzia de pessoas está começando a se reunir perto de um redondel em um estábulo coberto. Alguns minutos antes do início programado da clínica, Ray Hunt que então estava com 69 anos, leva um cavalo tordilho na sela, passa pelo grupo de espectadores e para. Ele veste uma camisa grande, um chapéu que quase corresponde a cor do seu cavalo, criando o visual despretensioso de um vaqueiro experiente. Sua presença, porém, é maior que a vida, ele fecha o portão atrás de si.
Girando lentamente para atender com os olhos cada pessoa, Ray Hunt começa a sua abordagem na arena, permitindo que seus alunos saibam onde estão.- “Eu não tenho medo de chamar uma pá uma pá,” ele diz com uma voz profunda que ecoa sobre um sistema de audição publica. “Se eu ver que algo não está funcionando bem, eu vou te dizer. Estou aqui para o cavalo, não para você, e não estou aqui para ganhar um concurso de popularidade. Se você gostar de mim quando estiver pronto, tudo bem.” Com isso, começa a lição.

Filosofia
Hunt foi criado em uma fazenda fora de Mountain Home, Idaho, onde ele ainda morou com sua esposa, Carolyn, até 2009 quando se foi. Durante sua infância, parte da sua rotina diária era o trabalho. Ray, quando jovem observou o comportamento dos animais criou uma abordagem inicial que o levou a trabalhar com sucesso com eles. ‘Meu pai costumava me dizer que se você mente para cavalo no celeiro, ele vai mentir para voce no campo’, recorda Ray. “Fui educado com muita disciplina, e que traz isso ainda hoje, no que fazer com os cavalos.”
Respeito constitui a base do trabalho do Hunt com cavalos – ganhando o respeito do cavalo e respeitando o cavalo. “Ninguém respeita um cavalo mais do que eu”, diz ele. “Um cavalo pensa, sente, toma decisões. Você tem que se colocar no lugar do cavalo. Você, no lugar dele, esperaria que fosse ajudá-lo. Tratá-lo como um amigo, não um escravo. “As pessoas não tentam fazer as coisas erradas com seus cavalos. Eles fazem as coisas da maneira errada, porque elas não conheceram nada melhor. Humilde ele ensinou: – Bem, eu fiz todas as coisas erradas, que qualquer um pode fazer. Você, não precisa.repetir isso.”
Hunt faz uma pausa nas suas observações introdutórias e caminha para mais perto da cabeça do seu cavalo. Ele faz gestos em direção o cavalo, ele diz, “isto é meu corpo, minha mente”. Ele pára novamente, levando a um rápido olhar no olho do cavalo, antes de ligar novamente para enfrentar seus alunos, “talvez hoje ainda não,” ele diz, “mas um dia.”

Primeira lição

Terminada a introdução, Hunt monta o jovem cavalo tordilho e direciona a três de seus alunos para levarem seus cavalos para o redondel. Cada potro usa um cabresto de corda, e seus condutores transportam selas e mantas. Como eles entram no redondel, os alunos apoiam as suas selas no chão, em seguida, selecionam pontos abertos ao longo da cerca. Cada manejador mantém uma corda de cabresto de seu cavalo drapejada sobre um braço, aderindo a uma das regras do Hunt para trabalhar com cavalos verdes. “É um mau hábito soltar a corda do cabresto”, ele diz. “Está pedindo para o seu cavalo fugir.”
Carregando baixeiros de sela, os alunos abordam cuidadosamente seus potros. Com o círculo de cavalos jovens longe dos baixeiros, ele solicita para mover-se com seus cavalos, ensinando-lhes que afastar-se não é uma fuga. Em breve, os potros estão mais confortáveis e começam a ficar em silêncio, mas timidamente. Os alunos cuidadosamente roçam os baixeiros desde o pescoço dos cavalos, os lados, costas e quadris. Em pouco tempo, cada potro tolera o lance casual de um cobertor em sua parte traseira. Seguida, vêm as selas. Hunt recomenda que seus alunos coloquem cuidadosamente suas selas nas costas dos cavalos. Eles reposicionam nas plataformas, deslocando-os para frente, para trás, compilação de lado para o outro, ajudando os níveis de conforto do potro.
Finalmente, as cinchas são preparadas e Hunt pede aos manejadores para deixar o redondel. Ainda a cavalo, ele cavalga para o centro da arena, acenando uma bandeira vermelha pequena. Ele dirige os potros em torno do perímetro do curral, observa-os atentamente e espera por eles para que virem para dentro, para centrar a sua atenção em direção ao meio da arena. Os potros movimentam-se em cada direção, o movimento de um estribo desencadeia o fanfarrão ocasional de um cavalo jovem, enviando o trio em um curto frenesi de correria de um lado a outro.
Uma vez que o grupo se instala, e os potros parecem confortáveis e prontamente dirigem sua atenção para o centro, os manejadores retornam para apresentar a eles as cabeçadas. Os potros são levados para um outro redondel maior, a 150 metros de largura, onde então soltarão os potros, ainda selados. Outro grupo de três é trazido para a arena com o Hunt, e o processo começa novamente.
À tarde, vários conjuntos de potros foram virados e depois soltos no piquete maior. Hunt passeia entre os cavalos e começa a trabalhar o grupo ao redor do perímetro da arena maior, assistindo novamente para o deslocamento gradual da atenção em direção a ele. Em seguida, os manejadores pegam seus cavalos, os desmontam e recomeçam a lição, “inertização e selando”. Quando cada cavalo está confortável com esta segunda selada, termina trabalho do dia .
Segunda Lição

Segunda lição, na manhã seguinte, o primeiro de uma série de estudantes leva seu potro ao redondel e pacientemente sela seu cavalo sob supervisão do Hunt. Uma vez que a cincha está apertada, Hunt cavalga para a potro e leva a corda do cabresto, momentaneamente, dispensando o estudante a um local protegido ao longo da cerca.
Hunt leva o potro, um par de passos e inverte a corda do cabresto uma vez ou duas, aferindo as respostas do potro. Ele chama para o manejador e o orienta a a subir pelo estribo esquerdo, colocando o peso sobre o potro pela primeira vez. Como ele continua a segurar a corda do cabresto, Hunt treina o aluno, dizendo-lhe quando deve aumentar a pressão sobre o estribo, quando inclinar-se em toda a sela e quando a balançar a perna direita por cima e deslizar um pé para o estribo do lado direito. Montado, o aluno leva a corda do cabresto de Hunt, que adverte contra usá-lo para guiar o potro. “Espere,” disse Hunt. “vá para onde ele quer ir.”
O processo é repetido com uma meia-dúzia ou mais de cavalos até o pequeno redondel estar lotado com potros verdes à deriva ao longo da cerca, transportando os pilotos pela primeira vez. “Agora, vocês todos a sua carteira de piloto destes “carrinhos”, certo?” Hunt pede. “Espere, e eu vou te levar para um passeio.” Hunt usa a bandeira que ele costumava trabalhar os potros no redondel. Em cima de seu cavalo, ele empurra o grupo dos potros a cercar o perímetro, primeiro uma direção, então o próximo. Com cavaleiros segurando seus chifres de sela, o grupo passa a trote, com os mais enérgicos potros entrarem em galopes curtos.
Hunt facilita e os potros respondem. Os “cavaleiros” desmontam e levam seus cavalos para a arena maior, onde eles desmontem e iniciam o processo novamente. Pelo meio da tarde, os potros carregaram seus pilotos uma segunda vez.
Superação

Na mente de Ray Hunt, o cavalo supera o humano por várias notas. O cavalo sabe o que você sabe e sabe o que você não sabe. É que os erros e suposições que ele vê as pessoas fazerem sobre manipulação de cavalo é que os mantém em um nível abaixo do cavalo. “Quando um cavalo não faz o que lhe dizer, você acha que perdeu,” disse Hunt. “Não é sobre ganhar ou perder. Um cavalo nem sabe o que isso significa. Se algo der errado, comece novamente. Você tem que aceitar a derrota para obter sucesso.”
Ray Hunt também vê muitos cavaleiros não reconhecem a diferença entre malícia e auto-preservação. “Suas ações-gatilho como o medo do cavalo, é que o levam a precisar dar coices ou morder”, diz ele. “Para um cavalo, que não está se comportando mal, ele está tentando apenas se proteger e eles tem esse direito.” Alunos do Ray esforçam-se em compreender e obter seu louvor e temem sua repreensão. Quando ele sorri para o seu esforço, é inestimável. Trabalhar para impressionar o professor, na verdade, não vale a pena. Lembre-se, ele está lá para seu cavalo, para facilitar a vida do seu cavalo, ensinando-lhe a maneira correta de trabalhar com ele.
“Você nunca passará o cavalo,” diz ele. “Há apenas um homem que conheci que era igual a um cavalo: Tom Dorrance. Eu aprendi um pouco de todos que conheci, mesmo se é algo que eu nunca iria querer fazer, mas Tom Dorrance teve uma influência real sobre mim.” Desde a primeira reunião com Dorrance na década de 1960, a reputação do Hunt como professor chegou para coincidir com o mais lendário cavaleiro. Hunt ensina, porém, que um cavalo pode ser uma influência tão grande quanto pode ser qualquer pessoa. “Se Você trabalhar do ponto de vista dele, obterá o “feedback” positivo de um cavalo,” ele diz. “Eles falam para nós o tempo todo. Eles não estão sussurrando, como o encantador de cavalos. Eles estão gritando. Se soubermos ouvi-los e dermos ao cavalo uma pausa, ele vai nos ajudar.”

A reabilitação de um cavalo mal tratado é lenta, exige tempo, dedicação, respeito e liderança confiável

Sempre insisto que a base de todo trabalho com o cavalo começa com a conquista da confiança, o que só podemos obter quando nos esforçamos para ver o mundo como eles, do ponto de vista deles e quando começamos respeitando e deixamos claro que se ele se sentir ameaçado deve usar seus instinto de auto-preservação.
Nossa responsabilidade começa em demonstrar que ele não estará ameaçado quando estiver ao nosso lado. Devemos facilitar a escolha correta, que leva o cavalo a aderir ao nosso projeto de trabalharmos juntos.
O primeiro passo é dedicar tempo para ler o cavalo, seus sinais, sua linguagem própria, a qual compete a nós aprender, praticar, experimentar e obter respostas do cavalo que fazem sentido para ambos.

Já escrevi e muito já trataram também da linguagem corporal, dos sinais que ele nos dá enquanto começamos a nos comunicar de igual para igual dentro do redondel. Mas vale a pena voltar ao ponto de partida, o de que eles na natureza são predados, servem como comida para outras espécies de predadores carnívoros, sem perder de vista que os cavalos nos veem como sendo representantes dessa outra turma. A começar da posição frontal dos nossos olhos, do nosso “jeito” de carnívoros, e que muitas vezes liberamos adrenalina pela pele sem que nos damos conta.
A questão não é racional, a emoção dominante dos cavalos é o medo, derivado de seu instinto de auto-preservação e os humanos, muito cheios de si, quase nunca admitem medo, muitos tornam-se violentos ou agressivos quando sentem-se ameaçados ou com medo. E é nessa hora que liberam adrenalina e esse cheiro está gravado geneticamente no Cavalo como cheiro de perigo.
Portanto quem faz as coisas do velho modo, na base do “vai ver quem manda”, “faça o que mando e aceite tudo, os castigos sem noção, a velha doma na base na vara de bambu, ou pior, em alguns casos, do guatambu mesmo, acabam por minar e aterrorizar o espirito do Cavalo que lhes obedece pelo terror”. Ai esse senhor, dito domador, vende o cavalo a uma pessoa de bem, que não sabe da história e mal leva o cavalo para sua casa, ele sente que o cheiro mudou e parte para a resposta de medo-fuga, sem ser mais castigado, torna-se perigoso para ser montado, arredio ao contato, pode morder, e outros hábitos não desejados. Ai toca nosso telefone e uma voz entre tremula e preocupada demais, quase no limite nos pede: – o Senhor pode dar um jeito de recuperar esse cavalo? É que apesar dele ser assim eu ainda gosto dele.

Os cavalos naturalmente sentem medo de movimentos bruscos e objetos erguidos sobre suas cabeças. Quando os cavalos em sua história de vida sofreram abusos ou foram negligenciados, eles têm motivos para não gostar de pessoas e muitas vezes são ainda mais temíveis.
Uma terrível característica é “a cabeça tímida” – aquela que vira de lado quando chegamos perto, acompanhada ou não de uma murchada de orelha e do arregalo do olho, (quando mostra a parte branca e a cabeça sobe até o terceiro andar). Isso acontece principalmente se o cavalo foi atingido no rosto ou teve suas orelhas torcidas ou puxadas. Um cavalo “tímido” de cabeça” responderá sempre assustado ou afastado para trás quando você tentar acessar sua cabeça. É preciso algum esforço e paciência para ajudá-los a superar isso. Lembre-se sempre de ser confiante em torno de um cavalo. Calmo, seguro, com a alma leve, claro na comunicação do que quer fazer – não fixando seus olhos nos dele, com atitude corporal calma, sem no entanto deixar de ser firme e assertivo.

Algumas dicas de abordagem e aproximação

1.Sempre aproxime-se do cavalo devagar e com calma olhando desde o pé traseiro para a cabeça, chegue sempre pelo lado nunca de frente e não mire seus olhos primeiramente. O predador quando ataca olha nos olhos. O cavalo é um agente terapêutico porque nos obriga a auto conhecimento, a uma auto percepção sobre como estamos nos sentindo quando chegamos perto deles. O cavalo é um amplificador das nossas emoções. Chegue calmo e assertivo, firme e tranquilo e terá sempre um cavalo tranquilo. Chegue acelerado, agitado, receoso, inseguro, incerto e terá um cavalo agitado, fugidio e perigoso porque tende a se defender do que para ele seria uma ameaça.
Se você sentir que está nervoso ou instável, não demonstre e não deixe transparecer. Respire profundamente e expire longamente antes de chegar a ele, pense em uma musica que gosta, cantarole alto, relaxe. Observe que o cavalo muda, na hora, até o posicionamento das orelhas quando você age assim.
2.Quando for tocar um cavalo estranho pela primeira vez, chegue de lado e toque primeiro a tabua lateral de seu pescoço, tocando algumas vezes com a palma da mão, depois vá lentamente até seu nariz, mostre antes a costa das mãos com os dedos fechados (dedos abertos parecem garras). Lembre-se que a linguagem do cavalo se baseia em pressão e alivio e eles apreendem o que queremos propor quando aliviamos. Se você levar a mão em direção ao nariz e ele afastar a cabeça, afaste-se um passo e depois repita. Quando você se afasta está dizendo que vai aliviar e ele no momento que percebe isso pode dar um passo em sua direção.
3.Esfregue suavemente o nariz para que ele sinta que não será machucado. Muitos gostam de retribuir esse contato pegando com o beiço sua pele ou manga, diferente de quando ele ameaça morder. Se você ficar com medo ou desconfortável, afaste lentamente a mão, sem gestos bruscos que irão quebrar toda a harmonia da apresentação. Não se pode causar uma “segunda” primeira boa impressão, se assustar o cavalo, vai voltar à estaca zero.
4.Suba lentamente a mão pela fronte, do nariz até a testa, fazendo movimentos lentos e circulares, enquanto conversa com ele com tom de voz calmo e tranquilo, você está tocando um dos dois pontos cegos que ele tem, (entre os olhos- e na cola da cauda), e se ele está permitindo esse contato começa-se a estabelecer uma base de confiança interessante. Nessa hora pode tentar estabelecer contato visual direto, mas faça-o com os olhos semi-cerrados, como os dele, são pequenos sinais que fazem sentido na mente dele.

5.Desse ponto passe para a parte alta da crineira, onde você pode massagear lentamente, descendo até a cernelha e subindo lentamente até perto da orelha, sempre atento às suas reações e às dele, cavalos quando soltos na natureza também se tocam no pescoço, quando amigos, se coçam mutuamente. De vez em quando olhe para ele, ganhando seus olhos primeiro em rápidos segundos, depois desvia de novo, e quando voltar ao contato visual, vá lentamente demorando-se mais um, pouco antes de desviar de novo. Se algo estranho acontecer em volta, como ruídos, movimentos, ignore-os e mantenha-se focado nele e calmo. Ele tem que sentir que pode confiar em você desde as pequenas situações, e dai por diante, ele começará a associar sua presença como um amigo que chega e com ele gosta de estar e “conversar”.
6.Quando depois disso você colocar o cabresto para leva-lo ao piquete, ao redondel ou à pista ele começará a segui-lo confiante e dai por diante é tema para outros enfoques, em outras matérias