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Trabalhando e criando cavalos há décadas, percebemos que manejo de equinos confinados, treinamento, nutrição, vacinação e também a reprodução são questões constantes nas consultas que recebemos. Este artigo é uma importante contribuição agora que está iniciando mais uma temporada de monta ou de fertilização de éguas.

QUANDO INICIAR O ANIMAL NA VIDA REPRODUTIVA

Os potros entram na puberdade aos 18 meses de idade, mas só devem ser iniciados na reprodução após os 30 meses de vida. As fêmeas devem ser cobertas, pela primeira vez, a partir dos 3 anos de idade, para que o primeiro parto ocorra entre os 4 anos e 4 anos e meio, quando a égua está madura e tem seu completo desenvolvimento. O pico de maturidade e fertilidade das fêmeas ocorre entre os 4 e 15 anos, e os machos podem estar férteis até os 24 anos em média.
Geralmente as éguas só aceitam serem cobertas durante o cio, período que estão preparadas para serem fertilizadas. O cio ocorre, em média, a cada 21 dias, dura de 7 a 9 dias, e a ovulação* ocorre mais ou menos 2 a 3 dias antes do término do cio.
(*)ovulação é o período fértil propriamente dito, quando o óvulo está pronto para ser fecundado, por isso quando ela começa a aceitar o cavalo, a monta deve ser repetida três vezes com intervalos de uma dois dias entre uma cobertura e outra.
A égua dá sinais de cio característicos, ela fica mais agitada, procura o macho, há aumento no número de micções, a vulva fica mais congestionada e faz um movimento de abrir e fechar, a cauda fica levemente levantada, diminui o apetite. A urina apresenta um odor característico que atrai o macho.
Os machos reprodutores por sua vez, ficam agitados encurvam o pescoço, ora inalam o ar profundamente e levantam o pescoço e a cabeça expondo os dentes fechados e dobrando o lábio superior sobre as narinas, para apreender e reter o cheiro do feronômio exalado pelas éguas no cio, esse comportamento é denominado reflexo de Fleichmann.

ÉPOCA DO ANO

Primavera e Verão são as épocas escolhidas para a “Estação de Monta”. Coincide com o final da temporada de exposições e provas, além das melhores condições de clima e pastagem. Na primavera também ocorre o aumento da luminosidade, aumentando também a produção dos hormônios responsáveis pela reprodução. As éguas tem fotossensibilidade e ovulam quando os dias tem mais luminosidade (dias mais longos) na primavera e verão. Como a gestação de equinos dura onze meses ou 330 dias, os potros sempre nascerão em épocas de pastos mais ricos e volumosos, esse é um cuidado da Natureza para evitar nascimentos no inverno, quando os pastos estão mais secos ou rareados.
Essa concentração de nascimentos em uma determinada época do ano pode ser bem complicada. Então o ideal é “diluir” as coberturas, para que os nascimentos ocorram em diferentes semanas, facilitando o manejo, cuidados com o parto, curativos no umbigo, alimentação.

COBERTURA

Aos primeiros sinais de cio, a égua deve começar a ser rufiada, para que se detecte o dia que ela começa a “aceitar” o macho. Quando ela começar a ficar receptiva, faça a cobertura/inseminação a cada 48 horas.
Esse intervalo é suficiente, já que os espermatozóides sobrevivem por esse tempo dentro do trato reprodutivo da fêmea. Se ela ovular durante esse período, os espermatozóides estarão viáveis.
Quanto aos garanhões, evite mudanças no seu manejo. Procure sempre deixar o trato dele para o mesmo cavalariço, e esse mesmo deve levá-lo para a cobertura. Faça as coberturas nas horas mais frescas do dia, como as primeiras horas da manhã e o final de tarde.
Cada propriedade tem seu protocolo de reprodução, mas nos locais de muita demanda, o macho pode ser usado 2 vezes ao dia, até 5 a 6 vezes por semana, devendo ter pelo menos 1 dia de folga. Em locais de menor demanda, pode ser usado 3 vezes por semana, em dias alternados.

ESCOLHENDO AS MATRIZES


Teoricamente, os pais contribuem com 50% dos genes da prole cada um. Mas alguns consideram que a fêmea colabora com uma parte maior, já que esta exerce influência física e comportamental no potro, incluindo gestação, nascimento e lactação.
Por essa razão, a escolha da matriz deve ser muito cuidadosa.
Já está comprovado que mesmo éguas usadas como barriga de aluguel para transferência de embriões tem participação no desenvolvimento do produto e não mais deve ser usada qualquer fêmea, senão aquelas com boa saúde e alguma carga genética também.
A fêmea deve estar em boa condição corporal (nem magra, nem gorda), vermifugada e vacinada. O calendário de vacinação deve ser combinado com seu veterinário, mas em geral, inclui raiva, tétano, garrotilho, aborto viral, leptospirose e encefalomielite.
É muito importante analisar a maior quantidade de produtos de uma matriz, para ter certeza do melhor cruzamento. Boas matrizes têm partos sem problemas, filhos premiados e também produzem bons garanhões.

ESCOLHENDO O GARANHÃO

O animal deve, antes de tudo, registrado na Associação de sua raça, assim como a fêmea. Avalie também o maior número de filhos possível e seu pedigree. Atenção aos padrões físicos da raça.
O macho também deve ser vacinado e vermifugado, além de ser importante o laudo de um veterinário, atestando sua perfeita condição de saúde e exame andrológico (boa qualidade de espermatozóides e avaliação do trato reprodutivo).
Além de todas essas avaliações individuais dos pais, é muito importante estudar os melhores cruzamentos. Nem sempre uma boa égua e um bom garanhão têm características compatíveis. E nunca esqueça que um bom cruzamento não é nada, se não oferecer boa criação, treinamento e alimentação a esse animal, já que 50% das suas características provêm da genética e os outros 50% correspondem ao meio ambiente.
Atenção ainda ao estudo da sua genealogia, notadamente quem é a mãe do Garanhão, uma vez que os cromossos “X” que ele passa vem da sua linha baixa.

PARTE II

MÉTODOS DE COBERTURA

Há diferentes formas de reprodução nos cavalos. Discuta com seu veterinário e com outros criadores sobre qual método é mais viável para você.
Aqui vamos discutir de uma forma bem rápida algumas das vantagens e desvantagens de cada método.

COBERTURA NATURAL/ MONTA NATURAL

Vantagens: ainda é o método de maior fertilidade das éguas, podendo atingir até 70%, quando houver um bom acompanhamento.
Desvantagens: custos e riscos no transporte da égua, principalmente quando ela está com o potro ao pé. Quando a viagem é longa, a égua ainda tem que ficar “hospedada” no Haras em que foi coberta, aumentando ainda mais os custos. Em uma viagem longa, o risco de reabsorção fetal é muito grande até os 50 dias de gestação.

INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL (IA)

Consiste na coleta artificial do sêmen, que pode ser utilizado “in natura” ou diluído. Após a coleta, há deposição desse sêmen no trato genital feminino.
Vantagens: diminui o risco de doenças sexualmente transmissíveis; controle de qualidade do sêmen e da égua; aumento no número de éguas enxertadas; diminui risco de acidentes durante a monta; permite que garanhões com algum problema físico realizem coberturas.
Desvantagens: altos custos; requer total controle do cio e ovulação, para que se aumente a taxa de prenhez com uma só dose.

A IA pode ser feita com diferentes formas de conservação do sêmen:

– A Fresco: o sêmen é coletado por um veterinário através de uma “vagina artificial” e preparado. Se diluído, pode inseminar 3 a 4 éguas. Pode ser conservado por até 2 horas em temperatura ambiente, permitindo que se use um garanhão que fique em uma propriedade próxima. Claro que com o passar das horas a qualidade dos espermatozóides diminui.

– Resfriado: o sêmen é processado e diluído em uma substância contendo açúcares, lipídeos e antibióticos, e colocado em um recipiente resfriado. Deve ser conservado à temperatura de 4ºC e tem validade de 48 horas. A grande vantagem é que pode ser usado quando o garanhão está em uma propriedade longe da fêmea. Mas requer habilidade para manipulação e altos custos, além do transporte. A taxa de fertilização é de 40 a 50%, em média.

-Congelado: o sêmen é preparado e congelado a -196ºC, em tanques de nitrogênio líquido. A taxa de fertilidade não chega a 40%. Geralmente a dose desse sêmen é paga “a todo risco”, ou seja, a fêmea estando prenhe ou não. A vantagem é usar sêmen de animais importados, ou mesmo dos que já morreram.
O controle da ovulação tem que ser ainda mais rigoroso nesse método, além dos cuidados com a congelação e descongelação do sêmen. Se possível, deve-se usar um endoscópio para depositar o sêmen diretamente na entrada da trompa uterina, para aumentar a taxa de fertilidade.

Há ainda a Transferência de Embriões, quando a fertilização é feita in vitro, no laboratório e quando estiver confirmada a fecundação o embrião é transferido para uma égua (barriga de aluguel), esse método é o mais caro e pode gerar diversos irmãos próprios em diferentes localidades.

GESTAÇÃO E PARTO

Uma vez que a cobertura foi realizada ou a égua inseminada é hora de prestar atenção à gestação. 4 horas após a cobertura, o espermatozóide já está no caminho para a fecundação, e fica nas trompas até o 6º dia, quando desce para o útero novamente.
O diagnóstico da gestação pode ser feito aos 14 dias com o ultrassom e 19 dias pela palpação retal. As éguas gestantes devem ser separadas das demais, e o exame de controle por ultrassom deve ser feito mensalmente, já que o maior risco de reabsorção fetal vai até os 90 dias.
A duração de gestação de uma égua é de 330-345 dias, podendo chegar a 12 meses quando coberta por um asinino/muar. Próximo ao parto, a égua deve ser vigiada, colocada em uma baia maternidade (mais ampla), com cama limpa e mais macia. A égua demonstra alguns sinais antes de parir, a veia mamária fica intumescida ao longo do abdome, ela fica inquieta e as mamas ficam cheias de leite/colostro alguns dias antes do parto.
A maior parte dos partos ocorre à noite e, em geral, sem muitos problemas. Mesmo assim deve ser observado, e se houver qualquer dificuldade, talvez seja necessário ajudar o animal. Lembrando que éguas de primeira cria requerem atenção especial nessa hora.
Nascendo o potro, ele tem mais ou menos meia hora para ficar em pé e começar a mamar, já que o colostro é responsável por passar toda a imunidade a ele e pela absorção de bactérias indispensáveis à sua capacidade futura de digerir capim/celulose.

NUTRIÇÃO X REPRODUÇÃO

A “superalimentação” é muito comum na gestação, assim como a suplementação, muitas vezes desnecessária, já que a maior exigência nutricional da égua se dá apenas no terço final da gestação. O que sempre se esquece é que o período de maior exigência é durante a lactação. Por mais estranho que pareça, nota-se que quanto mais gorda está a égua no final da gestação, maior a perda de peso no início da lactação.
A deficiência nutricional é até menos comum nas propriedades onde se cria cavalos, mas é importante citar os problemas que pode acarretar: irregularidade no cio, cio não fértil, abortos, nascimento de potros fracos ou prematuros.
Mas o erro mais comum cometido com animais em reprodução, ainda é o excesso da proteína fornecida. Isso predispõe a um desequilíbrio hormonal, podendo reduzir os índices de fertilidade. Nas éguas gestantes, pode induzir à mortalidade embrionária.
No início da gestação, a égua pode ser alimentada com ração de animais em manutenção, com 9% de proteína LÍQUIDA*. No terço final da gestação é que esse nível deve subir para 12% de proteína LÍQUIDA*.
A mesma coisa acontece com o garanhão, já que níveis altos de proteína podem aumentar os níveis de substâncias tóxicas, aumentando o risco de alterar a qualidade dos espermatozóides. Nos garanhões em estação de monta, os níveis de proteína LÍQUIDA devem ficar entre 12 e 13 %*.
(*) Os rótulos das rações costumam indicar os níveis de Proteína BRUTA
Por isso que antes de administrar qualquer suplemento para seu cavalo usado na reprodução é essencial o auxílio de um veterinário. Há, sim, suplementos indicados durante esse período, mas nunca os ofereça por conta própria.

Artigo apoiado em texto-base da Dra. Maria Rita Fagundes

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