Quando se fala em iniciação ou escolarização de potros os conceitos essenciais do Horsemanship, como refinar a capacidade do instrutor de ler o animal, respeitar o tempo de resposta de cada um e saber solicitar com clareza, aliviando a pressão no exato instante da resposta correta, podem ser um bom guia para o trabalho de iniciar os “Longears” ( orelhas longas), como os americanos gostam de chamar os Muares. Mas, apenas essa direção e boa vontade não bastam. Brad Cameron, uma autoridade no “Mulemanship” nos ajuda a responder a consulta feita por Neoli Bazzani, através da Revista Horse; Meu irmão sabe domar cavalos e gostaria de saber se há diferença na maneira de domar mulas e burros, e como seria?
Aqui, vamos passar apenas alguns itens essenciais para que o domador tenha exito na tarefa que pode exigir o apoio de profissionais especializados, ainda que para consultas especificas conforme o trabalho avança.
Primeira coisa, lembre-se que não existem atalhos. Trace um plano com objetivos claros a alcançar e o primeiro deles é conquistar e consolidar a confiança da Mula em você. Mulas aprendem mais rapido do que um Cavalo e gostam de ir direto ao ponto. Não aprendem nada por medo de pancada, elas enfrentam a dor com firmeza e tenha cuidado quando ficar irritado só porque elas querem fazer outras escolhas, não a agrida. Mulas aguentam dores absurdas, quietas. Vamos lá;
1. As interações com uma mula devem ser enraizadas na etologia (a Ethologia é a disciplina que estuda o comportamento animal). Ou seja, trabalhe com a natureza da mula para conseguir o que você quer. Isto significa que os seres humanos necessitam compreender a psicologia e o comportamento da mula, para praticar e obter resultados e as respostas esperadas. Isto envolveria uma pesquisa antes de começar a doma, buscar referencias teóricas e ir para pratica com mais informação, como fazer um mapa antes pegar a estrada para um lugar onde voce nunca foi.
Brad Cameron nos EUA, é um “muleman” de respeito e a internet um bom canal para trocar ideias com ele, além do Blog do Pêga aqui no Brasil, com muita coisa boa.
Nessa fase busque compreender o que motiva as mulas e para lhes ajudar sentir que sua idéia para o trabalho é tão boa quanto a “idéia” que ela possa ter.
2. A mula deve ser absolvida de culpa todas as vezes, de todos os problemas ou situações que transformam-se em problemas no trabalho, cuja responsabilidade sempre é do cavaleiro/treinador resolver. Isso vale como indicação para a sua atitude e postura diante do trabalho com elas.
3. A mula deve ser vista como um animal de sentimento, não como uma máquina e interagir com ela nesta base. Mulas e Burros tem uma massa encefálica maior que a do Cavalo, sua natureza não é a de animal de fuga, seu padrão de resposta é diferente dos Cavalos. Treine o muar com o menor número possível de impasses ou conflitos. Procure reduzir os desentendimentos ao mínimo. Aprenda as diferentes linguagens do muar, para que possa falar a língua deles.
4) Dê ao muar mérito por sua inteligência. Mas mérito demais pode te trazer problemas tanto quanto não dar. Então, o estimulo e o cumprimento como tapinhas no pescoço bastam para fixar a resposta correta.
5) Quando precisar punir, no sentido de colocar limites, faça na medida do erro que ela cometeu. Punir não é castigar. Quando for corrigir o seu muar, NUNCA puna mais do que deve e NUNCA perca a cabeça. Você pode se aborrecer, mas não perder o controle. Quando a punição adequada for dada, esqueça o problema e siga em frente. Quando VOCÊ cometer um erro, perdoe a si mesmo, perdoe o seu muar, siga em frente. Tenha humildade sempre.
6) Quando acontecerem problemas de comportamento, pare, observe e descubra o por que. Investigue, será que algum equipamento está causando dor ao muar? Será que está precisando de um tempo de descanso? Precisa de uma mudança na rotina? Você é o responsável por tudo e deve descobrir o que a incomoda. Vale a pena antes de iniciar o trabalho com embocaduras proceder um exame dentário, com um especialista, de preferencia em torno dos três anos de idade dela.
7) Respeite seu muar e permita que ele seja ele mesmo. Isso mesmo, permita que ele seja um muar e aja como tal. Que seja único, corajoso, tomador de iniciativas, de espirito altivo independente, vigoroso, permita que ele seja essa criatura híbrida que ele é. Alterar o comportamento é uma coisa, mas tentar mudar sua natureza é completamente diferente. Interagir com ela na base de uma confiança mutua dispensa a violência gratuita, o uso de pitos por qualquer coisa, os castigos físicos que ela vai suportar a ponto de obrigar o mau treinador a sair desse limite e passar a agir como um agressor.
Na medida em que aprendemos o idioma das Mulas, como já conhecemos os sinais e a linguagem do Cavalo, teríamos mais autoconfiança e mais segurança em lidar com elas. A reação violenta e defensiva da maioria dos “adestradores” de muar tem um nome: medo da mula! O famoso “ vou mostrar quem manda”, quando a proposta não é a de submeter pela dor e pelo medo, até porque se for por esse caminho, ela pode ganhar. Como bem define André Luiz Ferreira Silva, árbitro e membro do conselho deliberativo da Associação Brasileira dos Criadores do Jumento Pêga, “Você é capaz de agir e aplicar o que sabe quando necessário, e rapidamente fazer uma analise da situação em cada incidente de treinamento com uma mente aberta e objetiva? Você consegue ser criativo no treinamento para que você e o seu muar se mantenham interessados? Você se sentiria mais a vontade nas suas técnicas de treinamento se você soubesse como funcionam as mentes dos hibridos?” Esse é o desafio proposto e se se você se sair bem terá uma mula parceira e de confiança que vai até de defender diante de alguma ameaça, faculdade que só os Muares têm, já que podem ser treinados até para defender um rebanho.
Como trabalhar um cavalo que não pode ser montado?
Olá Jose Luiz do Rancho São Miguel
Primeiro, obrigado por todas as boas dicas que você compartilha com todos. O trabalho que você faz é um grande serviço para quem é dono e adora cavalos.
Verifiquei seus “posts” no site mas, não vi nada sobre este tópico específico e espero que você me aponte uma direção a seguir. Eu tenho um Cavalo mais do que maduro, ele está com 18 anos e recentemente foi diagnosticado um tumor ou lesão em sua coluna alta (em seu pescoço). Ele não está tendo grandes problemas por causa disso, mas os veterinários que encontraram o problema (3 deles) concordam no diagnóstico e todos disseram que ele pode transportar a si próprio, mas não é possível a ele transportar com segurança um cavaleiro.
Assim, o cavalo está impossibilitado de ser montado, mas ele é saudável, no geral, apesar do tumor.Os veterinários dizem que não é recomendável montar, mas não chega a ser perigoso, no entanto eu não passeio mais nele.
Assim ele passa a maior parte do seu tempo que lhe resta com seus amigos, nos piquetes de pasto e eu o vejo galopar em trechos curtos ao lado dos demais. Sem poder montar, algumas pessoas me dizem simplesmente para sacrificá-lo, mas eu não posso fazer isso. Ele ainda parece muito confortável e firme e desde que ele não é montado, ele tem se mostrado em ótimo estado para um indivíduo idoso que obteve uma aposentadoria decente.
O único problema é que, enquanto seu corpo não é mais apto para qualquer trabalho muito difícil, sua mente ainda é muito ativa. Ele é curioso e inteligente e fica facilmente entediado e na sua juventude era um cavalo de hípica, e provas e foi usado em um conjunto de atividades que manteve a mente e corpo ocupados na maioria das vezes. A aposentadoria é maçante demais para ele. Abraços, Emerson.
Oi Emerson!
Você está correto em dizer que a carreira do cavalo como cavalo atleta terminou. Como os veterinarios falaram, montá-lo não seria seguro para o cavalo ou mesmo para você.
Eu penso que você está certo em manter ele ativo e o trabalho de chão (ground work) é um bom caminho.
Vou levar apenas um momento para lembrá-lo que cavalgadas, saltos, podem colocar uma pressão considerável sobre as articulações, a começar dos membros dianteiros na aterrisagem de um salto, sobre os posteriores e a coluna na impulsão do salto, especialmente se o equilíbrio do cavalo é inferior ao ideal. Enquanto que esse trabalho feito do chão trabalha a flexibilidade e coordenação, e dependendo do que voce propor pode manter a mente dele ativa.
Eu posso entender o problema de tédio e também um certo maus humor que um cavalo entediado pode ter até. Por isso, também, vale dizer que é possivel “ensinar-lhe truques”
mas “balance” (ações de rédeas) e saltos não devem mais ser incluídos em seu repertório.
No trabalho de base, utilizando bandeiras, bolas grandes (como faz Pat Parelli) ele pode tornar qualquer divertido sem recorrer a voltas em torno de barris ou saltos sobre troncos ou fardos de feno ou outros obstáculos. É simples, ele merece um fim de vida digno e saudavel, voce pode muitas coisas num piquete ou redondel, só não deve montar, trabalhar rédeas ou saltar, porque todos esses trabalhos na medida em que exigem engajamento (reunião) e desengajamento, contração e flexibilização, sobretudo com peso na coluna, não são recomendados.
Eu acho que trabalhos à guia, leves curvaturas de pescoço, recuar à guia, exercicios que usamos na formação e treinamento de potros, podem ajudar um cavalo idoso com tumor na coluna, mas mentalmente ativo a ter uma programação fisica leve e ideal – nessas atividades
não é necessário fazer qualquer exigência física grave nele, mas elas vão fazer constantes e agradáveis desafios mentais.
De sua descrição sobr o seu comportamento atual e seu passado, eu diria que
estas actividades iriam servir-lhe muito bem. Como tantos outros bons cavalos que trabalharam pesado e com metodologia de preparação de atletas seu cavalo
precisa de ter algum tipo de trabalho, e provavelmente se sente um pouco perdido sem nada a fazer e cabe ao proprietário e treinador propor alguma atividade regular. Isso é fundamental para cavalos saudáveis, mesmo os de passeio e sela, o que elimina qualuqer risco de desenvolverem bardas, quanto mais para um cavalo com o problema fisico do seu.
Alguns cavalos são perfeitamente adequados para ser manejados por seus
seres humanos favoritos. Outros cavalos, como alguns cães e um bom numero de seres humanos, apenas querem desfrutar de uma aposentadoria, aliás vivem fazendo planos para quando se aposentarem, não terem de faer nada, o que eu acho péssio, outros tantos, mesmo aposentados precisam continuar tendo responsabilidades, desafios, eles apenas querem mais trabalho, aquele que lhes pode fazer felizes!
Um parenteses no tema especifico sobre trabalhar cavalos que não podem ser montados, quero dizer que aqueles indivíduos que assumem novos desafios, mentais, fisicos, profisisonais, culturais, musicais, artisticos, são invariavelmente muito mais felizes quando eles têm uma agenda e algo para fazer, principalmente se for o que gostam e que se sentem bem fazendo. Penso hoje em dia que as pessoas precisam ter coragem e disposição de fazer escolhas, e escolhas são também renuncias, toda vez que temos ou criamos mais de uma opção, ao definir por uma perde-se a outra. Fazer o que se gosta, o que acredita, mesmo perdendo algum recurso ou comodidade, ou segurança, traz maior qualidade de vida, afinal vivemos pressionados nas cidades a ter e comprar o que nem precisamos tanto assim.
Voltando ao cavalo, saiba que eles também fazem escolhas, e sabem com quem gostam mais de trabalhar, preferem este à aquele tratador, e ter alguém
agradável para trabalhar com ele, em seguida, adicionar elogios e recompensas com –
bom feedback do chefe, por assim dizer – para estimular seu bom desempenho ou mesmo (como deve ser a norma no treinamento do cavalo) para premiar até mesmo o menor indício de qualquer grau de desempenho – se voce fizer isso, o que você terá é um cavalo muito feliz.
De um jovem potro desequilibrado e ignorante sobre sua condição de cavalo de sela, trabalho, lazer, até para cavalos ativos, atletas experientes, velhos, todos os cavalos podem aprender a fazer sua atividade como um jogo divertido e encantador.
Se você estiver montado, trabalhando ajudas, rédeas, pedir mudanças de marcha e
marcha e transições (passos mais curtos, mais largos, ritmo mais rápido, andamento mais lento, alterações de direção, troca de mãos), não vá em “piloto automático” – manter seu cavalo alerta e vivo, e certifique-se de falar com ele como ele vai ao seu redor e louvá-lo como ele está de acordo com suas solicitações. Ele vai manter o foco em você. Você vai manter o foco sobre ele e ambos estarão satisfeitos e entretidos.
O trabalho de rédeas, encurvaturas sobre si, flexoes de pescoço sempre acompanhadas do alivio no instante exato da resposta, seguido de um relaxamento e distencionamento, também é um trabalho que pode ser muito divertido e permite que você refine sua comunicação
por meio das rédeas e comunicar-se com o cavalo de diferentes maneiras e de diferentes posições como você solicita curvas, círculos, figura-oitos, tortuosas, etc. São coisas que podem ser feitas em cima e no seu caso, também do chão.
Para finalizar quero recomendar a Voce e a quem ler, um ótimo livro chamado de “100 arena’s exercises”, ou 100 exercícios de arena, encontravel em SP na Livraria Cultura, mas quero também dizer que no meu caso, a melhor coisa que fiz foi mudar para o rancho e estar perto dos meus cavalos, poder ve-los todos os dias, olhar como estão se desenvolvendo, como estão se comportando soltos nos piquetes, como se comunicam entre si, como respondem ao trablho, iniciar potros, meus e de terceiros e reabilitar cavalos com problemas, começando sempre por re-treinar os cavaleiros e os proprietários.
Manter seu cavalo perto, à sua vista, e se tiver que contar com uma hospedagem certifique-se antes de todas as questões tratadas aqui, se o dono do local cuida de fato ou mal e mal joga comida na baia, se trabalham seu cavalo, como o fazem e por que, leia, se prepare, conheça sempre mais sobre comportamento dos equinos e muares, a convivencia no trabalho, a integração entre homem e cavalo são essenciais e preventivas até mesmo de problemas neurologicos ou fisicos que podem minar a qualidade de vida do seu cavalo e mesmo levá-lo a morte, afinal, voce mesmo ouviu de muita gente, se ele não for mais utili, apenas sacrifique. E isso é um absurdo, tipicamente do ser “humano” ligado na chamada “industria do cavalo”. Voltando à resposta da sua pergunta original, eu penso que você pode gerenciar o trabalho e manter seu cavalo feliz por um bom tempo tempo ainda e espero que
use o trabalho de base criativo, o trabalho de base e possivelmente
trabalho à guia longa, trabalho de formação e isso dará a você e seu cavalo muito
prazer e manter seu cavalo vivo vai fazer bem fisica, mental e emocionalmente – para os dois por muitos anos.
Como conduzir melhor o seu Cavalo
De novo a velha questão sobre qual a melhor embocadura, que é tema constante em cartas, e-mails e cursos em varias partes do país. Aqui também. Esta semana foram tres as mensagens com questões sobre: “Qual embocadura resolverá o problema do controle?
Uma delas chamou a atenção: “As respostas do cavalo não estão sendo as que eu espero. Minha filha tem doze anos e não é muito alta. Tem um cavalo novo. Nós o compramos porque os proprietários não estavam com recursos para alimentar mais cavalos.
Era magro, mas agora isso é passado, ele mudou está forte, musculoso e está muito mais ativo e a Anna está com receio de montá-lo. A senhora que o vendeu deu-nos a sela e um bridão bem leve. O bridão tem uma tração articulada e não dá bastante controle agora que este cavalo está em melhor forma.
Ele fica rebelde, ameaça pular e nega o lado direito. Não estamos com recursos para manda-lo a um instrutor como vocês no Rancho que reabilitam comportamentos para refazer sua mente. Ele quer sair com suas amigas a cavalo para mais longe de casa mas ficamos receosos sobre como ele vai se comportar e achamos que não é seguro.
Cheguei a pensar em cortar a comida dele para voltar a emagrecer, mas isso parece coisa de louco. Nos diga como resolver isso em breve porque as férias estão chegando”
Outro caso é de um cavalo marchador, muito, muito dócil que nós iniciamos há uns três anos e agora vendo no youtube.com um vídeo sobre como ele está, duas coisas me chamaram muito a atenção, uma é que o equitador trabalhava as rédeas baixas na altura dos joelhos, abertas e como se ele fosse um QM, outra mantinha a boca sob forte pressão o tempo todo e eu senti a dor do cavalo querendo escapar daquele desconforto como se fosse em mim, além é claro que ele usava um pelian com perna longa – e forte ação na boca – o tempo todo, claro que o cavalo dava galões e desobedecia mesmo, querendo escapar de baixo do “predador”, e exercer seu direito à auto-preservação.
Por fim o terceiro foi o e-mail de um jovem que fazendo mais ou menos a mesma coisa, queria, por conselho de curiosos, aplicar um freio agua choca fino, a mais dura das embocaduras em um cavalo de quatro anos.
É até triste pensar com que frequência acontece esse mesmo tipo de situação, ruim para o cavalo e ruim para as pessoas que não podem usufruir com tranquilidade do seu parceiro de passeios e esportes, muito por causa de uma certa falta sensibilidade e responsabilidade de “domadores” e curiosos que se põem como equitadores em hospedagens de cavalos. Mas, claro que nesses lugares também tem gente muito boa e não estou de modo nenhum generalizando criticas.
A segunda coisa que acho importante é que os cavaleiros em geral precisam se aperfeiçoar, conhecer mais equitação e melhorar dois pontos centrais no trabalho montado: a qualidade do seu assento (da sua sentada no cavalo), e o equilíbrio. Um excelente exercício para isso é montar a pelo, dentro de um piquete cercado, de preferencia um redondel, e isso pode começar a ser feito em um cavalo de confiança, dócil, um cavalo professor. Depois passa-se a fazer isso como o cavalo que em tese está oferecendo problemas.
Aqui outro parênteses: NÃO EXISTE CAVALO PROBLEMA, EXISTEM APENAS CAVALEIRO/AMAZONA – PROBLEMA.
Ocorre que muitas pessoas querem compensar a sua dificuldade em equitar bem, em saber sentar, com equilíbrio e foco no horizonte, querem compensar essa falta com apoio mais forte na boca, com embocaduras cada vez mais agressivas.
Portanto, a todos que me mandaram perguntas, a primeira coisa que quero dizer é que temos de melhorar a qualidade do trabalho montado, antes de agredir a boca.
Quando se começa a trabalhar com um cavalo é preciso ter um plano, saber onde estamos, nós e o cavalo, em que estagio de desenvolvimento no trabalho e saber onde queremos chegar. Sem um plano, a chance de erros é grande. Não dá para fazer as coisas na base apenas da tentativa e erro, e deve-se também estar aberto o tempo todo a ler o cavalo, a sentir o cavalo, a olhar seu equilíbrio, distribuição do peso, capacidade de engajar e reunir e capacidade de flexibilizar primeiro o pescoço, nuca e cabeça, depois os traseiros, e estes exercícios de arena, fazem bem tanto ao cavalo quanto ao cavaleiro, antes de se querer chegar no fim, na troca de uma embocadura magica e ir pra rua.
Isso mostra a grande responsabilidade de ser dono de um cavalo. Não é um brinquedo novo, uma moto que você abastece e faz piruetas.
Seu cavalo novo necessita treinar; sua filha necessita lições. Eu poderia (mas não vou ) sugerir um sem número de embocaduras, mostrar seus desenhos e ação e resultados que fariam um trabalho grande de rasgar a boca do seu cavalo, mas “posso infligir dor neles” e isso não é a coisa magica que “dará ao cavaleiro o controle.”
A linha inferior é que não há nenhuma bocado que dará a Anna o controle que necessita. As embocaduras podem ferir cavalos, mas não param cavalos. Os embocaduras não são freios; as embocaduras não funcionam como passe de magica.
O próprio significado de freio, ou bridão não quer dizer “ferramenta de parar cavalos”. são significados entendidos pelo cavalo no exato instante em que se alivia a pressão e não quando se faz a pressão. Sinais que o cavaleiro dê claramente, sinais de quieto ao cavalo, vire à esquerda, ou vire à direita.
Um exemplo. Você está guiando seu carro e o semáforo vermelho surge à sua frente. Aquela luz vermelha não é capaz de parar seu carro, nem tem o poder de acionar os freios do automóvel de longe. A luz vermelha é apenas um SINAL. Controlam suas ações porque você compreende o que aqueles sinais médios significam e você têm dirigido há algum tempo e se acostumou a agir de um determinado modo quando vê ou ouve um sinal. Você simplesmente sabe o que tem de fazer.
Se um louco qualquer, mudar esses sinais, trocar a cor da luz vermelha de posição, mudar a cor, mudar o som de uma cancela de trem, você ficará desorientada na hora sem saber o que fazer e poderá se acidentar. Isso faz algum sentido a vocês, amigos e amigas sobre o que é uma embocadura?
Não é diferente para cavaleiros e cavalos – necessitam uma instrução básica boa e umas habilidades e de uma comunicação CLARA antes que possam ser levados para externas ou longos passeios.
Nós – e pelos “nós” quero dizer, eu, vocês que escreveram e todos que estão lendo não queremos que aconteça nada de ruim para cavalo e cavaleiro. Você está procurando uma solução rápida e simplesmente não há. Os cavalos não responderam corretamente com embocaduras mais pesadas ou que os agridam a boca. Apenas ficarão confusos, sem vontade de trabalhar e quando ele ver você chegar com a cabeçada vai querer sempre subir mais com a cabeça para aquilo não ser colocado. Aqui domamos cavalos que são encilhados soltos, sem sair do nosso lado e que abaixam a cabeça para colocar a embocadura, ficando acomodados debaixo do meu braço para vestir a cabeçada.
Cavalos jovens responderão bem através das embocaduras porque não têm nenhuma idéia de aquilo poderia causar dor em sua boca, e muito menos iriam associar a dor ou o freio com seu pedido de parada.
Os cavalos tem direito de escapar da dor, do medo, e da confusão se afastando – sua defesa preliminar está até mesmo na velocidade, já que na natureza são animais de fuga. Quando um cavaleiro usa uma embocadura mais severa e/ou dá arrancos nas rédeas, a única mensagem que o cavalo processa é um “EI, VOCE ESTÁ ME FERINDO” Aquele não é um sinal de parada, e de fato pode soar como ameaça e provocar uma fuga em disparada.
Se você não está no momento com recursos para encontrar a ajuda de algum bom instrutor ou horseman pode acessar a internet, ver vídeos, pesquisar, ler bons trabalhos e num piquete cercado trabalhar o cavalo até que ambos criem confiança, recorrendo como agora a consultas técnicas.
Por fim, dizer que o cavalo era magro por isso mais manejável e que depois de seis meses de baia ele ficou saudável, eu posso discordar porque equivale a uma pessoa ficar seis meses em repouso no quarto. Ele está sim cheio de gás e energia e deve gastá-la com exercícios programados de chão, depois montado, pelo menos três vezes por semana no começo, depois duas, com método com uma escala de tarefas progressivas a cumprir, e ele em regime de baia sem trabalho organizado e fechado, fica sim redomão, ocioso, preguiçoso, sem condicionamento, com algumas dores musculares por contração excessiva de seus músculos, e sem querer obedecer a um pedido de trabalho montado.
É muito provável que você possa ver e perceber gordura adicional, mas terá havido as perdas invisíveis que são mais importantes distante: Os músculos serão menores e mais fracos, e os OSSOS serão mais finos e mais fracos também. Eu repito: Este cavalo não está em boa forma.
Se a menina Anna não puder controlar seu cavalo no piquete ou pasto em casa onde tudo é quieto e familiar, não tem exatamente NENHUMA possibilidade de controlar o cavalo na rua ou numa trilha ou pista com imagens, sons e estimulação novos em toda parte.
Deixar sua filha fazer exame deste cavalo para fora para passeios longos longe de casa e direito agora, mesmo para passeios curtos em seu arena ou pasto estará colocando-a em risco. Está pondo também o cavalo em risco, e – pense sobre isto – está pondo também em risco toda a pessoa ou pessoas que montam com sua filha, e qualquer pessoa ou pessoas
As embocaduras são para uma comunicação, não para o controle.
Entendo a pressa da sua menina em aproveitar o cavalo, mas diga a ela: ESPERA. Há formas divertidas de usar um cavalo no trabalho de base, exercícios de arena, aprendizados juntos, de modo regular, ela estará construindo seu cavalo dia a dia, será bom para ela e seu cavalo.
Pode não ser tão livre como sair em longas cavalgadas, com os amigos, mas isso será uma conquista e trocar de embocadura, depois que estragar totalmente a boca deste cavalo, trocar de cavalo por um pronto, se não for feito o que sugerimos o outro trará problemas depois de um tempo, sei que esta não é a resposta que você gostaria, mas é verdadeiramente a única resposta eu posso dar.
Cavalgando apenas uma vez por semana, posso fazer progressos?
“Na hípica onde treino na cidade eu tenho instrutor que é muito conceituado e numa clinica intensiva de uma semana nos feriados e ele enfatizou demais o uso do tempo para aquecer o cavalo, cerca de 40 minutos cada aula são dedicados ao aquecimento.
Como estou investindo tenho necessidades maiores, quero progredir mais rápido e trabalhar mais exercícios e pensava que tendo meu próprio cavalo poderia fazer isso. Mas sei que não vai acontecer assim, e estou querendo saber se há alguma chance do que eu posso fazer montando uma vez por semana e só quando eu tiver uma aula, não obtenho qualquer chances na prática entre aulas. Vale mesmo a pena fazer se eu tenho esse limite e tem mesmo que fazer tanto aquecimento desta forma? Eu não quero parar a equitação e desistir de minha esperança de progredir como um bom cavaleiro de provas, mas quando eu continuo ouvindo as pessoas me dizerem: – você não pode fazer progressos desta forma-, gostaria de saber se apenas estou perdendo meu dinheiro e brincando ou eu posso evoluir? Por favor, eu preciso da sua opinião. Ontem à noite uma menina nova na Hipica (ela tem seu próprio cavalo, sorte dela) me disse que não há nenhuma maneira de eu manter meu nível de equitação fazendo o que eu estou fazendo e que eu só vou para trás assim, e que não vale a pena, obrigado por seu tempo lendo isso”, concluiu ele, e eu aqui dei uma boa resumida na carta dele.
Bom Augusto, eu vou dizer que ela e os outros estão errados, em termos. Você se sente melhor agora? Só você pode decidir se qualquer coisa que você faz “vale a pena fazer,” e nesse nosso meio, do Cavalo, tem muito mito, muita regrinha, mas também muita vaidade e gente que apenas usa cavalo, mas não se dedica a conhecê-los e nem mesmo gostam de verdade do cavalo.
Seus resultados dependem do quanto você busca e se dedica a conhecer mais profundamente a natureza do cavalo, saber como eles aprendem (temos um texto sobre isso já publicado) e de que como vc chega no cavalo, fazendo a cada sessão um “passo a passo” relembrando ele de onde vocês pararam na semana anterior, e eu sou muito dedicado ao trabalho de chão, que ao mesmo tempo que relembra, também aquece.
Sobre isso, o cavalo é um atleta e sua fisiologia neuro muscular parecida com a nossa, no sentido de que sem aquecimento pode ocorrer uma distensão, uma torção, mas há um limite, o do bom senso e não posso numa aula de 60 minutos, gastar 40 min., só com o aquecimento.
Os resultados também dependem do que você está colocando em atividade e como está fazendo. Você certamente pode fazer progresso mesmo montando apenas na aula e uma vez por semana, procure achar um livro chamado Cem exercícios de Arena e tendo apenas uma lição cada semana, vc pode ir adiante, por sua conta, mostrando interesse e se voluntariando na Escola a ajudar o instrutor com outros trabalhos montados e exercicios em cavalos de lá.
Eu sei que é difícil quando você está olhando ao seu redor e ver tantos cavaleiros afortunados que possuem cavalos e podem andar sempre que quiserem, mas há algumas coisas boas na sua situação. Saiba que nem sempre quanto mais é melhor, porque existe uma coisa que é a qualidade da abordagem no trabalho, uma hora, ou duas bem fundamentadas e repetidas com a valorização do acerto no exato instante da resposta do cavalo, podem valer mais do que muito tempo sem qualidade e apuro.
Aqui estão três exemplos de fundamentos que você pode tirar proveito e bom resultado:
vantagem 1: nenhum mau hábito. Não ser capaz de andar entre as aulas não significa que você não pode praticar -o que é verdade. Isso também significa que você não pode fazer coisas erradas demais e acabar reforçando negativamente hábitos ruins, como cansamos de ver no ambiente hípico, e acabar consolidando respostas ruins. Equitação entre aulas é vantajosa apenas se você for capaz de praticar todas suas habilidades corretamente; caso contrário – e isto é verdadeiro para muitos cavaleiros, voce piora por falta de acompanhamento e de atenção a detalhes que seu instrutor é quem passa- é perfeitamente possível dar dois passos a frente na sua aula e, em seguida, passar o resto da semana e retomar um ou dois ou mesmo três etapas de volta, praticando incorretamente. Pense nisso: O corpo e a mente tem de estar em constante coerência lembrando seu cavalo sempre do que é correto. “Consistentemente correta” para qualquer cavaleiro iniciante ou intermediário geralmente significa “consistentemente corrigido” – em outras palavras, você vai fazer mais e mais significativos progressos por equitação sob supervisão, sendo instruído se estiver constantemente em busca de seguir as orientações do instrutor e compreender suas explicações.
Em muitos outros países onde a propriedade de cavalo não é tão comum como é aqui, ótimos cavaleiros aprenderam a montar – e andar muito bem na verdade – tendo aulas semanais com bons instrutores, e o nosso grandioso Rodrigo Pessoa fez sua carreira pilotando cavalos de outros proprietários, sem falar na belissima história de Clementino, no dressage. Ao longo dos anos, estes cavaleiros e amazonas, se eles cumprem com o programa, fazem progressos efetivos.
Eles normalmente vão começar como os principiantes que nunca tem montado em tudo e gradualmente se tornam pilotos bons, sólidos, intermediários e avançados, ninguém chega pronto e começa do fim.
Vantagem 2: Acessíveis oportunidades educacionais. Porque você não possui (e não tem que pagar para manter) um cavalo na hipica, é provável que fique com voce uma quantidade muito maior de sua renda disponível para investir em si mesmo, em novas clinicas especificas e no seu aperfeiçoamento. Você pode comprar livros e ler e estudá-los, você pode comprar ou alugar DVDs e estudá-los (isto dá-lhe a oportunidade de assistir a equitação em um nível você não poderá observar na ´pista da sua hipica, você pode frequentar clínicas como ouvinte e talvez até mesmo andar nesses cavalos mais experientes, eles também verdadeiros professores, porque são cavalos que sabem o que voce sabe e sabem o que voce não sabe, e se seu instrutor está disposto a permitir que você use um dos seus cavalos, e mais importante, você pode continuar a ter essas aulas semanais e possivelmente até mesmo ter aulas a mais se o seu orçamento permitir, ´já que não está pagando para manter um cavalo.
Se você tivesse um cavalo de sua preferência, você poderia pagar em qualquer lugar de R$ 650 a R$950 ou mais por mês (dependendo do estábulo e sua localização e amenidades) para manter esse cavalo, e que seria seu custo mensal básico, isso sem nenhuma emergência veterinária, contas extras, etc! Tirar o máximo partido do seu status de não possuir a cavalo e investir parte do dinheiro não gasto com custeio em si mesmo e em sua educação. Cavalos podem tornar-se doentes ou se contundir ou mesmo morrer. O único investimento que não pode ser tirado de você é a sua educação, aquilo que você colocar em seu corpo e mente.
Vantagem 3: A oportunidade de criar oportunidades para si mesmo, como você vai descobrir. Estar constantemente atentos em suas aulas, fazer e manter-se fisicamente apto como você possivelmente pode e encontrar algumas formas de ajudar seu instrutor (há sempre coisas que você pode fazer para ajudar um instrutor com cavalos de escola). Converse com seu instrutor sobre sua relação com o cavalo e seus planos. Espero que você vai encontrar algumas aulas extras – possivelmente sem ter que pagar por eles – dentro e fora do cavalo. Instrutores bons tendem a ser muito encorajadores para alunos verdadeiramente dedicados e muitas vezes têm cavalos que precisam ser exercitados ou ter outros alunos com cavalos que precisem ser trabalhados e ai o instrutor premia o seu esforço e dedicação. Nós não podemos resistir a oportunidades para ensinar, e nós gostamos de fazer aulas com alunos e cavaleiros que amam o Cavalo e se dedicam sinceramente.
Dessa forma, você pode obter todos os benefícios da “aula prática” sem qualquer risco de desenvolver maus hábitos, como mencionado acima. Cavalos de escola tendem a exigir um warm-up e uma parada, um período após o de trabalho. Se você é um cavaleiro consciente e focado, você estará usando todas as partes da sessão de equitação para melhorar a si mesmo e o cavalo que você está montando.
Quem gosta do Cavalo, pode ficar anos sem montar, não apenas uma semana, e quando retomam, rapidamente superam os que estão naquela atividade como uma ocupação da rotina juvenil, sem comprometimento e interesse. Aqueles que mantiveram sua motivação e agiram em conformidade foram inteiramente bem sucedidos em manter e melhorar suas habilidades durante seu tempo fora da sela, mesmo quando o “tempo” em questão durou anos.
E essas pessoas conseguiram continuar a melhorar. Quando eles retornaram para a equitação eles não só não tinham perdido qualquer terreno, mas eles progrediram muito rapidamente.
Não permita que qualquer pessoa possa te convencer de que você estará perdendo suas habilidades se você não cavalgar diariamente. Isso simplesmente não é verdade.
Os potros, esses seres únicos e especiais
A gestação da égua é quase exatamente de 330 dias, variando entre uma semana antes e dez a doze dias depois. Isto obriga o criador a um planejamento responsável para preparar a chegada dos novos “membros da família”. Quando for confirmada a prenhes, a partir da data anotada da cobrição. Um dos fatores que interferem nessa variação de tempo é justamente a qualidade da alimentação da mãe, se mal nutrida abrevia o parto e as bem nutridas demais, o retardam um pouco além dos onze meses.
Quando a égua começa a dar sinais físicos como o úbere se enche, a veia mamária que corre através da barriga se intumesce, ela se agita, andando nos piquetes de um lado a outro, sem no entanto perder a serenidade, a presença de uma substância como cera nas mamas, fique atente porque é provável que na mudança de lua seguinte tenha mais alguém no campo ou na baia-maternidade, se ela for confinada.
O potro pode nascer a qualquer hora dia ou da noite, mas a maioria nasce perto da alvorada. Tudo isso é importante, porque o criador poderá se programar para assistir o parto e intervir se necessário. Lembre-se que é vital que o potro mame na primeira hora de vida.
Essa mamada garante condições essenciais ao seu desenvolvimento como o inicio da formação da flora bacteriana que ajudará o animal a digerir celulose em toda vida e a quantidade de energia necessária para se colocar de pé e sair ao lado da mãe. Quando viviam em liberdade pelos campos, sendo predados, essa condição de mover-se logo após o nascimento, muitas vezes garantia sua sobrevivência diante de ataques de predadores.
As éguas são muito firmes em aceitar a aproximação apenas de suas crias, afastando duramente filhotes estranhos. Por isso, na ocorrência de problemas graves com uma das matrizes, sempre é bom ter um bom colostro congelado para ser aquecido a 36 graus e oferecido numa emergência.
A égua é quem informa ao potro tudo que ele precisa saber sobre o seu habitat, e nesta primeira hora pós parto, ela faz isso, estimulando e lambendo, higienizando a cria e auxiliando o potro a levantar. Se tudo correr bem, me duas horas ele já enxerga, cheira e escuta bem.
Nessa hora entramos com o “Imprinting” e podemos passar a fazer parte do seu mundo
Como você sabe, o imprintig consiste em “gravar na mente” do potro, no momento em que seus canais estão abertos para um intenso aprendizado, que nossa presença pode ser boa e para sempre merecer que ele nos tenha em alta conta.
O imprinting após a égua lamber a cria, consiste em abraçar o potro, massageá-lo em todos os pontos sensíveis, desde as orelhas, crineira, cernelha, garupa, pernas, boletos e patas, tocando com energia e um firme afeto, durante dez a quinze minutos, para em seguida soprar em suas narinas (ele guardará seu cheiro para sempre), não permitindo que ele se sinta ameaçado ou fuja de suas mãos porque senão gravaremos o contrário do que queremos e em seguida encaminhamos para a necessária primeira mamada.
Se possível, essa sessão deve ser repetida dez minutos por dia em toda a primeira semana, para que ele associe sua chegada a uma sensação muito boa. Após esse período devemos intervir pouco, deixando-o aos cuidados da mãe que nos próximos seis meses se encarregará de educa-lo e protege-lo.
Após os primeiros seis meses, ele deve aprender a ser cabresteado, e ele irá lembrar-se do seu cheiro e das boas impressões no nascimento. Para isso, cabresteando a mãe e o potro, os dois são conduzidos juntos com guias separadas até que em um ou dois dias ele comece a seguir seu tratador/treinador/iniciador .
Esses exercícios diários à guia, devem ser breves, entre 15 a 20 minutos, diariamente durante uma semana a quinze dias e posteriormente ele deve ser encaminhado aos piquetes – potreiros para desenvolver uma infância natural com outros jovens – quando ele de fato completará seu aprendizado sobre o que é ser um cavalo.
Nessa fase, suas brincadeiras entre potros não terá componentes sexuais, o que mudará a partir de 2 anos e meio a três anos. Nessa fase entramos novamente em cena, dando inicio ao período intensivo de trabalho diário sempre começando com pouco tempo por dia até chegar aos 30 minutosxdia.
Como o cavalo aprende
Os instrutores bem sucedidos sabem como treinar cavalos, partindo do ponto de que cada Cavalo é único, com histórias irrepetíveis e com tempo de resposta particular.
Adquirem este conhecimento pela experimentação e pelo erro, ligados a uma boa percepção, ou tendo bom tempo de treinamento e capacidade de observar.
Possivelmente muitos não sabem a sistematica da aprendizagem equina, mas tem uma aproximação intuitiva. Sabendo a teoria sobre como os cavalos aprendem assegura-se de que o sistema pode ser aplicado a todas as situações do treinamento e isso dá a aqueles que não têm sentido intuitivo de como treinar o cavalo, uma oportunidade de maximizar o seu desenvolvimento.
Além disto, verte uma luz útil contra maus hábitos de instrução que não respeitam o comportamento e a natureza do cavalo.
Na psicologia comportamental, aprendizagem é definida como uma mudança mais ou menos permanente no comportamento seguida de reforço. Reforço, quer dizer algo semelhante a uma pena ou recompensa, depende se positivo ou negativo e no caso da linguagem do Cavalo, o que reforça nele que ele fez ou está começando a fazer a escolha certa é justamente o alívio da pressão.
O cérebro dos equídeos é maravilhoso e evoluiu para aprender os diferentes tipos de informações de diferentes maneiras. Como já foi descrito anteriormente, o cavalo tem uma fantástica memória ‘fotográfica’ do mundo físico e também das suas respostas para ele, que se manifestam como hábitos intensos, ou respostas automáticas, baseadas em seu instinto de preservação.
Esta memória é mantida por meio de acesso rápido para o armazenamento de longo prazo e está desobstruída pelos efeitos de raciocínio e imaginação, mantendo reações precisas e sempre prontas. É nesse ponto que ele ajuda o Cavaleiro a tomar decisões igualmente claras e precisas no instante exato que devem ser tomadas.
Uma lição do Grande Mestre na iniciação do Cavalo
Ray Hunt foi um dos grandes mestres do verdadeiro Horsemanship. E deixou um legado ao longo das décadas que se dedicou ao cavalo que deve ser citado aqui. Ray Hunt, iniciou mais de 10.000 potros e cavalos ao longo de 30 anos. Deu Clínicas Educacionais nos ESTADOS UNIDOS, no Canadá, na Austrália e na Europa. Irradiou técnicas e a filosofia que se aplica a todas as modalidades da equitação.
E graças ao seu trabalho, apenas em alguns dias, os potros começam do melhor modo possível a um relacionamento por toda a vida com cavaleiros. Como Ray Hunt mencionou freqüentemente às pessoas que o procuravam – “eu estou aqui para o cavalo – para ajudar-lhe a garantir o melhor acordo possível”.
O Cavalo iniciado por Ray Hunt será o cavalo que você sempre quis ter –Sempre foi um Homem generoso na irradiação do seu conhecimento, porque sabia que, se as pessoas aprendessem com ele, essa era uma contribuição real que ele estaria dando para melhorar a vida do maior número de cavalos em toda a terra! Um ser humano único, um mestre para todos que amam o Cavalo.
No Rancho São Miguel os potros que iniciamos aceitam ser encilhados soltos ao seu lado, gostam da companhia do Homem, espelhado em seu treinador e são animais absolutamente confiáveis para sempre.
Um Tributo de respeito a um grande Cavalo
Morreu dia 22 de maio depois de mais de 15 horas de luta pela vida, o meu cavalo querido, parceiro de trabalho, um professor, há mais de 12 anos ao meu lado. Meu querido GIM LHL, Mangalarga, alazão, filho de Huno do Geresim, um cavalo de carater franco, dono de uma energia intensa, morreu aos 16 anos de vida. Cavalgamos a ultima vez na véspera e passei com ele seu ultimo dia lutando desde as 7h00 – um baita parceiro, baita cavalo e amigo.
A história dessa aliança entre cavalo e cavaleiro começou despretensiosamente na serra da Cantareira, em um domingo pela manhã de 1998. Sai para comprar uns produtos naturais e uns travesseiros de plantas medicinais e na volta passei pela Estabulagem Santa Rita que o amigo Caio Cunha tocava na Serra.
Chegando lá ele me recebeu e me apresentei falando que estava morando por lá há pouco mais de um ano e já tinha alugado umas éguas dele para passeios, que tinha gostado, falamos dos Mangalarga, e ele sorrindo todo animado exclamou, – cara tenho o cavalo ideal para você e veio com um potranco de 4 anos, inteiro, extremamente agitado, um cavalo quente, com pouco trabalho e muito gás.
Montei para experimentar e o comprei parcelado. Comprei sela, manta usada, cabeçada e a partir daquele dia a minha história com os cavalos entrou em um capitulo novo, que abriu a porta para que uma antiga opção de vida começasse a ser construída.
Não é exagero de linguagem dizer que aquele Cavalo começava a mudar minha vida.
Cada saída com ele da estabulagem era um espetáculo à parte. Cheio de bardas, era colocar o pé no estribo e ele começava a subir. – Montava e ele empinando saia em duas patas e ” eu ia lendo os numeros dos transformadores”, passada a explosão, abaixava e só se alterava ao ver, sentir o cheiro ou pressentir a presença de éguas no cio em qualquer lugar há tres quilometros de distância.
Caio, sem duvida me passava muitas dicas, e eu usava o cavalo 3a, 4a, 5a, sábado e domingo.
Foi nesse momento que ao me preparar para uma saida com GIM, que conheci o Luciano Travia, que acabara de comprar na mesma estabulagem, um cavalo Mangalarga, inteiro, o IGLU e desde que saimos juntos na primeira cavalgada continuamos amigos irmanados pelo Cavalo até hoje,
Estressado ou cheio de pressões de uma vida ainda urbana e com milhares de questões pessoais a serem resolvidas, chegava à noite na estabulagem e saia sozinho com ele, em estradas, trilhas na serra, aprendendo a ler o cavalo, a ter que confiar no animal e a chegar nele baixando a adrenalina para ter algum resultado.
Logo vieram as primeiras éguas mangalarga, potras, e tive de sair da estabulagem para uma propriedade arrendada e dar um contorno mais profissional ao convivio com o cavalo que logo passou a ser diario porque mudei e fui morar no então recém criado Rancho São Miguel.
Trabalhar com o GIM me obrigou a ler tudo sobre comportamento do cavalo, desde os romanticos e ingenuos como “o encantador de cavalos”, o então recém lançado “O Homem que ouve cavalos” do Monty ainda em inglês, até livros mais profissionais como o fantástico ” There are no problem horses, only problem riders”, ou seja, não existem cavalos problema, apenas cavaleiros problema, de Mary Twelveponies”,
Passei para os livros dos cientificos, como a Psicologia do cavalo I e II, livros franceses, tudo para entender e me integrar ao que GIM, o quente, queria me comunicar.
Fui ao I Encontro Internacional de Horsemanship, conheci o Borba, que logo em seguida veio ministrar um curso em casa.
Quando trabalhei com GIM em liberdade no redondel, fiz a conjunção e montei nele a pelo assim que ele aceitou minha liderança, foi como aprender um novo idioma, descobri um mundo novo e pouco a pouco fui me tornando um cara melhor, mais centrado, e devo isso ao GIM.
Cavalgadas de dia todo, cavalgadas com 30, 40 pessoas, saidas de dois dias, e quando mais GIM era equitado e nos comunicavamos em um novo patamar, melhor ele respondia e oferecia novas possibilidades de aprendizado mutuo.
Aprendemos a recuar, a espinar, a esbarrar, os exercicios basicos de equitação, arco-reverso, a engajar e desengajar e GIM era um convite permanente a novos passos, passando a montá-lo a pelo, e depois sem embocadura, ainda no piquete.
Fazia com ele mais do que se pedia em monotonas provas da raça, na época não existiam as funcionais, mas GIM aprendeu a ladear, abria qualquer porteira, e então quando ele viu pela primeira vez, o gado solto em campo? Ficou animado demais e pouco a pouco adquiriu o costume de campear.
Nesse ocasião o Rancho São Miguel tinha crescido, tratavamos de mais de 30 cavalos de pensão, para em seguida eu decidir sair do Mangalarga e começar no Marchador.
Troquei as éguas e potros paulistas por éguas MM, mas conservei GIM como meu cavalo de uso e trabalho.
Por essa decisão, tive de optar pela castração dele, já que não iria conservar um garanhão Mangalarga em um grupo de éguas MM.
Gim conservou seu espirito franco, sua energia e sempre ao chegar no rancho ele relinchava, como que me chamando, ou quando Sueli, minha esposa, chegava na baia e chamava “GIM o mais lindo de todos” ele parecia entender e ficava faceiro agitando a cauda feliz. O ritual das saidas quando às 6h30, 7h00 eu o tirava da baia, ele comunicava uma grande alegria e saia em sua marcha troteada extremamente confortável.
Os anos passaram, chegamos a mais de 22 cavalos em casa, os cursos se sucedem, passeios, e sempre me referi aos demais cavalos e éguas como : – “essas são as éguas de cria, aqueles os potros de ano, de sobreano, essa a égua nova que chegou essa semana”, mas apenas GIM, “esse é meu Cavalo”, como se os demais não fossem nossos também.
GIM nunca deu sinais de que o tempo passava, e raras as vezes me dei conta de que ele passou dos 13, dos 14, 15 e 16 anos.
Sempre trabalhava com ritmo, regularidade, encaixando a cabeça e alongado a passada. Todos cavalos da região, inclusive campeões de marcha, premiados, etc, só o acompanhavam tendo de galopar, sua marcha chegava facil a 15km por hora, ele voava nas estradas e trilhas, um cavalo com encaixe perfeito de ritmo com seu cavaleiro habitual.
Franqueza de atitudes, seriedade, comprometimento, eram qualidades visiveis e marcantes dele.
Até que chegou nossa ultima cavalgada, de seis quilometros apenas, mas como saber que seria a ultima?
Na volta ele deu sinais de cansaço, sem que tivesse forçado o ritmo, ao contrario cavalgamos a passo a maior parte do tempo.
Chegada, banho, ducha nas pernas, feno fresco e ele comeu bem para amanhecer no dia seguinte com uma estupida torção aguda de alça intestinal que ocorreu a noite.
GIM, como diziam os Apaches, agora cavalga nas pradarias do Grande Espirito.
Em respeito a ele, em sua luta pela vida, todos os demais cavalos permaneceram silenciosos, os caes não latiram o dia todos, e ao final da jornada ele descansou sem sofrer, sem se debater. toda a terapia de apoio, soro, analgesicos, permitiram que ele tivesse uma passagem em paz, triste mas serena. Nos despedimos e ele olhava intensamente para mim enquanto esteve deitado com a cabeça no meu colo por mais de uma hora.
Adeus GIM.