Depois de vinte anos, o Horsemanship começa a ser empregado mais amplamente, e aí como o brasileiro é muito ligeiro, começamos a ver de tudo um pouco, desde a aplicação do termo sem uma compreensão mais profunda do que isso significa, vemos pessoas da lida tradicional incluirem a expressão “horsemanship” ao lado de suas marcas e vemos mesmo pessoas já vividas reduzirem todo o conceito e a filosofia a uma simples expressão.
Então, como contribuição e sem pretensão, aqui me proponho a jogar alguma luz na questão. Abrir mesmo um debate construtivo, pelo bem do Cavalo e das pessoas bem intencionadas.
A relação entre Homem e Cavalo alcançou novos patamares a partir da ação de verdadeiros cowboys, do século XX, capazes de tocar a alma do Cavalo, mais focados em construir um ambiente de confiança, duradouro e focado no resultado do trabalho, ou seja, na formação de bons Cavalos.
Dentre estes mestres situamos os irmãos Tom e Bill Dorrance, que lidaram com cavalos toda sua vida, dos 5 aos 80 anos, o Ray Hunt que começou como discípulo deles, e Buck Brannaman entre outros, no Brasil, o nosso Eduardo Borba. Aqui, tomei a liberdade entre um pensamento e outro de inserir uma nota explicativa, fruto das nossas observações do dia-a-dia, mais como complemento e esclarecimento do que como pretensão pessoal.
Eles resgataram a expressão “Horse–man-relationship”
Por quê resgataram? Porque a primeira obra com referencia a essa expressão, data de 2500 A.C. , o livro do general grego Xenofontes, chamava-se “A arte do Horsemanship”, um manual para os soldados estabelecerem um relação de respeito e confiança com seus cavalos, parceiros, dos quais dependiam suas vidas.
Como em todas as áreas do conhecimento humano, os valores da Antiguidade Clássica foram apagados pelo atraso da Idade Média. Quase mil anos de ignorância e obscurantismo deram margem a uma relação de brutal violência entre os homens e os cavalos.
Então os velhos mestres resgataram um conceito fundamental, “coloque a sua alma no lugar da alma do cavalo”, veja o mundo como eles vêem, ajude-os a encontrar alívio e conforto, a sentirem-se seguros quando ao nosso lado, chega de tentar fazê-los obedecer pela força e brutalidade dos ignorantes que não conhecem a Natureza do Cavalo. Chega de tentar usá-los como fator de espetáculo circense sem nenhuma relação com a Boa equitação.
Na expressão Horsemanship, a palavra cavalo, em inglês, vem na frente e isso NÃO É POR ACASO. Então não existe bom ou mau Horsemanship, isso na opinião dos reduzem a expressão a uma tradução ao pé da letra. Horsemanship significa estabelecer uma relação do ponto de vista deles, o cavalo, suas necessidades, medos, insegurança, em primeiro lugar, na frente.
Existe o verdadeiro horsemanship antes e depois dos Mestres. Muitos dos nomes em evidência hoje, chegaram mesmo a ser alunos desses Mestres, mas que hoje tem se entregue à pressão da grande mídia, à vaidade e ao capricho do Ego, e especializaram-se em uma habilidade, valorizando um “reconhecimento pessoal” que a TV ou as revistas oferecem.
Enquanto eles buscavam muito mais a resposta certa dos mais de 10 mil potros que iniciaram, ou a recuperação de um Cavalo traumatizado, como o trabalho de Buck que verdadeiramente inspirou o livro e o filme “O Encantador de Cavalos”.
A reprodução do ensinamento generoso dos grandes mestres do Horsemanship, é um tributo ao que eles fizeram pelo Cavalo, lamentando ao mesmo tempo o quanto é triste a falta de referencia histórica das TVs, dos programas que hoje fazem um verdadeiro “auê” em torno de pessoas que vivem sim do Cavalo, mas não para o Cavalo. Não vamos confundir mais os espetáculos de marketing e os aplausos para showmens que reduzem o cavalo à condição do espetáculo cheio de mistificação, de selecionarem cavalos calmos um dia antes dos seus shows, sem relação com Horsemanship
Um bom Horseman deve ter coragem de Leão, Paciencia de Homem Santo e mãos de Pianista
O cavaleiro ideal “tem a coragem de um leão, a paciência de um Santo e nas mãos de uma firme sutileza no toque.”
Por que um leão? Porque ele vai atacar um animal muito maior, sem hesitação, e nós humanos até agora somos superados em muitas notas (10 x 1), pelos cavalos.
A paciência de Homem Santo é auto-explicativo, porque qualquer um que tem sido em torno de cavalos sabe deve tê-lo ou você não conseguirá nada. E quantas vezes vemos tratadores e treinadores sem conhecimento efetivo da Natureza do Cavalo os espancarem, castigarem com violencia … gritando ô cavalo isso e aquilo, como tem coragem de me desobedecer?
“Quando um Cavalo não compreende o que esperamos dele, isso ocorre por três razões:
- não lhe foi ensinado antes
- não teve o tempo de resposta respeitado
- ou está confuso e não compreendeu o pedido.
Quando uma dessas três coisas acontece você vê isso refletido na sua expressão e na aparência do seu corpo pedindo ajuda”, ensina Eduardo Borba (DOMA).
E as mãos de pianista? Bem, em sociedades primitivas, diz Dr. Miller, os homens faziam a maior parte da caça e a defesa do grupo, e isto é simbolizado por um punho fechado, que é visto como masculino.
O uso dos dedos, por outro lado, é tido como “sutileza”. E se queremos leveza e boa comunicação com o nosso cavalo sob a sela, diz o Prof. Miller, precisamos aprender a usar os dedos, em vez segurar as rédeas com um punho fechado, cheio de força equivocada.
Vale a pena ler, pensar, refletir, comparar com sua prática ao lado dos cavalos e tentar captar as mensagens essenciais que estão entre as linhas do pensamento destes Mestres.
Vamos lá, boa leitura e reflexão.
“ A sensibilidade nos dá o tempo e o tempo nos dá o Equilíbrio” Ray Hunt
“Não é o cavaleiro que tem um cavalo com problema, mas o Cavalo que tem um cavaleiro com problema” Mary Tweelveponies
“Temos que aprender a sentir o que ele sente” Ray Hunt
“Pensar, sentir e reagir como o Cavalo, é muito mais do que olhar racionalmente com seu ponto de vista. O sentir o que o Cavalo sente quer dizer, colocar-se de fato e por inteiro no lugar do cavalo”. José Luiz Jorge (RSM)
“Responsabilidade Mútua é fundamental para a verdadeira integração Homem-Cavalo. Você pede o Cavalo responde, Voce alivia. É assim que ele aprende. Na verdade, o que ensina é o alívio da pressão. Essa a linguagem natural deles”. Eduardo Borba (DOMA)
“Seu Cavalo não será cuidadoso e preciso se você não for cuidadoso e preciso”. Ray Hunt
“ Aprenda a pensar do ponto de vista do Cavalo, para poder compreender sua linguagem. Nunca perca o controle de si mesmo”. Ray Hunt
“ Quando o processo é o aprendizado, e não um processo que causa apreensão e desconfiança, onde o medo seja a tônica, os resultados não demoram a aparecer”. Tom Dorrance
“ O cavalo primeiro tem de desenvolver a confiança no ambiente, depois, nele mesmo e só depois no seu cavaleiro”. Tom Dorrance
“O cavalo é espelho do cavaleiro”. Dito popular
“ Aquilo que você não tolera ver no comportamento do seu Cavalo é o que você não gosta em si mesmo”. Mude e ele muda. No trabalho com potros e cavalos não existe pressa e nem respostas instantâneas” José Luiz Jorge (RSM)
“ Muitas vezes, ir devagar é o jeito mais rápido de se chegar lá”. Tom Dorrance
“Não tenha medo de expor seu Cavalo a coisas que ele nunca viu antes, mas …. tome cuidado para não sobrecarrega-lo. Nunca porém, o exponha a situações nas quais ele pode perder a confiança que acabou de adquirir”, Tom Dorrance
“ Faça com que as coisas erradas fiquem difíceis e as certas, fáceis”. Ray Hunt
“Não se esqueça que existe um propósito e um significado atrás de cada coisa que você pede para seu cavalo fazer”. Ray Hunt
“ Todas as solicitações, além de claras e no tempo correto, devem ter sentido na mente do Cavalo, lembre-se de que ele é seu parceiro de trabalho e deve ser respeitado assim, e não um escravo a fazer até mesmo coisas sem sentido, só porque você mandou”. José Luiz Jorge (RSM)
“ Se você quer ensinar algo ao seu Cavalo e ter um relacionamento com ele, você não FAZ ele aprender, você PERMITE que ele aprenda, você é o responsável para criar situações onde ele possa aprender”. Ray Hunt
“ Se você controla seus pés, você controla a mente do seu cavalo”. Ray Hunt
“ Observe, relembre, compare”. Ray Hunt
“ Existe diferença entre ser firme e ser áspero ou rude. Você pode ser firme, mas não seja áspero”. Ray Hunt
“ A pior coisa, dentre vários comportamentos inadequados ao cavaleiro, é agredir o Cavalo. Isso só confirmará seus medos e a certeza de que aquele treinador não merece a confiança dele, o resultado é que essa pessoa não irá liderá-lo. A resposta por medo e submissão não é duradoura e nem se sustenta diante de outras pessoas que não o aterrorizarão, como o mau treinador fazia”. José Luiz Jorge (RSM)
“ Admire seu Cavalo pelas coisas boas que ele faz. Ignore as erradas. Você logo vai perceber que as boas ficam cada vez melhor e as ruins, cada vez menores” Ray Hunt
“Monte a Cavalo com o corpo todo e a mente integrada, e não apenas com mãos e pernas” Ray Hunt
“Experimente dar a direção ao Cavalo, tanto no trabalho de chão, como no trabalho montado, com o foco do seu olhar. Para onde você olhar, você dará a direção, ele capta essa integração mente-corpo com muita sutileza e suas pernas apenas ajudarão suavemente a confirmar a sua escolha”. José Luiz Jorge (RSM)
“ O Cavaleiro deve estar sempre vivo e alerta, sem estar tenso e endurecido”. Ray Hunt
“ Diga sempre ao seu Cavalo: Você vai conseguir fazer isso, prepare-o antes de solicitar, isso é muito melhor do que dizer – você tem que fazer”. Ray Hunt
“ Perceba a menor mudança, a menor tentativa do seu cavalo na direção do que você está solicitando e reforce-o positivamente”. Ray Hunt
“ São as pequenas coisas, os detalhes que fazem a diferença. Quando ocorrer qualquer coisa fora do esperado, volte mentalmente a fita e lembre-se do que aconteceu imediatamente antes daquele acontecimento indesejado”. Ray Hunt
“ Algumas vezes, quando termino um trabalho e o Cavalo está mais quente e suado do que o normal, gosto de ficar com ele, ajudando-o a compreender que tudo aquilo é um assunto que vamos ter de conviver, e gosto de deixar ele explorar um pouco mais o que ocorreu”. Tom Dorrance
“Existem muitas coisas que, acidentalmente, podem acontecer ao seu cavalo, mas, se ele for dócil e confiar em você como amigo, ele vai permitir que você o ajude a sair daquela encrenca, em vez de perceber você como a causa daquela encrenca”. Buck Brannaman